*José Álvaro de Lima Cardoso
Inegavelmente os golpistas de 2016, e os
fraudadores das eleições de 2018, conquistaram uma grande vitória. O povo está
sendo massacrado, estão desmontando o Estado, a Petrobrás “acabou”, estão liquidando
com o que restou de direitos no país. Claramente empurram a sociedade para a
direita, como mostram a matança de lideranças populares, a destruição
sistemática de direitos sociais e sindicais, o aumento da fome e a proliferação
de grupos fascistas cada vez mais agressivos.
Por uma série de razões,
apesar das evidências do fenômeno, é comum escutarmos que temos que esquecer o
golpe de Estado de 2016, nos conformar com o governo Bolsonaro, que temos que
nos preocupar com as próximas eleições, que através delas iremos recolocar o
país nos eixos, recuperar as centenas de direitos perdidos, iremos retomar o
desenvolvimento, recuperar a democracia. O problema é que os indicadores não
parecem apontar para esse “final feliz”.
No entanto, é certo que, apesar
do evidente avanço dos golpistas, eles não conseguiram viabilizar uma acomodação
política no país, o que seria crucial para a estabilização do golpe de 2016. Há
um segmento numericamente expressivo de brasileiros que não esqueceram e nem
querem “virar a página” do golpe. Como consequência, permanece uma grande
polarização política no seio da sociedade. Polarização política nunca é bom para
quem está agravando os indicadores e tem as piores intenções possíveis para o
país. A polarização leva, muitas vezes, ao aprofundamento dos problemas. O que
não é bom para a extrema direita, e outros lacaios.
Essa instabilidade está
relacionada, por sua vez, ao fato de que o governo não conseguiu apresentar uma
solução para a crise econômica. Possivelmente uma síntese dessa incapacidade
seja a divulgação do IBGE de que a fome voltou a assombrar o Brasil depois do
golpe de 2016 e atualmente 41% da população brasileira sofre com insegurança
alimentar, ou 85 milhões de brasileiros. Outro sintoma na área externa: nos
primeiros oito meses de 2020, US$ 15,2 bilhões deixaram o país, o maior volume
para o período desde que o Banco Central começou a compilar as estatísticas, em
1982. Em paralelo, investidores estrangeiros retiraram R$ 87,3 bilhões da Bolsa
brasileira de janeiro a 17 de setembro. O valor é quase o dobro do registrado
em todo o ano passado.
Se o governo não consegue o
mínimo de êxito na economia (um pequeno crescimento, diminuição do desemprego, aumento
dos investimentos), também não conseguirá pacificar a sociedade, o que seria
fundamental para estabilizar o golpe. Ao invés de indicadores reais de
melhoria, o que se observa é que o pano de fundo do problema da fuga de
capitais é o de que a economia brasileira caminha para uma crise ainda maior do
que a atual. Segundo o FMI, em publicação recente, com a dívida pública se
aproximando de 100% do PIB e a dívida de curto prazo arriscando a ultrapassar
R$ 1 trilhão o Estado brasileiro pode cair em uma situação falimentar.
Como há uma crise
internacional muito profunda, o sistema financeiro mundial (que é quem dá as
cartas realmente no processo no Brasil e em todo o subcontinente), querem mais
e precisam extrair mais do país. A grande mídia, e os setores conservadores em
geral, reclamam inclusive, do fato de que as privatizações não estão andando
durante a pandemia. Toda a destruição de direitos, o enfraquecimento dos
sindicatos, a entrega de patrimônio, o fatiamento da Petrobrás, o aumento da
fome, tudo isso não significa uma saída que satisfaça os setores que
financiaram e coordenam o golpe no Brasil. O golpe no Brasil e todas as suas
consequências decorrem da necessidade de o Imperialismo aumentar o nível de transferência
de riqueza para o centro imperialista.
O aumento da fome no Brasil, e
todo o conjunto de ataques aos trabalhadores estão relacionados ao agravamento
da crise internacional. Entender essa abrangência do fenômeno é fundamental
para não se ficar alimentando ilusões que os problemas serão resolvidos através
da simples participação nas próximas eleições, ou em 2022. O ataque aos
direitos é mundial e com articulação internacional. A conjuntura mundial parece
apontar para uma piora significativa, uma inflexão, em termos econômicos e
políticos. A tarefa dos sindicatos é preparar os trabalhadores para a
resistência e para tempos ainda mais duros, que, ao que tudo indica, virão.
*Economista
08.10.2020
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