*José Álvaro de Lima Cardoso
O golpe no
Brasil não é um acontecimento local, mas continental. Todos os países latino-americanos,
possivelmente sem exceção, estão sofrendo algum tipo de pressão do Império. O
caso mais dramático é o da Venezuela, pelo grau de resistência colocado. Mas
tem outros casos muito graves, como o da Nicarágua, que enfrenta uma verdadeira
“Primavera Árabe”. Os processos impostos contra o povo latino americano, não
decorrem de “maldade imperial”, mas é uma “imposição” da geopolítica. Atravessamos
hoje a maior crise da história do capitalismo, uma crise inusitada, que obriga
uma extração maior de riqueza da periferia. Os EUA, além disso, para o
enfrentamento adequado de seus principais inimigos, precisa manter os países
latino-americanos (que considera seu quintal) alinhados com as bases de sua
geopolítica. Neste quadro, um dos objetivos centrais da política dos EUA na
América Latina é construir as bases, no subcontinente, para o apoio à política
internacional do Império.
O
programa que está sendo implantado no Brasil, de forma muito célere, tem eixos
centrais que são um sonho para quem não quer que o Brasil seja potência algum
dia: a) entrega das riquezas naturais; b) privatização radical, à preço de
banana; c) enfraquecimento do Estado de uma forma geral, inclusive militar; d) destruição
das políticas sociais. Com o golpe o Estado brasileiro está destruindo ou se
desfazendo de instrumentos fundamentais para sustentação de seu desenvolvimento,
especialmente em período de grave crise mundial, como a atual. Qual o sentido
de entregar, a preço de banana, instrumentos financiados com dinheiro público,
ao longo de décadas, como Petrobrás, Embraer, Braskem, Eletrobrás, estruturas
fundamentais para o Brasil ter sido o país que mais cresceu entre 1950 e 1980,
senão uma subserviência radical aos países imperialistas?
Estão
entregando estatais e tornando o país cada vez mais dependente das grandes
multinacionais, Exxon, da Boeing, etc. indo na contramão do que ocorre em todo
o mundo, a começar pelos países imperialistas, que protegem cada vez mais seus
interesses e suas empresas. O golpe criou uma lógica de desnacionalização da
economia que está levando o Brasil para o buraco. Se depender da turma que está
no governo, a economia brasileira, que já vinha se desnacionalizando há muitos
anos, voltará a ser uma colônia, fornecedora de matérias-primas para os países
desenvolvidos. Se conseguirem institucionalizar o golpe, pela via eleitoral, as
privatizações alcançarão a Petrobrás, BB, CEF, BNDES. Será o desmonte total do Estado
nacional. Claro, desmonte do Estado público, aquele que, com muitas limitações desempenha
funções nas áreas do crédito, da assistência social, da previdência, etc. O
Estado a serviço do setor privado, na medida das possibilidades, continuará em
pleno funcionamento.
Esse debate torna-se ainda mais
fundamental, em função da guerra comercial que vive a economia mundial, com uma
escalada de ações protecionistas, especialmente por parte do governo
estadunidense. Com risco, nada desprezível, inclusive, na medida em que a crise
econômica perdure, da guerra comercial evoluir para uma guerra aberta
envolvendo as principais potências. Vamos lembrar que recentemente Trump
ameaçou atacar o Irã, um país enorme e de importância estratégica na
geopolítica e no fornecimento de petróleo para o mundo, e com grande influência
regional. É muito otimismo imaginar que este tipo de atitude não possa, em face
do agravamento da crise, descambar em determinado momento, para uma guerra
aberta. Mesmo porque, os EUA são capazes de tudo (tudo mesmo) para defender os seus
interesses estratégicos, incluindo suas empresas (que, no fundo é o que está em
jogo).
No caso brasileiro estamos vendo neste
momento a importância de um Estado nacional, que defenda os interesses do país,
com o ataque especulativo em andamento. Alegando os resultados das pesquisas
eleitorais, os especuladores empreendem um ataque contra a economia brasileira,
visando gerar uma crise financeira e cambial, procurando chantagear a sociedade,
num movimento parecido com que assistimos em 2002. O certo é que, em face da
gravidade e da longevidade da crise mundial, o Brasil e outros países
periféricos, estão sendo obrigados a pagar a conta.
*Economista.
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