quarta-feira, 28 de outubro de 2020

A quem interessa a destruição dos serviços públicos?

 

                                                                                    *José Álvaro de Lima Cardoso    

     Está em discussão no Congresso a PEC da Reforma Administrativa, que é mais um ataque virulento contra os serviços público e os servidores públicos. Essa reforma terá profundo impacto também para a população em geral porque irá piorar o serviço público em muitos aspectos. Portanto diz respeito a toda a população e não apenas aos servidores. Por conta de mais esse ataque para cima dos trabalhadores o DIEESE está debatendo sobre o assunto em todo o Brasil, nas chamadas Jornadas Nacionais de Debate. Na região Sul o evento será no dia 29/10 as 15hs (quinta-feira).

     Em relação ao governo Bolsonaro não se trata de mostrar que os serviços públicos são fundamentais para qualquer país soberano, que tenha projeto de desenvolvimento. O problema não é esse, não é que os membros do governo não saibam disso. A destruição do serviço público compõe a concepção de país que este governo tem. Eles não querem um país soberano e sim uma colônia dos EUA, portanto não precisa serviço público de qualidade.

     O governo Bolsonaro é inimigo dos trabalhadores como se sabe, pois é fruto de um golpe de Estado e de uma fraude eleitoral.  Mas em função da composição do governo Bolsonaro, dentro da classe trabalhadora o funcionalismo público é o inimigo principal. Esse sentimento pode ser ilustrado por uma metáfora que Paulo Guedes utilizou na fatídica reunião ministerial de 22 de abril, quando se referiu à proposta de suspender por dois anos os reajustes salariais de servidores públicos: “já colocamos a granada no bolso do inimigo”.     

     Neste ano o país vai gastar, pela Lei Orçamentária Anual – LOA/2020, 409 bilhões de reais com a dívida pública. Quase ninguém fala sobre isso. Significa o gasto de 1,1 bilhão de reais todo santo dia, com banqueiros, somente neste ano. Somos escravos modernos, trabalhando para sustentar bancos. Enquanto isso os jornais ficam alardeando todo dia que o governo gastou tantos bilhões com o Auxílio Emergencial.

     Essa extrema direita que está no poder defende um estado a serviço exclusivamente dos banqueiros. O governo Bolsonaro não queria conceder nada a título de Renda Emergencial. A proposta do governo era ZERO. Depois de alguma briga no Congresso, chegou a R$ 600,00. Boa parte desse dinheiro, inclusive, nem chegou no seu destino, uma parte dos trabalhadores não recebeu.  Ao mesmo tempo, e sem pestanejar, o mesmo governo, através de Paulo Guedes, liberou R$ 1,216 trilhão para os banqueiros, ainda em março, valor que chegou rapidamente nos bancos. O objetivo do recurso, equivalente à 17% do PIB, era o de “manter a liquidez no sistema”, isto é, a disponibilidade de dinheiro para que os bancos pudessem operar normalmente.

     A grande imprensa em geral faz, historicamente, uma campanha diuturna contra o setor público, e para isso se utiliza de todos os instrumentos. Esse ataque é tão antigo e sistemático, que influencia fortemente, inclusive, os sindicatos do setor privado e suas bases. O ataque sofrido pelo serviço público se dá em várias frentes: mentiras e distorções à vontade nos meios de comunicação; privatização de tudo que é público, venda de ativos das empresas públicas a preço de banana, destruição dos direitos do funcionalismo, etc.

     Ultimamente estão divulgando a mentira de que os Correios dão prejuízo para o governo. Mas os balanços financeiros dos últimos vinte anos revelam que, em dezesseis anos seguidos, a empresa acumulou um lucro de 15,8 bilhões de reais, em valores corrigidos. Em 20 anos, a empresa apresentou prejuízo apenas em 2013, 2015 e 2016. Após um resultado neutro em 2017, em 2018 e 2019 apresentou lucro líquido novamente, de R$ 161 milhões e R$ 102 milhões, respectivamente. O estatuto dos Correios prevê que sejam repassados no mínimo 25% do lucro líquido ao Tesouro, ou seja, dinheiro na veia do governo. Não nos enganemos: os Correios só estão na lista para ser privatizado porque dá lucro. Multinacional só vai no filé-mignon, carne de pescoço eles deixam para o Estado administrar e bancar prejuízos financeiros. 

     Vamos entender que Paulo Guedes, e essa turma toda, quer é obter lucro. Esse negócio de soberania, serviços para os pobres, empregos, mercado consumidor interno, isso não faz parte do universo de preocupações deles. Eles querem destruir o SUS por exemplo, e as universidades públicas, para colocar as empresas privadas para prestar serviços. Empresas dos seus amigos, do grande capital. O fato de que apenas 30% dos brasileiros, no máximo, poderão pagar por saúde e educação, pois o povo brasileiro é financeiramente esmagado, para eles é um detalhe que não interessa. O governo e as multinacionais que apoiaram o golpe sabem que um mercado consumidor de 30% do Brasil, é superior à população de todos os demais países da América do Sul. A conta que fazem é essa.

     Vamos pensar um pouco: o capitalismo não consegue oferecer uma educação e saúde decentes para sua população, nem no centro do imperialismo mundial, os EUA. Nesse país, tirando os ricos, se as pessoas contraírem uma doença grave, inclusive sendo de classe média, elas sabem que irão morrer por incapacidade de pagamento, ou comprometer todo o seu patrimônio na cura da doença. Isso que se trata do centro mundial do imperialismo, país que suga recursos do mundo todo para manter o padrão que tem. Agora imaginem o Brasil, ou qualquer país da América Latina (uma Bolívia, Chile, Argentina), sem serviço público de saúde, com o setor sendo 100% monopolizado pelas multinacionais da saúde, que fazem qualquer coisa por lucros. Seria um verdadeiro genocídio.

      A destruição dos serviços públicos em saúde, educação e assistência, tem uma contrapartida que é o reforço do orçamento militar. O governo está reservando R$ 5,8 bilhões a mais no Orçamento do ano que vem para despesas com militares, em relação às despesas com a educação no País. É fácil de entender porque isso acontece. Se os serviços públicos estão sendo destruídos, e a educação e a saúde estão perdendo recursos o governo precisa reforçar o aparato de segurança.

                                                                                             *Economista 27.10.2020

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