quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O problema do endividamento e os efeitos da desvalorização do real sobre a inflação


 José Álvaro de Lima Cardoso
     Com a piora da crise internacional e a desaceleração do crescimento no Brasil, voltam as preocupações acerca da inadimplência das pessoas físicas, especialmente se o mercado parar de gerar empregos e houver queda da renda. De fato, o último dado divulgado pelo Banco Central sobre a taxa de inadimplência das pessoas físicas e das empresas atingiu, em julho, 5,2%, permanecendo no patamar mais elevado desde fevereiro de 2010, quando estava em 5,3% (operações com atrasos superiores a 90 dias). O comprometimento da renda das famílias com dívidas no sistema financeiro nacional estava em 21,1% em julho, percentual bastante superior a 2005, quando o indicador estava em 16%. No entanto, ainda que estes indicadores, indiscutivelmente, devam ser objeto de grande e permanente atenção, tais níveis de inadimplência e comprometimento da renda com dívidas, são ainda confortáveis. Ademais, as próprias notícias sobre a crise, bombardeadas diariamente na mídia, tendem a tornar as pessoas um pouco mais cautelosas em relação à contração de dívidas. 
      O debate sobre endividamento das famílias está diretamente relacionado com o comportamento da inflação, que continua na ordem do dia, pelos possíveis efeitos da brusca desvalorização do real em setembro, da ordem de 16,83%, no aumento de preços. O melhor para a economia seria que a taxa de câmbio se estabilizasse em um patamar mais elevado ao longo dos próximos dias, o que evitaria maiores efeitos sobre a inflação e resolveria em parte o problema da sobrevalorização cambial, melhorando a competitividade da indústria doméstica. Em boa parte o fenômeno da valorização do real está relacionado à aversão ao risco dos investidores em face do agravamento da crise na Europa, que fogem em massa para o dólar e títulos do tesouro americano. Mas há outras razões. A redução dos juros em agosto também tornou menos atrativas as operações com a moeda brasileira, especialmente em um cenário de elevação do risco na economia mundial. Para evitar uma maior desvalorização do real o Banco Central vem vendendo bilhões de dólares no mercado futuro. De qualquer forma, os efeitos da desvalorização cambial recente sobre a inflação é uma questão em aberto, com desdobramentos ainda indefinidos. Tudo irá depender do tempo que vai durar a instabilidade e em que nível a taxa de câmbio vai se estabilizar. No entanto, há fortes indicações que a depreciação do real não será nem de longe parecida com aquela ocorrida em 2008/2009,  quando a cotação do dólar frente ao real saiu de um patamar de R$ 1,60 para R$ 2,50.
                                                      *Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.

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