quarta-feira, 13 de julho de 2011

Europa:epicentro da crise mundial

José Álvaro de Lima Cardoso*
     O epicentro da crise econômica mundial neste momento é a Zona do Euro, especialmente na Grécia, Irlanda e Portugal. Socorrida, em maio de 2010 por um pacote de ajuda da União Européia (UE) e do FMI, de 110 bilhões de euros em três anos, a Grécia novamente está no olho do furacão. Continua com a maior dívida pública em relação ao PIB da zona do euro, de 139,3% do PIB (€ 330 bilhões). O déficit público é de 5,3% do PIB. A previsão é que o PIB grego recue 3,8% neste ano. Por conta dessa crise, os países da UE aprovaram, no final de junho, um novo pacote de assistência financeira ao país, de valor semelhante ao de 2010, mas condicionado a um novo conjunto de medidas de austeridade fiscal, ainda mais duro que o negociado no ano passado. O plano foi aprovado no parlamento grego no final de junho, em meio a violentos protestos dos trabalhadores. Dentre as medidas aprovadas estão corte de gastos públicos, aumento de impostos, venda de empresas estatais, demissão de funcionários públicos e redução de seus salários. Apesar da aprovação do plano no parlamento grego, não há garantias que o país consiga cumprir o apertado calendário para a implementação das medidas impostas pela UE e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
     Uma moratória da economia grega, além do risco de contágio nos demais países da Europa, afetando as economias de Espanha e Itália, por exemplo, atingiria os bancos alemães e franceses e, indiretamente, também os bancos e seguradoras dos EUA, porque estes fornecem garantias aos investimentos dos bancos europeus. A possibilidade, aventada por alguns analistas, de deixar os países em dificuldade resolver os seus próprios problemas, além de levar a um possível efeito dominó na economia mundial, representaria, na prática, um desgaste muito grande para a zona do euro, visto que uma união monetária comum supõe, no mínimo, certo grau de organização e ajuda mútua entre os países sócios.
     A reação popular aos planos de austeridade econômica tem sido cada vez mais forte nos países mais atingidos pela crise, mas vem ocorrendo na Europa como um todo. Há uma indignação muito grande da sociedade, especialmente dos jovens, em função da percepção de que os planos vêm privilegiando o setor financeiro, prontamente socorrido com recursos públicos, e reservam sempre o lado amargo do remédio para os trabalhadores. Uma série de países europeus reduziu os salários dos funcionários públicos, como Espanha (5%), Portugal (10%, para quem ganha acima de € 1.500), Irlanda (13%), Grécia (2%), Romênia (25%), Letônia (50%) e até a Alemanha (2,5%).
     Além da redução de salários e do seu congelamento em termos nominais, vários países estão demitindo funcionários públicos. O governo do Reino Unido anunciou planos de cortar 490 mil empregos, Polônia e Bulgária já demitiram 10% do quadro e a Romênia anunciou que irá demitir 10% do total do funcionalismo. O aumento das taxas de desemprego, e o corte dos benefícios aos desempregados, feitos em vários países, têm levado à organização do movimento dos “indignados”, constituído geralmente por jovens desempregados, ou em trabalhos precários, que se espalham por vários países, especialmente na Espanha, França e Grécia.
*Economista e supervisor técnico do DIEESE em SC.

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