por Aldo Fornazieri
O assassinato da vereadora Marielle Franco e os ataques à caravana de Lula
pelo Sul do país não deixam dúvidas de que o Brasil vive
um contexto político no qual há a presença de grupos fascistas
organizados, violentos e que adotam táticas terroristas para se imporem. Não
resta dúvida também que os eixos articuladores desses grupos terroristas
são os apoiadores da candidatura de Bolsonaro, da candidatura de Flávio
Rocha, de grupos de ruralistas, de movimentos como o MBL e o Vem pra Rua e que contam
com apoio institucional em setores do Judiciário e em setores dos partidos
políticos governistas e de parlamentares e até de senadores, como é
o caso de Ana Amélia Lemos.
O mais grave de tudo isto é que estes grupos fascistas, violentos e terroristas
contam com a complacência da grande imprensa, de partidos ditos de centro como
o PSDB, da OAB, do governo Temer, das presidências da Câmara e do Senado,
da presidência do STF e de alguns candidatos à presidência da
República. Afinal de contas, não se ouviu nenhuma dessas vozes condenar
a violência contra a caravana.
Cabe perguntar: onde estão os editoriais dos grandes jornais contra a violência
que atingiu a caravana de Lula? Jornais que sempre foram ávidos a cobrar posições
das esquerdas contra atos esporádicos de violência de militantes...
Será mero acaso que os grandes jornais deram generosos espaços, no
fim de semana, a generais golpistas, a exemplo do general Antônio Hamilton
Martins Mourão?
Por que a OAB, a presidência da República, a presidência do
STF, as presidências das Casas Legislativas, o Ministério da Justiça,
o Ministério da Segurança Pública e o Ministério Público
Federal não se pronunciaram até agora? Por que o "democrata"
Fernando Henrique Cardoso silencia ante esses ataques fascistas? Por que os pré-candidatos
Alckmin e Rodrigo Maia não emitem nenhuma palavra sobre essa violência
política? Onde estão todos? Estão com medo? São coniventes?
Ou são cúmplices? É preciso advertir esses emudecidas personagens
acerca de que esse silêncio conivente de hoje poderá proporcionar que
amanhã também se tornem vítimas dessa violência
fascista.
O PT e os democratas precisam pressionar essas autoridades e esses representantes
políticos para que se pronunciem sobre esta violência fascista. Ou eles
se manifestam e adotam atitudes ou a história os cobrará amanhã
acerca do seu covarde silêncio. Esses grupos e dirigentes políticos,
na verdade, abrigaram o fascismo nascente no processo do golpe que derrubou a presidente
Dilma. Desmoralizados, porque muitos deles se revelaram moralistas sem moral, envolvidos
em graves casos de corrupção, se acovardaram e, agora, por falta de
coragem, por covardia ou por cumplicidade se calam ante a escalada de violência
fascista que poderá mergulhar o Brasil numa guerra civil.
Guerra civil sim, porque esses grupos fascistas e terroristas estão caminhando
rapidamente para o paramilitarismo. Os defensores da democracia não podem
assistir passivamente a escalada de violência desses grupos. Antes de tudo,
precisam organizar a sua autodefesa porque, como foi visto em São Miguel do
Oeste (SC), as polícias tendem a ser coniventes com esses grupos
terroristas.
Em segundo lugar, é preciso cobrar do governador de Santa Catarina
um esclarecimento acerca da passividade da polícia em face da violência
desses grupos. Em terceiro lugar, é preciso levar a senadora Ana Amélia
Lemos à Comissão de Ética do Senado por apoiar e estimular a
violência política. Em quarto lugar, é preciso promover uma ampla
campanha de esclarecimento da opinião pública acerca desses grupos
violentos e criminosos. Em quinto lugar, como já sinalizou a presidente do
PT, Gleisi Hoffmann, é necessário fazer uma ampla denúncia internacional
acerca da existência desses grupos fascistas e acerca da conivência das
autoridades para com os mesmos.
Por outro lado, já passou da hora de Lula, Ciro Gomes, Guilherme Boulos
e Manuela D'Ávila se reunirem para divulgar um manifesto conjunto em defesa
da democracia, da liberdade e da justiça e de condenação da
violência política e social que graça pelo país. Se não
é possível construir uma candidatura de unidade do campo progressista,
os candidatos precisam mostrar uma unidade de propósito neste momento grave
do país: a luta para defender a democracia que não temos.
Ação fascista: mentiras, violência e
covardia
Esses grupos fascistas brasileiros, que proliferaram nos últimos anos, não
fogem à tipologia clássica de ação dos movimentos totalitários
já mapeada e descrita por vários estudiosos, notadamente por Hannah
Arendt. Grupos e movimentos totalitários, quando ainda não estão
no poder, se ocupam, fundamentalmente, da propaganda dirigida a pessoas externas
aos mesmos visando convencê-las. A característica principal dessa propaganda
é a mentira. O contemporâneo fake news foi largamente utilizado
pelos nazistas e, em escala menor, pelos fascistas de Mussolini. Não há
nenhuma novidade nisto. As mentiras monstruosas que esses movimentos propagam visam
entreter o público para convencê-lo e para aliviar as
pressões
críticas sobre si mesmos.
Aqui no Brasil, recentemente, viu-se como o MBL e outros grupos agiam no processo
do golpe. Mentiam sobre a corrupção do governo Dilma enquanto se aliavam
e apareciam em público com os maiores corruptos do país: Eduardo Cunha,
Aécio Neves e outros. Aliás, Aécio e o PSDB patrocinaram esses
grupos. Eles mesmos são integrados por corruptos e, geralmente, por indivíduos
enredados em teias criminosas. E mentem de forma impiedosa e criminosa sobre Marielle
quando esta não pode mais defender-se.
Se, externamente, esses grupos se dedicam a propaganda, internamente seu objeto
é a doutrinação. Notem o que diz Arendt: "Se a propaganda
é integrante da 'guerra psicológica', o terror é-lhes
ainda mais inerente". Foi usado em larga escala pelos nazistas, que definiam
o terror como "propaganda de força". Arendt adverte que ele aumentou
progressivamente antes da tomada do poder por Hitler "porque nem a polícia
e nem os tribunais processavam seriamente os criminosos da chamada Direita".
Qualquer semelhança com o que temos hoje no Brasil não é mera
coincidência.
Crimes contra indivíduos, ameaças e ações violentas
contra adversários caracterizam a propaganda e o terror desses grupos. Tem-se
aí o assassinato de Marielle e de outros líderes sociais e comunitários
e a violência contra a caravana de Lula. Temos a violência verbal nas
redes sociais que também é uma forma de propaganda. Não é
possível subestimar esses atos, pois englobam elevado perigo num mundo anômico
e num país com as instituições destruídas. Todos esses
atos, essa violência, esse terrorismo, têm o mesmo pano de fundo:
o crescimento do fascismo no Brasil.
Se a primeira característica desses grupos é a mentira, se a segunda
é a violência, a terceira é a covardia. Geralmente praticam a
violência contra vítimas indefesas. Veja-se a suprema covardia no assassinato
da Marielle. A covardia da tocaia na execução de líderes sem-terra,
líderes indígenas e militantes ambientalistas. Os agroboys covardes
que atacaram a caravana de Lula agrediram mulheres, inclusive uma mulher que está
em tratamento de câncer e que estava com seu filho de dez anos. São
esses covardes que a igualmente covarde senadora Ana Amélia Lemos exalta.
É preciso detê-los. Detê-los com a militância nas ruas,
a exemplo dos atos de protesto contra a execução de Marielle, a exemplo
dos professores paulistanos e exemplo de tantos enfrentamentos pelo Brasil. Detê-los
com as candidaturas de Ciro, de Boulos e de Manuela. E é preciso detê-los
com a candidatura de Lula até o fim.
Aldo Fornazieri - Professor de Sociologia e Política
(FESPSP).
Nenhum comentário:
Postar um comentário