*José Álvaro de Lima Cardoso
Segundo
o Boletim Emprego em Pauta, do DIEESE, de julho/2018, com a crise econômica
aumentou o número de brasileiros trabalhando por conta própria. Em 2017, cerca
de 23 milhões de trabalhadores estavam nessa condição e, desses, 5 milhões
tinham se tornado contra própria há menos de dois anos. Esta análise foi
elaborada com base nos dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo
o DIEESE, os que ingressaram na condição de trabalhador por conta própria,
depois da crise, apresentam rendimento 33% menor do que aqueles que estavam há
mais tempo nesse tipo de ocupação. Conforme o Boletim, o trabalhador que se
tornou conta própria após o aprofundamento da crise, ingressou em trabalhos com
menor proteção social, com menos qualificação e com remuneração mais baixa.
Há um dramático processo de
piora do mercado de trabalho causado pela crise econômica, mas também por ações
deliberadas para reduzir o custo da força de trabalho no Brasil, aliviando
assim os impactos da crise para o capital. Ao mesmo tempo em que pioram
dramaticamente os indicadores do mercado de trabalho, os de pobreza e extrema
pobreza, também se agravam rapidamente. Um levantamento da ActionAid Brasil (organização
internacional que luta por igualdade e erradicação da pobreza) indica que entre
2015 e 2017 o país voltou ao patamar de 12 anos atrás no referente ao número de
pessoas em situação de extrema pobreza[1].
O Brasil, que havia saído do Mapa da Fome da ONU, em 2014, num dos momentos
mais importantes da história do combate à pobreza da história do Brasil, com o
golpe, voltou a abandonar as políticas de proteção social e deverá vergonhosamente
retornar ao citado Mapa.
Passados já mais de dois anos de desenvolvimento
do golpe, ficou evidente para uma parcela significativa da população que os que
tomaram o poder de assalto o fizeram para entregar as riquezas, destruir
direitos e aumentar o nível de exploração dos trabalhadores. É certo que, não
fosse este um processo golpista, qual país abriria mão da exploração de uma
imensa reserva de petróleo comprovado, pronto para iniciar a produção, trazendo
imensa divisas para o país? Que governo nacional ao invés de adotar postura
soberana, se apressaria em realizar mais do que a agenda cobiçada pelas
multinacionais do petróleo, que ajudaram a financiar o golpe? Agenda esta que é
bem conhecida: se apropriar das reservas de petróleo brasileiro ao menor custo
possível e garantir seus lucros e o suprimento de energia para os seus
respectivos países.
Que
governo, senão aquele que está a serviço de uma potência estrangeira, iria
tentar vender o sistema elétrico do país, estratégico sob todos os pontos de
vistas, e que é um verdadeiro tesouro como fonte de receita, que só pode dar
prejuízo mediante corrupção ou grande incompetência gerencial? Que governo
tentaria torrar um sistema que vale R$ 370 bilhões, como a Eletrobrás, por
menos de 10% do seu valor? Que governo deixaria de usar o seu poder de veto
para impedir que uma das mais importantes empresas brasileiras, fundamental
para o sistema de defesa do país, como a Embraer, se transforme numa divisão da
Boeing, a gigante multinacional do setor aeroespacial, senão um governo inimigo
do Brasil?
Talvez,
no entanto, nada consiga revelar a com mais nitidez a natureza do governo Temer
do que os fortes, e recorrentes, indícios de que os golpistas pensam em entregar
às multinacionais a maior reserva subterrânea de água doce do mundo, o Aquífero
Guarani. Que argumentos irão usar para doar um dos maiores sistemas aquíferos
do mundo, com área total de 1,2 milhão de km²? Por mais confusos que parte dos
brasileiros se encontre neste momento, a pergunta que podem fazer é: sob que
alegação o país vai entregar de mão beijada mais de um milhão de quilômetros
quadrados de água doce às multinacionais dos países ricos? Ainda mais considerando
o fato de que, no ritmo atual de consumo, as reservas hídricas do globo reduzirão 40% até 2030, o que
deverá provocar uma “guerra pela água”
em todo o mundo? Vai ser difícil alegar que está entregando o Aquífero porque
ele está dando “prejuízo”, ou é porque um sistema “ineficiente”.
Tudo
isso fica ainda mais complicado se for levado em conta que os EUA e a Europa enfrentam grave problema de
falta de água, em função da contaminação da maioria dos rios dos EUA e do Velho
Continente. Os EUA, que coordenam
o golpe, sabem que não há nação que consiga manter-se dominante sem água
potável em abundância, por isso também seu interesse em intensificar o domínio
político e militar na região, além do acesso à água existente em abundância. Certamente
não é por acaso que a questão do assalto às riquezas nacionais está no centro
das questões políticas e econômicas no Brasil dos dias atuais.
Economista.
[1] A métrica dos
conceitos de pobreza e extrema pobreza varia a depender da instituição. Para o
Programa Brasil Sem Miséria, é considerado pobre quem vive ao longo de um mês
com R$ 170,00 e pobre extremo o que sobrevive com R$ 85,00.
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