O desfile da Paraíso do Tuiuti, que agitou o Sambódromo do Rio de Janeiro neste domingo (11), segue bombando nas redes sociais. Em várias enquetes, os internautas já elegeram a escola como a melhor do Carnaval de 2018. Com muita irreverência e criatividade, ela retratou a escravidão no Brasil, exibindo as carteiras de trabalho destruídas pela “deforma” trabalhista do covil golpista. O destaque, porém, foi o carro alegórico com a gigantesca e tenebrosa figura em alusão ao usurpador Michel Temer – “O Vampiro Neoliberalista”. Abaixo da figura sinistra, diversos passistas batendo panelas, vestindo camisetas da “ética” CBF e carregando seus patinhos amarelos da “incorruptível” Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) – verdadeiros fantoches!
A escola pode até não vencer o disputado carnaval carioca, mas já causou frisson e constrangimento. Como registrou o crítico de televisão Maurício Stycer, do UOL, a Tuiuti deixou na defensiva os apresentadores da Globo – a principal protagonista do golpe dos corruptos que depôs Dilma Rousseff e alçou ao poder a quadrilha de Michel Temer. “Do camarote da Globo, onde narrava o desfile, Fátima Bernardes, Alex Escobar e Milton Cunha reagiram com comedimento ao surpreendente protesto, como se estivessem constrangidos”. Eles evitaram comentar os fantoches manipulados pela mídia e sequer citaram o nome de Michel Temer – apesar da faixa presidencial do vampirão. “Encerrado o desfile, o camarote da Globo recebeu vários participantes da Tuiuti – mas nem o vampiro, nem os ‘manifestoches’ foram assuntos das entrevistas”.
O constrangimento da emissora é perfeitamente compreensível. Se fosse possível, ela simplesmente censuraria o desfile. Ela apoiou o golpe de forma consciente, planejada, e segue apoiando a quadrilha no poder com suas contrarreformas que impõem a volta da escravidão e o fim da aposentadoria no Brasil. A dúvida é sobre como se comportaram diante da telinha os “midiotas” que foram às ruas na cavalgada golpista com suas camisetas amarelas da CBF e os patinhos da Fiesp. Será que eles já perceberam que foram os grandes otários retratados neste magistral desfile? Ou é preciso desenhar?
Abaixo, reproduzo o samba-enredo da escola Paraíso do Tuiuti:
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Meu Deus, meu Deus! Está extinta a escravidão?
Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o valor? Pobre artigo de mercado
Senhor eu não tenho a sua fé, e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar escravidão e um prato de feijão com arroz
Eu fui mandinga, cambinda, haussá
Fui um rei egbá preso na corrente
Sofri nos braços de um capataz
Morri nos canaviais onde se planta gente
Ê calunga! Ê ê calunga!
Preto Velho me contou, Preto Velho me contou
Onde mora a senhora liberdade
Não tem ferro, nem feitor
Amparo do rosário ao negro Benedito
Um grito feito pele de tambor
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
Um rito, uma luta, um homem de cor
E assim, quando a lei foi assinada
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu
Áurea feito o ouro da bandeira
Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel
Meu Deus! Meu Deus!
Se eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social
Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação
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