*José Álvaro de
Lima Cardoso
Em entrevistas recentes para a
mídia brasileira, visando divulgar o seu livro de memórias, “Uma Terra Prometida”, o ex-presidente
dos Estados Unidos, Barack Obama, fez ataques ao ex presidente Lula, sugerindo
que havia um ambiente de corrupção nos seus governos. Na entrevista publicada
pela Folha de São Paulo,
Obama diz, se referindo ao ex-presidente, menciona “rumores girando em torno
dele sobre clientelismo, e está claro que o Brasil ainda tem problemas
profundos com corrupção sistêmica”. Uma afirmação dessas, vinda do cidadão
que presidiu o país mais imperialista da terra, é de uma hipocrisia que não
conhece nenhum limite.
Os governos brasileiros, a
partir de 2003, ousaram praticar políticas minimamente soberanas, como a
rejeição à Alca, a organização do BRICS, compra de aviões da Suécia, ao invés
de adquiri-los das empresas norte-americanas. Além disso, o governo brasileiro
comprou helicópteros da Rússia e montou o projeto de submarino nuclear em
parceria com a França. Em 2010 votou a Lei de Partilha, contra o desejo das
multinacionais do Petróleo que estavam de olho na riqueza do pré-sal, maior
descoberta de petróleo no milênio. Além disso, o Brasil estreitou laços com os
parceiros sul-americanos, fortaleceu o Mercosul e continuou o projeto de produção
de enriquecimento de urânio, estratégico para o Brasil e sobre o qual os
americanos vinham tentando obter detalhes. Tudo isso, contrariou os interesses
dos norte-americanos, acostumados a fazerem o que bem entendem na Região.
Ora, foi sob o governo de Obama (e não no de
Trump) que os EUA perpetraram o golpe no Brasil, visando interromper uma série
de governos que, mesmos moderados e reformistas, contrariavam os interesses dos
EUA na Região. Está cada vez melhor documentado, por exemplo, a ligação da Lava
Jato com estratégias montadas em instituições de inteligência dos EUA. Os EUA
são os principais responsáveis não só pelo golpe de 2016 no Brasil, mas pelos
golpes em Honduras (2009), Paraguai (2012), Bolívia (2019) e outros, utilizando
metodologias adaptadas a cada situação.
Será que o governo
estadunidense, país que sustenta a maior estrutura de espionagem no mundo,
desconhecia que os irmãos Koch, proprietários da segunda maior empresa privada
dos Estados Unidos, com faturamento anual de US$ 115 bilhões, financiaram
grupos que participaram diretamente do golpe atual no Brasil, como o “Movimento
Brasil Livre” e “Estudantes pela liberdade”. Será que Obama, o presidente que mais fez
guerras de toda a belicosa história dos EUA, desconhecia que toda a estratégia
do golpe no Brasil inspirou-se no manual do professor Gene Sharp, intitulado Da
Ditadura à Democracia, para treinamento de agitadores, ativistas, em
universidades americanas e até mesmo nas embaixadas dos Estados Unidos, para
liderar ONGs?
É por demais conhecido o projeto
de recolonização continental dos Estados Unidos, que dependem visceralmente dos
recursos naturais da América Latina e que, também por esta razão, não querem
perder o controle político da região. No caso do Brasil, a comprovação de que a
motivação principal da cobiça imperialista é a riqueza do pré-sal foi
também pela voracidade com que os golpistas se desfizeram do patrimônio da
Petrobrás. Mas o interesse dos EUA no golpe não foi só pelo petróleo, que
costuma tomar por bem ou por mal. Está relacionado também com as reservas de
água existentes na região, os minerais e toda a biodiversidade da Amazônia.
Será que Obama desconhece que a fúria da operação Lava Jato contra
a construção civil brasileira, fechando empresas e prendendo seus executivos,
está diretamente relacionada com os interesses do seu país? O historiador Moniz
Bandeira destacou detalhadamente os vínculos do agora desmoralizado Sérgio
Moro, com instituições norte-americanas. De uma hora para outra aparece um juiz
de primeira instância, com um volume enorme de informações sobre a Petrobrás,
contando com o apoio e ampla cobertura da mídia.
Mais do que uma operação contra a corrupção, a Lava Jato despertou
a ira contra estratégias de desenvolvimento nacional, políticas de conteúdo
nacional, utilização dos recursos do pré-sal para saúde e educação. A
prisão do Vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, principal responsável
pela conquista da independência na tecnologia do ciclo de combustível, que era
um sonho do governo norte-americano, interessado em interromper essas pesquisas
no Brasil, ocorreu também durante o governo do Obama.
Obama foi presidente durante
dois mandatos do mais belicoso país do mundo, que tem larga tradição de
intervenção e organização de golpes e quarteladas em todos os cantos do mundo,
em defesa de seus interesses econômicos e políticos. Os EUA provocaram guerras
civis, caos e desestabilização em inúmeros países, como Afeganistão, Iraque,
Tunísia, Egito e Síria, só para citar casos mais recentes. Na Síria, através de
técnicas de guerra híbrida (largamente utilizada no golpe no Brasil) incentivaram
protestos contra o governo utilizando grande número de mercenários, bandidos e
neonazistas, e cuja guerra civil produziu, mais de 300 mil mortos e mais de 4,5
milhões de refugiados.
Barack
Obama é um sujeito tão inocente que certamente nem imagina que em 2013 a
Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, invadiu
a rede privada de computadores da Petrobrás para coletar informações
estratégicas. Estes dados sobre a estatal brasileira, estão em documentos
vazados por Edward Snowden, membro então contratado da NSA, que havia divulgado
milhares de registros secretos em 2012.
Em 2013, a construção do golpe no Brasil estava de vento em popa, e
certamente os dados coletados na Petrobrás – epicentro econômico da motivação
golpista – foram fundamentais. Não existe sistema de espionagem mais agressivo
do que o dos EUA. Tal sistema dispõe, inclusive, de uma articulação
internacional, conhecida como “Five eyes”, que significa a reunião de cinco
países que formam uma rede de espionagem: EUA, Inglaterra, Austrália, Canadá e
Nova Zelândia. Mas obviamente, o ingênuo Obama desconhece tudo isso.
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