A decisão da senadora gaúcha Ana Amélia Lemos, do Partido Progressista, de ser vice de Geraldo Alckmin é mais uma injeção de sangue novo em uma candidatura que, há pouco mais de um mês, soava quase como piada. E é o segundo movimento estratégico do tucano na luta para conter a sangria de votos da direita mais raivosa, que abandona as hostes tucanas em revoada rumo ao meme ambulante Jair Bolsonaro (PSL).
Depois de ganhar fôlego e tempo de rádio e TV ao fechar acordo com o centrão (que namorou com Bolsonaro, mas aceitou as alianças de Alckmin na hora do noivado), a cúpula tucana entendeu que precisava reduzir o apelo eleitoral do caricato adversário no sul do país, território mais reacionário do que nunca – já que o nordeste, amplamente favorável ao ex-presidente Lula, tende a ser um deserto de votos para o ex-governador de São Paulo.
Ana Amélia Lemos atende essa demanda à perfeição. Rainha da tradicional família gaúcha desde os tempos em que comentava política na afiliada local da Rede Globo, a RBS, a senadora tem se esforçado de uns tempos para cá para conquistar o coração do gaúcho que odeia a esquerda e acha Bolsonaro uma boa ideia – tudo isso sem jamais apoiar abertamente a aberração bolsonarista, bem pelo contrário. Também adota o discurso fácil de combate à corrupção, mesmo que tenha sido acusada de, nos anos 1980, ganhar uma boa grana com um cargo em comissão que jamais exerceu – e no gabinete do marido, o senador biônico Octávio Cardoso, já falecido.
Em sua atuação parlamentar, Ana Amélia votou a favor da PEC dos Gastos Públicos (que pode deixar o Brasil sem bolsas de pós-graduação a partir de agosto de 2019) e da reforma trabalhista. Se defender a ciência e os direitos da massa trabalhadora não são exatamente seus fortes, os ruralistas não têm do que reclamar. Os serviços prestados renderam a ela, em março, o prêmio Líder do Agronegócio Brasileiro 2018, concedido pela Farsul, entidade que reúne os principais líderes rurais do Rio Grande do Sul.
A gaúcha também fica à vontade na hora de levantar bandeiras do lobby armamentista. Aliou-se recentemente ao Armas Pela Vida, movimento cujo nome dispensa explicações, e apoia abertamente a posse de armas de fogo no meio rural. Uma liberação que será recebida de braços abertos por coronéis e latifundiários, já que barateará o processo de extermínio de indígenas, fiscais do trabalho escravo e integrantes de movimentos sociais.
Não é pequeno o esforço de Ana Amélia em se tornar rainha também das multidões que odeiam o PT e a esquerda, mesmo sem que saibam muito bem por quê. Quando a petista Gleisi Hoffmann concedeu entrevista à rede de TV Al-Jazeera, falando sobre a prisão do ex-presidente Lula, a senadora do PP jogou pesado com o imaginário xenófobo: acusou a adversária de violar a Lei de Segurança Nacional ao falar com a emissora do Qatar e disse esperar que a fala não fosse “um pedido para o Exército Islâmico atuar no Brasil”.
No festival de violência que envolveu a caravana promovida por Lula em cidades gaúchas, Ana Amélia aplaudiu os agressores sem meias palavras. “Botaram para correr aquele povo que foi lá, levando um condenado se queixando da democracia. Atirar ovo, levantar o relho, levantar o rebenque é mostrar onde estão os gaúchos”, disse à época. A escalada de hostilidade encorajada por Ana Amélia resultou em tiros sendo disparados contra ônibus da caravana nas estradas do Paraná – um bangue-bangue que, vamos admitir, casa bem com suas propostas de cunho armamentista.
A senadora tira o PP gaúcho do colo de Bolsonaro e canaliza um caminhão de votos na direção de Alckmin.
Esses sinais todos, é claro, angariaram a simpatia de quem ouve o canto de sereia de Bolsonaro no Sul do Brasil. Mas quem acompanha os movimentos de Ana Amélia Lemos sabe que, mesmo ansiosa por esses votos, ela nunca teve interesse em subir no mesmo palanque do candidato. Contrária à aproximação com o PSL no Rio Grande do Sul, a senadora exigia ser a única candidata ao senado na sua coligação, e deve ter ficado furiosa quando Carmen Flores, do mesmo partido do presidenciável, decidiu que concorreria também, independente da opinião da quase-aliada.
Simpatizante do PSDB e apoiadora de Aécio Neves no pleito de 2014, a senadora assume riscos ao abrir mão de uma reeleição quase certa, mas tira o PP gaúcho do colo de Bolsonaro e canaliza um caminhão de votos na direção de Alckmin. Outro tucano que está vibrando é Eduardo Leite, cara jovem da sigla que concorre ao governo gaúcho: não apenas fica com um adversário a menos (já que o ruralista Luis Carlos Heinze, que afirmou que quilombolas, índios e homossexuais são “tudo o que não presta”, deixa de concorrer ao Piratini pelo PP para ocupar o lugar de Ana Amélia na corrida pelo senado), como ganha de presente mais tempo de TV que o atual governador José Ivo Sartori (PMDB), que tenta a reeleição.
No festival de violência que envolveu a caravana promovida por Lula em cidades gaúchas, Ana Amélia aplaudiu os agressores sem meias palavras. “Botaram para correr aquele povo que foi lá, levando um condenado se queixando da democracia. Atirar ovo, levantar o relho, levantar o rebenque é mostrar onde estão os gaúchos”, disse à época. A escalada de hostilidade encorajada por Ana Amélia resultou em tiros sendo disparados contra ônibus da caravana nas estradas do Paraná – um bangue-bangue que, vamos admitir, casa bem com suas propostas de cunho armamentista.
A senadora tira o PP gaúcho do colo de Bolsonaro e canaliza um caminhão de votos na direção de Alckmin.
Esses sinais todos, é claro, angariaram a simpatia de quem ouve o canto de sereia de Bolsonaro no Sul do Brasil. Mas quem acompanha os movimentos de Ana Amélia Lemos sabe que, mesmo ansiosa por esses votos, ela nunca teve interesse em subir no mesmo palanque do candidato. Contrária à aproximação com o PSL no Rio Grande do Sul, a senadora exigia ser a única candidata ao senado na sua coligação, e deve ter ficado furiosa quando Carmen Flores, do mesmo partido do presidenciável, decidiu que concorreria também, independente da opinião da quase-aliada.
Simpatizante do PSDB e apoiadora de Aécio Neves no pleito de 2014, a senadora assume riscos ao abrir mão de uma reeleição quase certa, mas tira o PP gaúcho do colo de Bolsonaro e canaliza um caminhão de votos na direção de Alckmin. Outro tucano que está vibrando é Eduardo Leite, cara jovem da sigla que concorre ao governo gaúcho: não apenas fica com um adversário a menos (já que o ruralista Luis Carlos Heinze, que afirmou que quilombolas, índios e homossexuais são “tudo o que não presta”, deixa de concorrer ao Piratini pelo PP para ocupar o lugar de Ana Amélia na corrida pelo senado), como ganha de presente mais tempo de TV que o atual governador José Ivo Sartori (PMDB), que tenta a reeleição.
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