quinta-feira, 20 de outubro de 2011

BC repete corte de juro por causa da crise global e nega vazamentos


Pela segunda vez no governo Dilma, Comitê de Política Monetária reduz juro em meio ponto. Taxa valerá 11,5% até 30 de novembro. Economia global em baixa motiva decisão do Banco Central, que vê pouca chance de inflação subir. Na véspera, manifesto cobrara corte. Sob suspeita de vazar informação, BC diz não ser possível 'conhecimento prévio' de decisões.

BRASÍLIA – Pressionado por sindicalistas, intelectuais e empresários e de olho da crise econômica global, o Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (19) cortar o juro pela segunda vez seguida no governo Dilma. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC fixou a maior taxa do planeta em 11,5%, redução de meio ponto percentual, na medida do que esperava o “mercado”.

Em comunicado depois da reunião, o Copom justifica-se com a crise internacional. Como o BC e o ministério da Fazenda dizem há meses, o governo acredita que a crise fará a economia mundial desacelerar, esfriando também a atividade no Brasil, e isso diminui a chance de a inflação subir – o empresariado não teria como aumentar muito os preços, havendo poucos compradores na praça.

“O Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, um ajuste moderado no nível da taxa básica é consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012”, afirma a nota.

O corte do juro tinha sido defendido em manifesto lançado nesta terça (18), em São Paulo, por economistas, intelectuais e entidades como Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O documento procurava dar respaldo político ao plano do governo de enfrentar a crise com juro menor. Ao mesmo tempo, pressionava o BC.

Apesar de o “mercado” esperar a queda da Selic – e no tamanho decidido pelo BC -, uma parte do setor discorda da análise do governo de que a economia global dará trégua à inflação no Brasil.

Nesta quarta-feira (19), o BC também fora pressionado a cortar os juros por um grupo de estudantes que protestou em frente da sede da instituição.

Em notas oficias, Fiesp e Confederação Nacional da Indústria (CNI) apoiaram a redução do juro, enquanto a Força Sindical reclamou de que foi pequena. “O Copom acertou no remédio, mas errou na dose. Infelizmente, os membros do Banco Central se transformaram em fiéis escudeiros dos especuladores”, diz a central.

Para a CNI, o Copom “acertou” pois a crise global "já começa a provocar uma desaceleração da economia brasileira e terminará por se refletir no cenário inflacionário, não se justificando a manutenção de uma política monetária restritiva”. A Fiesp espera “que, nas próximas reuniões do Copom, a autoridade monetária acentue o movimento de redução dos juros".

Decisão não vaza
No primeiro dos dois dias de reunião do Copom, nesta terça (18), o BC havia negado a possibilidade de suas decisões vazarem antecipadamente para alguém. Foi uma resposta a dúvidas surgidas com a descoberta, semana passada, de que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) investiga operações atípicas feitas pelo “mercado” às vespéras do Copom anterior (agosto).

A CVM quer saber se as negociações atípicas foram feitas por pessoas que, de alguma forma, sabiam de antemão o que faria o BC (baixou o juro também em meio ponto).

"A taxa Selic somente é discutida em reunião reservada no segundo dia e fixada por maioria de votos dos membros do Copom, colegiado composto pelo presidente e pelos diretores do Banco Central. A decisão é imediatamente informada a toda a sociedade”, diz a nota. "Assim, não é possível o conhecimento prévio da decisão.”

A próxima reunião do Copom, a última de 2012, será nos dias 29 e 30 de novembro.

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