E se o
capitalismo, para se manter sem traumas, tiver multiplicado ocupações inúteis,
normativas e autoritárias? E se esta tendência estiver associada ao rentismo, a
faculdade de enriquecer sem trabalhar? E se for possível reverter tudo isso?
Por David Graeber, em entrevista
a Chris Brooks | Tradução: Inês Castilho
Outras Palavras – terça-feira, 21/08/2018
[‘Booked: Imagining a World With no Bullshit
Jobs’ | Dissent – August 16, 2018]
Seu trabalho
não faz sentido? Você sente que seu cargo poderia ser eliminado sem que fizesse
a menor falta? Talvez, pensaria você, a sociedade pudesse ser um pouco melhor
se seu trabalho nunca tivesse existido? Se sua resposta a essas perguntas é “sim”,
console-se. Você não está só. Cerca de metade do trabalho a que a população
trabalhadora se dedica diariamente poderia ser considerada “de merda” [bullshit
jobs] – diz David Graeber,
professor de antropologia na London School of Economics e autor de Bullshit
Jobs: A Theory [algo como “Empregos de Merda: uma Teoria”].
Para
Graeber, as mesmas políticas de livre mercado que nas últimas décadas tornaram
a vida e o emprego mais difíceis para tantas pessoas das classes trabalhadoras
produziram, simultaneamente, administradores, telemarqueteiros, burocratas de
seguradoras, advogados e lobistas, que não fazem nada de útil o dia inteiro,
com regalias. O jornalista Chris Brooks, especializado em questões de Trabalho,
entrevistou David Graeber para entender como tantos empregos de merda passaram
a existir e o que isso significa para as lutas laborais.
Em seu livro, você faz uma distinção entre “empregos de merda” [bullshit
jobs] e as “merdas de emprego” [shit jobs]. Pode falar um pouco
sobre a diferença entre os dois?
É bem
simples: “merdas de emprego” são apenas trabalhos ruins. Ninguém gosta de
tê-los. Pessoas que ficam com o corpo quebrado, são mal pagas, não são
reconhecidas, são tratadas sem dignidade e respeito… Na maioria das vezes, “merdas
de emprego” não são besteira, no sentido de irrelevantes ou despropositados —
porque envolvem fazer algo que realmente precisa ser feito: levar as pessoas
nos lugares, construir coisas, cuidar das pessoas, limpar sua sujeira…
Os “empregos
de merda” são frequentemente bem pagos e incluem muitos benefícios. Você é
tratado como se fosse importante e de fato estivesse fazendo alguma coisa que
deve ser feita – mas na verdade, você sabe que não. Por isso, são conceitos
opostos.
Quantos desses empregos de merda você acha que poderiam ser eliminados e
que tipo de impacto isso poderia ter na sociedade?
Muitos deles
– é essa a questão. Trabalhos de merda são aqueles em que a pessoa que os faz
acredita secretamente que, se o emprego desaparecesse (ou, às vezes, o setor
econômico inteiro), não faria nenhuma diferença. Quem sabe (no caso, por
exemplo, de telemarqueteiros, lobistas ou muitas empresas de direito corporativo),
o mundo seria um lugar melhor.
E isso não é
tudo: pense em todas as pessoas que fazem trabalho real em apoio a empregos de
merda, limpando os edifícios de escritórios, fazendo a segurança ou controle de
pragas para eles, correndo atrás dos danos psicológicos e sociais provocados
nos seres humanos por pessoas trabalhando duro em nada. Estou certo que
poderíamos facilmente eliminar metade do trabalho que estamos fazendo e que
isso teria grandes efeitos positivos em tudo — de arte e cultura a mudanças
climáticas.
Fiquei fascinado pela ligação que você faz entre o aumento de empregos
de merda e o divórcio entre a remuneração e a produtividade do trabalhador.
Para ser
honesto, não tenho certeza se é tão novo assim. A questão não era tanto sobre
produtividade, no sentido econômico, mas de benefício social. Se alguém está
limpando, ou cuidando de um doente, ou cozinhando, ou dirigindo um ônibus, você
sabe exatamente o que eles estão fazendo e por que razão isso é importante.
Isso não é absolutamente tão claro para um gerente de marca ou um consultor
financeiro. Há sempre algo como uma relação inversa entre a utilidade de uma
determinada forma de trabalho e a remuneração. Há algumas exceções, poucas e
bem conhecidas, tais como médicos e pilotos.
O que
aconteceu não foi tanto uma mudança de padrão, uma vasta inflação da quantidade
de trabalhos inúteis e relativamente bem-pagos. Fala-se, enganosamente, no
aumento do setor de serviços, mas a maior parte dos empregos neste setor é útil
e mal paga (merda de serviço). Estou me referindo a
garçonetes/criadas, motoristas de uber, barbeiros e semelhantes. Sua presença
não mudou. O que realmente aumentou é o número de empregos de escritório,
administrativos e gerenciais, que parecem ter triplicado na proporção geral de
trabalhadores, no último século. É aí que entram os empregos de merda.
Kim Moody argumenta que o aumento da produtividade e dos baixos salários
não tem tanto a ver com automação, mas com a intensificação das técnicas de
gestão, tais como produção lean e Just-in-time, além
das tecnologias de vigilância que policiam os trabalhadores. Se isso for
verdade, é como se estivéssemos presos em um círculo vicioso de empresas que
criam mais trabalhos para gerenciar e policiar os trabalhadores, tornando seus
empregos mais sem sentido. O que você pensa sobre isso?
Bem, isso é
certamente verdade se estivermos falando da Amazon, UPS ou Wallmart. É possível
argumentar que os postos de supervisão, que aceleram o trabalho, não são na verdade
sem sentido, fazem alguma coisa, ainda que não muito interessante para a
sociedade. Na fábrica, os robôs realmente provocaram ganhos maciços de
produtividade na maioria dos setores, porque os trabalhadores são reduzidos –
embora os poucos que restam sejam melhor remunerados que os trabalhadores da
maioria dos setores em geral.
Porém, em
todas essas áreas há a mesma tendência a acrescentar níveis inúteis de gestores
entre o patrão, ou as pessoas do dinheiro, e os trabalhadores de fato. Em
grande parte sua “supervisão” não acelera nada, antes diminui a velocidade.
Isso se torna mais verdadeiro conforme se dirige em direção ao setor de
cuidados – educação, saúde, serviços sociais ou outros muito semelhantes.
Criam-se
empregos administrativos sem sentido e a concomitante besteira do trabalho real
– forçando enfermeiras, médicos, professores e professores a preencher
infinitos formulários durante todo o dia – (digo concomitantemente porque muito
disso, embora justificado pela digitalização, está realmente lá apenas para dar
aos administradores inúteis algo para fazer), tem o efeito de reduzir a
produtividade massivamente.
Daí a
criação de empregos administrativos irrelevantes e a concomitante merdificação
do trabalho real. Ela obriga enfermeiros, médicos ou professores a preencher
incontáveis formulários o dia inteiro e tem o efeito de reduzir
maciçamente a produtividade. Usei a expressão “concomitante” porque muitas
destas tarefas, embora justificadas pela digitalização, existem apenas para dar
o que fazer aos administradores inúteis.
Isso é o que
as estatísticas mostram de fato – a produtividade disparando na indústria, e
com ela os lucros, mas a produtividade em Saúde e Educação caindo. Ou seja, os
preços sobem e os lucros se mantêm em grande parte pela redução dos salários. O
que, por sua vez, explica a razão de haver tantas greves de professores,
enfermeiras e até médicos e professores universitários em tantas partes do
mundo.
Outro argumento que você usa é que a estrutura da corporação moderna
recorda mais o feudalismo que o ideal e hipotético capitalismo de mercado. O
que quer dizer com isso?
Quando eu
estava na universidade, me ensinaram que capitalismo significa que há
capitalistas, os quais detêm os meios de produção, tais como fábricas; e que
eles empregam gente para fazer coisas e em seguida vendê-las. Estes
capitalistas, segundo a teoria, não podem pagar muito a seus trabalhadores e
ficar sem lucro, mas devem pagá-los pelo menos o suficiente para que possam
comprar as coisas que a fábrica produz. Feudalismo, em contraste, é quando você
obtém seus ganhos lucros diretamente — cobrando aluguel, taxas e dívidas,
transformando as pessoas em devedoras, ou extorquindo-as.
Bem,
atualmente a grande maioria dos lucros corporativos não vêm da produção ou
venda de produtos, mas das “finanças”, o que é um eufemismo para dívidas de
outras pessoas. Cobrar aluguel, taxas, juros e o que mais. É feudalismo em sua definição
clássica, “extração direta-política”, como disse alguém.
Isso também
significa que o papel do Estado é muito diferente. No capitalismo clássico, ele
apenas protege sua propriedade e talvez policie a força de trabalho de modo que
ela não fique muito indócil. Mas no capitalismo financeiro, você está extraindo
seus lucros por meio do sistema legal. Por isso, as normas e regulamentos são
absolutamente cruciais, você precisa que o governo o apoie, à medida em que
extorque as pessoas por causa de suas dívidas.
Isso também ajuda a explicar porque os entusiastas do mercado estão
errados quando alegam que é impossível, ou improvável, um capitalismo com
empregos de merda.
Exatamente.
Por incrível que pareça, os ultra-liberais [libertarians, na
terminologia anglófona] e os marxistas tendem a me atacar por esses motivos.
Ambos ainda estão operando basicamente com uma concepção de capitalismo como
existia talvez nos anos 1860: um monte de pequenas empresas competindo,
produzindo e vendendo coisas. Certo, isso ainda é verdade se falamos, digamos,
de restaurantes tocados pelos donos, e concordo que tais restaurantes não
tendem a contratar pessoas de que não necessitem de fato.
Mas se você
está falando das grandes corporações que dominam hoje a economia, elas operam
por uma lógica completamente diferente. Se os lucros são extraídos por meio de
tarifas, alugueis, rendas e pela criação e execução de dívidas; se o Estado
está intimamente envolvido na extração do excedente, a diferença entre as
esferas econômica e política tende a se dissolver Comprar a lealdade política
para seus esquemas de extração rentista é, por si só, um valor econômico.
Há também raízes políticas para a criação de empregos de merda. Em seu
livro, você retoma uma citação impressionante do ex-presidente dos EUA, Barack
Obama. Você poderia falar sobre ela e quais suas implicações para o apoio
político a empregos de merda?
Quando eu
sugeri que os empregos de merda resistem também porque são politicamente
convenientes para muita gente poderosa, fui acusado de ser um teórico da
conspiração. Na verdade, estava de fato escrevendo fosse uma teoria
anticonspiratória, investigando a razão pela qual essas pessoas poderosas não
tentam reagir à situação que descrevo.
A citação do
Obama foi como uma prova concreta com relação a isso. Basicamente ele disse: “Todo
mundo diz que o plano de saúde pago por indivíduos seria muito mais eficiente.
Talvez fosse, mas pense, temos milhões de pessoas trabalhando em todas essas
empresas privadas de saúde concorrentes, por causa de toda essa redundância e
ineficiência. O que vamos fazer com essas pessoas?” De modo que ele admitiu que
o livre mercado era menos eficiente (na Saúde, pelo menos) e essa é
precisamente a razão pela qual ele o preferia. Por manter os empregos inúteis…
Agora, é
interessante que nunca se ouçam políticos falar desse modo sobre empregos
industriais. Há sempre a “lei do mercado” para eliminar tantos quanto possível,
ou cortar seus salários. Se eles sofrem, bem, não há nada que se possa fazer.
Por exemplo, Obama não parecia ter nenhuma preocupação semelhante a respeito
dos trabalhadores da indústria automobilística, que foram demitidos ou tiveram
que fazer enormes sacrifícios depois do resgate do setor. Ou seja: alguns
empregos importam mais que outros.
No caso de
Obama, é bem claro por que: como notou recentemente Tom Frank, o Partido
Democrata tomou uma decisão estratégica nos anos 1980: abandonou a classe
trabalhadora como seu eleitorado principal e assumiu as classes gerenciais
profissionais. Essa é sua base agora. Mas claro que é exatamente nessa área que
os trabalhos de merda estão concentrados.
Em seu livro, você ressalta que não só o Partido Democrata está
institucionalmente implicado em empregos de merda, mas também os sindicatos.
Pode explicar como os sindicatos estão investindo na sustentação e proliferação
de empregos irrelevantes, e o que isso significa para os ativistas do setor?
Bem, eles
costumavam falar em proteção [featherbedding], insistindo em
contratar trabalhadores desnecessários. Nesses casos, claro: qualquer
burocracia tenderá a acumular um certo número de postos de merda. Mas o que eu
falava, principalmente, era simplesmente a demanda constante por “mais empregos”
como a solução para todos os problemas sociais.
É sempre uma
coisa que você pode exigir, à qual ninguém pode se opor, uma vez que não está
reivindicando um brinde, mas algo para poder ganhar a vida. Até mesmo a famosa
Marcha sobre Washington, de Martin Luther King, foi anunciada como uma marcha
por “Empregos e Liberdade”. Se você tem apoio sindical, a demanda por empregos
tem de estar presente. E, paradoxalmente, se as pessoas estão trabalhando de
forma independente, como freelancers, ou mesmo em cooperativas, elas não estão
em sindicatos, certo?
Desde os
anos 60 tem havido uma linha radical que vê os sindicatos como parte do
problema, por essa razão. Mas penso que precisamos perceber a questão em termos
mais amplos: como os sindicatos, que no passado faziam campanha por menos
trabalho, menos horas, passaram essencialmente a aceitar a estranha negociação
entre puritanismo e hedonismo na qual o capitalismo de consumo está baseado.
Ela sugere que o trabalho deveria ser “duro” (daí boas pessoas serem “pessoas
que trabalham duro”) e que o objetivo do trabalho é a prosperidade material,
que precisamos sofrer pra ganhar nosso direito de consumir brinquedos.
Você fala longamente em seu livro sobre quão errada é a concepção
tradicional de classe trabalhadora. Especificamente, você argumenta que
empregos da classe trabalhadora têm se parecido mais com o trabalho tipicamente
associado “às mulheres do que com o trabalho associado aos homens, nas
fábricas. Isso significa que trabalhadores no trânsito têm mais em comum com o
trabalho de cuidado das professoras do que com o de pedreiros. Você pode falar
sobre isso e como se relaciona com os empregos de merda?
Temos essa
obsessão com a ideia de “produção” e “produtividade” (que por sua vez tem que “crescer”,
daí “crescimento”) – que eu realmente penso ser teológica em sua origem. Deus
criou o universo. Os humanos foram condenados a imitar Deus criando seu próprio
alimento e vestimenta, etc., com dor e tristeza. Então pensamos no trabalho
principalmente como produtivo, fazendo coisas – cada setor é definido por sua “produtividade”,
até mesmo o imobiliário! Porém, até mesmo uma reflexão instantânea poderia
mostrar que na maioria dos trabalhos não se trata de “produzir” nada, é limpar
e polir; dar assistência e cuidar; ajudar e alimentar e consertar; ao
contrário, cuidar das coisas.
Você faz um
copo uma vez. Você o lava mil vezes. Isso é o que sempre foi a maior parte das
ocupações da classe trabalhadora. Sempre houve mais babás, engraxates,
jardineiros, limpadores de chaminés, profissionais do sexo, lixeiros e
empregadas domésticas do que operários de fábrica.
E mesmo os
que trabalham nos transportes, que aparentemente nada têm para fazer, agora que
as bilheterias estão sendo automatizadas, estão lá no caso de crianças se
perderem, de alguém ficar doente, ou para conversar com algum bêbado que esteja
atrapalhando as pessoas… (Aqui o problema é que o público foi condicionado a
pensar como patrões pequeno-burgueses, que não podem aceitar pessoas cuja
função é apenas estar ali, no caso de haver algum problema, e possam estar
sentadas, jogando cartas o dia inteiro. Então, espera-se que finjam estar
trabalhando o dia inteiro.) Ainda deixamos isso fora de nossas teorias de
valor, que são todas sobre “produtividade”.
Sugiro o
contrário, como sugeriram economistas feministas. Poderíamos pensar mesmo em
trabalhadores de fábrica como uma extensão do trabalho de cuidar. Você só
deseja fazer carros, ou pavimentar estradas, porque cuida que as pessoas possam
chegar aonde querem ir. Certamente alguma coisa assim sustenta o senso de “valor
social” que as pessoas têm sobre seu trabalho – ou até mais, que ele não tem
nenhum valor social, se as pessoas fazem trabalhos de merda.
Mas, penso,
é muito importante começar a reconsiderar o valor do nosso trabalho. Essas
coisas crescerão à medida em que a automação torne mais importante o trabalho
de cuidar. Não somente porque ele tem o efeito paradoxal de fazer com que esses
setores sejam menos eficientes (porque cada vez mais pessoas têm de trabalhar
naqueles setores, para alcançar os mesmos efeitos). Nem porque, como resultado,
essas são as zonas de real conflito. Mas especialmente porque essas são as
áreas que não desejamos automatizar. Não gostaríamos de ter um robô acalmando
bêbados ou confortando nossas crianças. Precisamos ver valor no tipo de
trabalho que de fato gostaríamos que apenas seres humanos fizessem.
Quais são as implicações da sua teoria de empregos inúteis para os
ativistas dessa área? Você afirma que é difícil imaginar como pareceria uma
campanha contra trabalhos de merda, mas pode apresentar algumas ideias sobre o
modo como sindicatos e ativistas podem começar a enfrentar essa questão?
Gosto de
falar sobre “a revolta das classes cuidadoras”. As classes trabalhadoras sempre
foram as classes cuidadoras – não apenas porque fazem quase todo o trabalho de
cuidar, mas também porque, talvez em parte como um resultado, elas de fato têm
mais empatia do que os ricos. Estudos psicológicos mostram isso, aliás. Quanto
mais rico, menos competente você é para sequer entender os sentimentos das
pessoas. Então, tentar reimaginar o trabalho – não como valor ou fim em si
mesmo, mas como uma extensão material do cuidar – é um bom começo.
Na verdade
eu propus até que se substituam “produção” e “consumo” por “cuidado” e “liberdade”
– cuidado é qualquer ação dirigida em última instância para manter ou melhorar
a liberdade de outra pessoa ou outro povo, assim como mães cuidam de crianças
não apenas para que tenham saúde e cresçam e floresçam, mas, mais
imediatamente, para que possam brincar, que é a expressão máxima da liberdade.
Tudo isso é
a longo prazo, porém. No sentido mais imediato, penso que precisamos descobrir
como opor a dominância do profissional-gerencial, não apenas nas organizações
de esquerda existente se assim, efetivamente, nos opor à merdificação dos
empregos.
No momento
desta entrevista, enfermeiras estão em greve na Nova Zelândia e uma das maiores
questões é exatamente essa. Por um lado, seu salário real está caindo; por
outro, elas também acham que estão gastando tanto tempo preenchendo formulários
que não conseguem cuidar dos pacientes. É mais de 50%, para muitas enfermeiras.
Os dois
problemas estão ligados porque, claro, todo o dinheiro que de outra forma seria
para manter o valor de seus salários está sendo desviado para a contratação de
novos e inúteis administradores, que então as oprimem com mais besteiras para
justificar sua própria existência. Mas frequentemente esses administradores são
representados pelos mesmos partidos, às vezes até mesmo pelos mesmos
sindicatos.
Como
elaborar um programa prático para combater esse tipo de coisa? Penso que é uma
questão estratégica extremamente importante.
David Graeber Anarquista, antropólogo e professor no Colégio
Goldsmith da Universidade de Londres . Anteriormente foi professor associado na
Universidade de Yale. Graeber participa ativamente em movimentos sociais e
políticos, protestando contra o Fórum Econômico Mundial de 2002 e o movimento
Occupy Wall Street. Ele é membro do Industrial Workers of the World e faz parte
do comiteê da Organização Internacional para uma Sociedade Participativa (em
inglês: International Organization for a Participatory Society)
[Extraído de https://outraspalavras.net/capa/a-estranha-sociedade-dos-empregos-de-merda/
em 21/08/2018]
[Edição original em https://www.dissentmagazine.org/online_articles/booked-david-graeber-bullshit-jobs,
16/08/2018]
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