Ontem,
12 de maio, completou exatamente quatro anos do golpe de Estado no Brasil.
Neste dia, no ano de 2016, o Senado autorizava a abertura do processo de impeachment da
presidenta da República Dilma Rousseff, e determinou o seu afastamento pelo
período de até 180 dias para decisão do Congresso sobre o assunto. Passados
quatro anos, estamos em meio à uma crise econômica muito violenta, e no sexto
ano seguido de recessão ou estagnação econômica. Sob o pretexto de “resolver” o
problema econômico, o golpe de 2016 piorou muito uma crise que segue sem
perspectiva de solução. Como desgraça pouca é bobagem, estamos em meio a uma
pandemia, da qual o Brasil vai rapidamente assumindo o epicentro.
Toda essa conjunção de desgraças acontece
no momento em que o Brasil tem o pior governo da história: o mais entreguista;
o mais subserviente aos EUA, que quer destruir a viabilidade do país enquanto
nação. O governo Bolsonaro é, essencialmente, resultado direto do golpe de
2016. Imperfeito, porque Bolsonaro não era o candidato original dos golpistas,
mas resultado direto do processo. Esse cidadão não teria se alojado no poder
sem o golpe de 2016 e sem a fraude eleitoral de 2018. É necessário saber: os milhares
de mortos pelo Covid-19 (número que ontem chegou a 12.400) são fruto direto e
inapelável do golpe, que, dentre centenas de problemas, impôs a Emenda
Constitucional 95 (“Emenda da Morte”, que congelou gastos com saúde e educação
por 20 anos), e colocou Bolsonaro no poder.
Em 2012,
os indícios de que algo estava mudando na América Latina eram muito fortes. Nessa
data já havia ocorrido os golpes de Honduras (2009) e do Paraguai (2012), nos
moldes do que eles aplicariam no Brasil em 2016. O imperialismo norte-americano
estava emitindo claros sinais de que não iria mais tolerar nenhum governo progressista
na região. Há uma luta encarniçada dos
EUA para manter sua hegemonia em nível mundial, que está ameaçada,
principalmente pela China. Os EUA consideram a América Latina o seu “quintal”. Este
foi tomado por governos progressistas na primeira década dos anos 2000: Venezuela,
Equador, Argentina, Honduras, Brasil, Uruguai, etc. Todos eleitos pelo voto
direto.
Dá
trabalho, mas ser um país hegemônico no mundo traz também muitas vantagens. Uma
delas é poder se apropriar de uma parte maior do produto mundial, para uso de
sua população, mas especialmente das suas classes dominantes. A perda dessa
condição implica em grandes riscos, inclusive de revoltas internas importantes.
Vamos recordar que o modelo de desenvolvimento dos EUA, mesmo se apropriando de
riqueza no mundo todo, resulta numa desigualdade social interna brutal. Já
imaginaram o significado político e econômico de uma sublevação da classe
trabalhadora dentro dos EUA? Por razões de manutenção da sua hegemonia,
portanto, os EUA promoveram golpes em toda a América Latina, usando estratégias
semelhantes, mas adaptadas às distintas realidades. Não nos enganemos: fez isso
com o apoio de todos os demais países imperialistas, que formam uma espécie de
“clube”.
Há sete
anos atrás, em 2014, o Brasil discutia temas como: o que fazer com os bilhões
de dólares que representava a descoberta do pré-sal, o Programa Minha Casa
Minha Vida, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o cumprimento das Metas
do Milênio da Onu, a saída do Brasil do Mapa da Fome da ONU, a redução da pobreza
no país. O país discutia a possibilidade de disputar uma vaga no Conselho de
Segurança da ONU, se debatia o programa Ciências sem Fronteiras, se polemizava se
o país vivia ou não uma situação de “pleno emprego”. Comparem com o debate
vigente hoje: “rachadinhas”, relação do governo com milícias, grau de
subserviência do governo brasileiro aos EUA, e a última asneira verbalizada por
Bolsonaro.
Dilma sofreu
impedimento por uma miudeza contábil, uma invenção, uma filigrana jurídica. Uma
operação que os presidentes fazem muitas vezes em um mandato, e que foi chamada
de “Pedalada Fiscal”. O processo todo foi tão farsesco, que não tiveram coragem
de cassar os direitos políticos de Dilma Roussef. Não
acharam contas no exterior, nunca recebeu propinas, não há nem mesmo um diálogo
comprometedor dela com ninguém. Se Dilma tivesse cometido 1% das barbaridades
do presidente atual, não teria ficado uma semana no poder.
Quando
afirmávamos em 2015, que a Lava Jato nada tinha a ver com corrupção e que era
uma operação do governo estadunidense para roubar petróleo, água, recursos
naturais em geral, biodiversidade da Amazônia, e também pelo interesse de
abortar um incipiente e limitado processo de construção de um projeto nacional
de desenvolvimento, nos acusavam de estar alimentando uma “teoria da
conspiração”. Esses seis ou sete anos, desde a intensificação da construção do
golpe, mostraram que a conspiração é muito mais grave do que qualquer
teorização do fenômeno. As “confissões” dos crimes cometidos pelos responsáveis
pela Lava Jato, trazidas em larguíssima escala pela Vaza Jato em 2019, através
do site The Intercept, seria mais do que suficiente, é evidente, para anular
toda a farsa do processo de impeachment. O fato de que isso não ocorreu mostra que
os golpistas ainda estão no poder (nos vários poderes).
Mas não dúvidas que somente um processo
sofisticado de manipulação da população poderia possibilitar o apoio a uma
operação entreguista como a Lava Jato e aceitar com naturalidade o repasse, ao
Império do Norte, de petróleo, água, minerais e território para instalação de
bases militares.
O resgate e a compreensão dos intrincados
fatos ocorridos no processo de impeachment é um pré-requisito para qualquer
projeto de nação que possamos acalentar. A respeito do golpe e dos interesses
envolvidos, vimos apenas a ponta do iceberg. Quando os acontecimentos
esfriarem, teremos informações muito mais completas. Mas os fatos que sabemos
já são muito medonhos.
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