terça-feira, 27 de novembro de 2018

Pré-sal: novo ciclo de tipo colonial?

O petróleo do pré-sal foi descoberto há doze anos e já produz mais de 1,5 milhões de barris equivalente por dia.
No Mar do Norte foram necessários 50 anos para alcançar o mesmo patamar de produção.
Um sucesso, diante das declarações de que o pré-sal só existia na cabeça dos políticos, de que era inviável de ser produzido com as tecnologias da Petrobras, de que era necessário capital e tecnologia estrangeiros ou de que os custos seriam inviáveis.
Os entreguistas perderam todos os argumentos, hoje apelam e dizem que o petróleo é um mico, recurso sem valor que precisa ser entregue às multinacionais estrangeiras e produzido a toque de caixa enquanto tem algum valor.
Ou então “apontam os carrapatos para justificar a entrega da vaca”. Dizem que a solução para a corrupção que vitimou a Petrobras só pode ser enfrentada com sua privatização.
Entregam a galinha dos ovos de ouro ao invés de guardar o valor gerado pela estatal dos corruptos e corruptores.
Querem entregar o meio de produção de toda a riqueza para evitar que uma fração possa ser roubada por empresários cartelizados corruptores, políticos traficantes de interesses e executivos de aluguel.
Com tudo entregue não há o que guardar.
Nenhum país se desenvolveu exportando petróleo por multinacionais estrangeiras.
Nenhum país, populoso e continental coo o Brasil se desenvolveu exportando matérias primas.
O petróleo é uma mercadoria especial, na medida em que não tem substitutos em equivalente qualidade e quantidade.
Sua elevada densidade energética e a riqueza de sua composição, em orgânicos dificilmente encontrados na natureza, conferem vantagem econômica e militar àqueles que o possuem.
A sociedade que conhecemos, sua complexidade, sua organização espacial concentrada, sua produtividade industrial e agrícola, o tamanho da superestrutura financeira em relação as esferas industrial e comercial, foi erguida e depende do petróleo.
O carvão e o petróleo, ao contrário das energias potencial e cinética dos cursos naturais de água, são fontes geograficamente móveis de energia.
Essa característica permite a concentração geográfica da força produtiva da sociedade em espaços centrais, urbanos de produção.
O petróleo e seus derivados são extremamente concentrados em termos de energia, além de flexíveis para uso.
A energia solar é abundante mas tem densidade energética mínima, o que resulta em menor capacidade relativa de realização de trabalho.
O petróleo tem muito maior potencial para aumentar a produtividade e a eficiência do trabalho humano.
Transporte, eletricidade, comunicações (internet, celulares), aquecimento, indústria, extração mineral, agricultura, processamento e distribuição de alimentos, pesticidas, fertilizantes, plásticos, infraestrutura e força militar dependem do petróleo.
São fatores estratégicos ao desenvolvimento, à segurança energética e alimentar.
São elementos essenciais da soberania nacional.
Existe forte correlação entre o crescimento econômico e o consumo de energia.
Também existe correlação entre o desenvolvimento humano (IDH) e o consumo de energia primária per capta.
Para alcançar alto desenvolvimento humano, o Brasil precisa aumentar muito o consumo de energia. E
stimo necessário o aumento de cinco vezes no consumo de energia primária nacional para que nossa população atinja padrões de vida de primeiro mundo.
Para que o Brasil se desenvolva é necessário produzir o petróleo do pré-sal na medida da nossa necessidade.
Deve-se agregar valor ao petróleo cru com sua transformação em mercadorias úteis, por meio do refino, da petroquímica, da química fina, da indústria de fármacos e de fertilizantes.
Não devemos embarcar em novo ciclo do tipo colonial e permitir a exportação do petróleo cru, muito menos por multinacionais que esgotaram suas reservas e cobiçam nossos recursos para resultados privados de curto prazo, e possivelmente predatórios.
Ainda sofremos as consequências de nossa herança colonial e escravocrata.
A classe dominante no Brasil é acostumada a viver em subserviência aos interesses estrangeiros.
A cultura desta fração da sociedade é mimética, se copiam valores e visões de mundo que vêm de fora.
Na indústria do petróleo, na qual o consenso é lugar comum, as consequências podem ser ainda mais deletérias.
No entanto, somos herdeiros da maior mobilização popular contemporânea, a campanha “O Petróleo é Nosso”.
Está no DNA da Petrobras, a maioria da população garantiu a criação da estatal, as descobertas de petróleo no Brasil e nosso amadurecimento industrial.
Ainda hoje, se temos a Petrobras e o pré-sal é porque a maioria da população defende e reconhece valor na companhia.
Precisamos interromper este novo ciclo do tipo colonial de exportação de matérias primas por corporações estrangeiras.
É necessário revogar a privatização do petróleo brasileiro e dos ativos da Petrobras às multinacionais estrangeiras.
* Felipe Coutinho é engenheiro químico e presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)

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