*José Álvaro de Lima Cardoso.
Na última sexta-feira, dia 2.03, a Americas Society/Council of the Americas (AS/COA), um grupo de lobby dos banqueiros de Wall Street, realizou em Nova York um evento sobre um suposto “movimento anticorrupção” na América Latina. Segundo a imprensa o principal palestrante, foi Sergio Moro, juiz da Operação Lava Jato, que também foi nomeado homem do ano em outro evento especial patrocinado por bancos. Uma rápida pesquisa na internet mostra que a organização que realizou o evento tem conexões diretas com o governo dos EUA e é financiada pelos grandes bancos e as maiores corporações do setor extrativista.
Só
para termos uma noção das relações que representa, o COA, que foi criado por
David Rockefeller tem o apoio de empresas como: Bloomberg, Blackrock, Bank of
America, Barings, Barrick Gold Corporation, Boeing, Bombardier, Banco Bradesco,
Banco do Brasil, Banco Santander, Cisco, Citigroup, Coca Cola, ExxonMobil,
Ford, General Electric, General Motors Google, Itaú Unibanco, IBM, Johnson
& Johnson, JP Morgan Chase, Lockheed Martin, McDonalds, Moody’s, Morgan
Stanley, Microsoft, News Corp / Fox, Pearson, Pfizer, Philip Morris, Raytheon,
Shell, Television Association Of Programmers Latin America (Associação de
Programadores de TV da América Latina), Time Warner/Turner, Toyota, Viacom,
Wal-Mart. Dentre outras.
O
fato é que, quem pudesse duvidar há dois anos, que a Lava Jato nada tivesse a
ver com combate à corrupção e que foi uma operação montada pelos órgãos da
espionagem dos EUA, não pode alegar agora que faltam informações. As notícias sobre
favorecimentos à grandes empresas estrangeiras após o golpe, com entrega
descarada do patrimônio público, estão fartamente à disposição na internet. Não
falta informação para quem quer saber o que está acontecendo realmente.
Uma
das comprovações de que a Lava Jato nada tem a ver com combate a corrupção é o fato de
que as denúncias alcançaram todos os chefes do golpe. Por mais que a Lava Jato
tentasse esconder, a complexidade de um golpe como o que foi dado, num país de
características continentais, acabou mostrando que os verdadeiros corruptos
foram os que encabeçaram a campanha contra a corrupção. Todos os cabeças do
golpe, ou estão na cadeia, caíram em desgraça política, ou estão pendurados no
foro privilegiado, o que absolutamente não estava no roteiro da Lava Jato.
A operação
já pode, e deverá ser desarticulada porque já cumpriu sua principal missão, que
foi ajudar no desmonte da economia brasileira e interromper um processo
incipiente, muito modesto, de desenvolvimento nacional. É que a grave crise
mundial do capitalismo não permite no momento este tipo de alternativa para os
países periféricos. Tem que esfolar o povo brasileiro para enviar riquezas para
os países centrais, especialmente EUA. Petróleo principalmente, mas também
terras férteis, estatais estratégicas, água, minerais de todos os tipos.
Nessa altura do jogo, as relações da Lava
Jato com os comandantes do golpe no Brasil e, principalmente, com o império são
mais conhecidas. É sabido e já documentado (teremos muito mais detalhes no
futuro) que a operação esteve sempre em articulação com o Departamento de
Justiça americano, e com as agências de espionagem estadunidenses (NSA, a CIA,
o FBI). Para atingir seus intentos a operação usou todos os procedimentos
ilegais possíveis: prisões arbitrárias, vazamento seletivo de delações de
criminosos, desrespeito à presunção de inocência, escuta telefônica ilegal da
presidenta da República. Incendiaram a opinião púbica, contra pessoas
delatadas, espalhando o ódio na classe média manipulada, com a conivência do STF.
Em fevereiro de 2015, o então procurador geral da República, Rodrigo Janot, e um
grupo de procuradores da força-tarefa responsável pela Operação Lava Jato, foram
aos Estados Unidos trocar informações com autoridades americanas sobre as investigações
das fraudes na Petrobras. Os procuradores realizaram reuniões com o
Departamento de Justiça, o FBI, o Banco Mundial e na OEA (Organização dos
Estados Americanos). Todas estruturas de controle da informação e dominação
utilizadas pelo imperialismo. Essas são informações oficiais, possivelmente uma
série de encontros foram realizados de forma sigilosa.
O absurdo dos absurdos. Autoridades
brasileiras, fartamente remuneradas com dinheiro do povo, irem trocar
informações com a ave de rapina mais agressiva do mundo, justamente sobre os
alvos da rapinagem, a riqueza do pré-sal e a Petrobrás. Os procuradores foram tratar do problema de
corrupção na Petrobrás com representantes do país que é, de longe, o mais
corrupto do mundo. Como está fartamente documentado, os EUA usam todos (TODOS)
os recursos possíveis e imagináveis, financiando golpes e comprando governantes
no mundo todo, para acessar riquezas e matérias-primas e conservar sua
hegemonia. Que, aliás, se encontra em crise. Não se fala do assunto, mas entre
1846 e 1848 os EUA ampliaram seu território em 25%, tomando terras do México,
que perdeu cerca de 50% do território. A guerra entre os dois países foi
iniciada pelos EUA, com base no cínico pretexto de que Deus tinha concedido o
direito do império do Norte expandir suas fronteiras.
A
corrupção é uma característica fundamental do modus operandi não apenas dos
Estados Unidos, mas dos países imperialistas em geral. Quem tiver dúvidas disso
é só analisar o recente caso da MP 795, que ficou conhecida como a MP da Shell.
Somente as isenções fiscais para as petroleiras, contidas na MP, irão
representar, no longo prazo, perda de receita na casa de R$ 1 trilhão e, já em
2018, uma perda de R$ 16,4 bilhões.
A operação Lava Jato dizimou
parte da construção civil brasileira, fechando empresas e prendendo seus
executivos, em nome do combate à corrupção. Se calcula que as ações da Lava
Jata e da Carne Fraca, em conjunto, possam ter gerado de cinco a sete milhões
de desempregados, sem contar os efeitos da depressão econômica e da entrega do
pré-sal ao imperialismo. Não foram poucos os juristas que denunciaram as
conexões internacionais da Lava Jato e suas inúmeras ilegalidades. Mas, como
todos os poderes estão comprometidos com o golpe, as denúncias não saem nos
grandes meios de comunicação e caem num vazio quase absoluto. O preço do golpe
é brutal, e contra a população brasileira estão sendo cometidos crimes em
série. Mas não podemos ter ilusões. O serviço do golpe não foi concluído, pois
precisam institucionalizá-lo, isto é dar uma fachada de legalidade. Por isso, não
nos enganemos, vem mais coisa por aí.
*Economista.
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