*José Álvaro de Lima Cardoso
Recentemente o Escritório Regional do
DIEESE em Santa Catarina realizou uma pesquisa, muito simples, com o objetivo de
obter insumos para um seminário sobre sindicalização que realizou em
fevereiro/20. Indagados sobre “quais as principais dificuldades para desenvolver
o trabalho de sindicalização”, os dirigentes e assessores sindicais deram as
seguintes respostas:
1.Prevalece
na sociedade a hegemonia de ideias como: valorização do individualismo,
competição, culto à meritocracia, ambição sem limites;
2.Por
outro lado, há uma desqualificação de ideias como: solidariedade, cooperação,
união, luta coletiva e inclusão;
3.Há
uma grande desqualificação dos sindicatos, construída sistematicamente pela
mídia e pelos patrões;
4.Trabalhadores
em geral têm dificuldades em enxergar a importância que tem o sindicato;
5.Trabalhadores
em geral acham que resolvem seus problemas individualmente, sem a ajuda do
sindicato ou outras formas de organização coletiva;
6.Há
dificuldades (de várias ordens) dos dirigentes estarem na base e conversar com
o trabalhador;
7.Textos
e outros materiais divulgados pelo sindicato não são lidos pela maioria dos
trabalhadores;
8.A
elevadíssima rotatividade do trabalho no país atrapalha muito a sindicalização
(filia hoje, e o trabalhador é demitido amanhã)
9.Trabalhador
não quer nem parar para ouvir os argumentos dos sindicalistas,
independentemente do assunto;
10.A vida
duríssima do trabalhador, somado a baixos salários, dificulta que ele pare para
refletir sobre questões de importância vital;
11.Trabalhador
não pode conversar no horário de expediente (seja pelo ritmo de trabalho, seja
porque é proibido);
12.Trabalhador
quer vantagens de caráter assistencialista, as quais o sindicato não consegue
oferecer, por limitações financeiras;
13.Há
por parte de uma parcela de trabalhadores o entendimento de que sindicato é
lugar de gente folgada que recebe para não fazer nada;
14.Há
um elevado número de jovens na categoria, que desconhece a história das
conquistas dos direitos. Ou seja, pensa que direitos “caíram do céu”, ao invés
de serem frutos de décadas de muita luta;
15.Há
grandes dificuldades em explicar a importância do Sindicato e da Convenção Coletiva
do Trabalho (CCT) para o trabalhador, em função de variada gama de dificuldades
(trabalhador não tem paciência de ouvir, sindicalista tem limitações de
convencimento, etc.);
16.Mobilização
de baixa intensidade entre os trabalhadores dificulta trabalho de
sindicalização;
17.Há
por parte dos dirigentes, muitas vezes, um conhecimento superficial, ou
insuficiente, da realidade dos trabalhadores de sua base;
18.Dirigentes
sindicais, normalmente, não são preparados (“treinados”) para o trabalho de
sindicalização;
19.Há
uma subutilização das ferramentas e canais institucionais de relação e de comunicação
com os trabalhadores de uma forma geral (inclusive com os sócios do sindicato);
20.Baixa
capacidade de gestão impede realizar campanha de sindicalização, que exige
governança de qualidade;
21.
Baixa capacidade de gestão, por sua vez, está relacionada a uma série de
problemas (falta de pessoal, falta de preparação, falta de $$$, falta de
priorização, etc.).
Apesar das colossais dificuldades, o fato
incontestável é que no processo de reconstrução do Brasil, que precisará ser
realizado nos próximos anos, as organizações sindicais (que sobreviverem) serão
ainda mais fundamentais. Não conseguiremos enfrentar este turbilhão de desafios
de forma isolada, pois desemprego, fome, falta de perspectivas, não podem ser
vencidos de forma individual. Esses problemas só conseguirão ser combatidos de
forma eficaz através da organização coletiva, principalmente a sindical, que
atua na esfera econômica, que é a fundamental. O isolamento e a fragmentação da
luta só interessam aos inimigos da classe trabalhadora (que, com o golpe, saíram
do armário, mais autoconfiantes que nunca).
É verdade que raramente houve esforços
sistemáticos, por parte da maioria das entidades sindicais, para mostrar que as
conquistas obtidas pelos trabalhadores ao longo da história são fruto de
sangue, suor e lágrimas. Se não se procura mostrar didaticamente aos
beneficiários, que as conquistas são fruto de processos políticos específicos,
as pessoas não têm como saber e não valorizam os direitos conquistados. É como
se estes estivessem escritos em pedra nas santas escrituras. Isso é muito grave,
se considerarmos o fato de que a comunicação no Brasil é dominada por um
sistema oligopolista de mídia, conservador, antissindical, e, inclusive,
extremamente subserviente aos interesses externos. Não podemos depender da
imprensa de quem nos explora e oprime.
Quem conhece minimamente a história, sabe
que, sem organização dos trabalhadores através de sindicatos, não haveria
regulamentação da jornada de trabalho, salário mínimo, seguro desemprego,
sistema público de saúde, previdência e demais conquistas sociais. Tudo isso
foi obtido à duríssimas penas ao longo da história mundial do trabalho. Os que
perpetraram o golpe entendem isso perfeitamente, razão pela qual estão bombardeando
ações, desde 2016, que visam destruir as entidades sindicais. Podem analisar
com o auxílio de uma lupa: 100% das centenas de medidas são em defesa do
Capital, eles não procuram nem disfarçar.
A organização sindical é a melhor
ferramenta dos trabalhadores brasileiros contra o fascismo, contra o processo
de pilhagem do pais, contra a destruição dos direitos trabalhistas e a educação
pública. É a melhor ferramenta também contra a entrega das reservas de
petróleo, o massacre da população pobre, dos índios e quilombolas, dos negros.
Nesse momento, a organização e a luta são as melhores ferramentas também contra
a destruição do Brasil enquanto nação soberana, que, no fundo, é o que está em
jogo.
*Economista.
13.07.2021
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