terça-feira, 20 de novembro de 2018

Uma derrota que vale um século de lutas dos brasileiros


                                                                                    
     *José Álvaro de Lima Cardoso  
     Há um grande um esforço para dissociar o processo que estamos vivendo no Brasil, da situação internacional. Mas o que está acontecendo no país, está dentro no contexto do que ocorre na América Latina e no mundo. A questão fundamental da conjuntura, o ponto central da crise econômica e política no Brasil, se encontra fora da fotografia: a inédita crise mundial do capitalismo. É uma crise muito severa, que vem se arrastando e não tem final previsto. É fundamental entender esse fenômeno para perceber a sanha privatista do governo que assumirá em janeiro de 2019: de forma servil, precisam dar sua quota de contribuição para aliviar a crise para os grandes grupos capitalistas internacionais.
     Não é por outra razão que o economista Paulo Guedes, que comandará a área econômica, tem afirmado que, se depender dele, privatizará todas as estatais rapidamente. Não conseguirão “privatizar tudo”, é certo. Uma privatização nos moldes que o ultraliberal Guedes deseja aguçaria muito as contradições entre o próprio bloco golpista. Porém a tendência é de uma privatização muito forte, com efeitos sinistros para o país e sua população, como foi a primeira grande onda privatista, no governo FHC, que ficou conhecida como “privataria”. Falam em vender o maior banco brasileiro, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, e tudo que possa significar lucros para o grande capital internacional. Privatizar a preço de banana é do jogo do golpe. Temer não deu conta dessa tarefa, e que é uma das mais importantes, até pelo tempo que esteve no poder.  
     Como até as pedras já previam estão falando em privatizar “partes” da Petrobrás. Quem já não sabia disso, se a Petrobrás foi o principal motivador econômico do golpe de 2016, e que está em curso? Só um golpe de Estado explica que queiram vender áreas como distribuição e refino da Petrobrás, que gera caixa garantido para a empresa e que são estratégicas para o desenvolvimento do país. Estão caminhando para o que já sabíamos que era o objetivo: transformar o Brasil, em definitivo, num vendedor de óleo cru, para os países ricos, especialmente EUA. O economista Roberto Castello Branco foi confirmado para presidir a Petrobras, não por foi acaso: faz parte do time de “Chicago boys” que comporá o novo governo e é um defensor ardoroso da venda da Petrobrás. Irão colocar na direção da mais importante empresa do país, um privatista e entreguista assumido.
     O discurso de que irão privatizar “partes” da Petrobrás é um disfarce para a privatização total, que será encaminhada se não houver reação da sociedade brasileira. O que irão tentar colocar em prática, de preferência muito rapidamente, é uma outra concepção da relação Estado/Sociedade, na qual o que restou de “Estado do bem-estar social”, será desmontado. Por exemplo, tudo indica que o ensino público, em todos os níveis, corre sério risco, com as universidades sendo os prováveis alvos iniciais. Tanto no caso da Educação, quanto na privatização das estatais, visam, além de fazer caixa para o governo que assume, principalmente abrir espaços de negócios para o setor privado, especialmente o internacional, procurando aliviar para o capital os impactos da crise.
     Quando se trata de entrega de patrimônio público estratégico, não se recomenda o uso de meias palavras. A indicação de um entreguista conhecido para assumir a presidência da Petrobras revela as intenções relativas ao destino da empresa, assim como mostra quais interesses comandam o desenvolvimento do golpe em curso. A privatização da Petrobras representaria uma das mais importantes conquistas do perigoso golpe de Estado que colocaram em marcha no Brasil, visando se apropriar de riquezas naturais e das estatais, incluindo a chamada “nação amiga” Petrobrás. Se conseguirem entregar a empresa para os oligopólios internacionais do Petróleo (são obcecados com isso), os brasileiros verdadeiramente patriotas sofreremos uma derrota que azedará nossas lembranças por muitas décadas.
                                                                                               *Economista.

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