Clemente Ganz Lúcio[diretor técnico Dieese]
Patrícia Lino Costa[Supervisora da pesquisas de preços do Dieese]
Em
2017, enquanto o governo comemorava a inflação média acumulada de
2,95%,
segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, calculado pelo
IBGE, resultado muito
abaixo da meta estipulada de 4,5%, o consumidor reclamava que os
números eram
manipulados pelas instituições que os calculavam, que os preços
estavam altos e
que havia, sim, aumento no custo de vida.
É
importante considerar, antes de tudo, que a inflação é calculada
com base em
uma cesta média da população da localidade a que se refere o
índice. Com base
nesta cesta, acompanha-se, mensalmente, a variação dos preços
destes bens, e,
de acordo com o peso de cada item, calcula-se a taxa mensal. Nem
sempre a cesta
média é igual à do conjunto de bens consumidos por uma determinada
família. Por
exemplo, se uma família específica não possui carro, o preço do
combustível não
faz parte do seu orçamento, mas é um item componente da cesta
média pesquisada
pelos vários institutos que calculam a inflação. Assim, a inflação
média divulgada
pode ser maior ou menor do que a inflação de uma determinada
família. Há,
porém, por trás dos números, muito mais do que a composição da
cesta.
Em
2017, os alimentos foram os itens que mais diminuíram de valor e o
motivo foi a
excelente safra do ano. Realmente, os preços dos bens alimentícios
mostraram
retração no ano passado; no entanto, em 2015 e 2016, os valores
médios de
alimentos básicos como leite, carne, feijão, manteiga, queijo,
frango, entre
outros, tiveram trajetória altista, principalmente devido às
variações
climáticas, e atingiram patamares muito elevados. Por exemplo, o
feijão
carioquinha que, em 2016, chegou a ser reajustado em mais de 50%
em alguns
meses do ano, ao normalizar a oferta, não diminuiu o preço ao
valor do início
do ano. De forma que, em 2017, os recuos aconteceram, mas não
foram suficientes
para colocar as cotações em patamares próximos aos registrados em
2014.
Além
disso, os preços dos bens chamados administrados, como água, luz,
gasolina,
álcool, gás de botijão, entre outros, foram reajustados muito
acima da taxa
média do ano. Segundo o Índice de Custo de Vida, calculado pelo
DIEESE,
enquanto a taxa média do ano foi de 2,44%, o conjunto de preços
administrados variou
mais de 6,00%. Vale destacar ainda que os bens administrados são
essenciais
para todas as famílias, e têm peso maior no orçamento doméstico
das famílias de
menor renda: quando as contas de água, luz e gás, não são pagas,
os serviços a
elas relacionados são cortados e a família fica sem refrigeração
para os
alimentos, sem televisão, sem banho, sem a possibilidade de
cozinhar. Assim, grande
parcela da renda das pessoas ficou comprometida no pagamento das
contas de
serviços básicos.
Existem
ainda os bens oligopolizados, que são produzidos por grandes
indústrias. O
reajuste de alguns de seus segmentos, como o dos remédios, possui
regulação do
governo, mesmo assim, apresentaram elevação de preços no patamar
de 6,00%,
segundo o cálculo do DIEESE, superior à inflação média acumulada.
O
outro lado do problema está no decréscimo da renda das famílias.
Desde 2014, o
país vivencia a redução no crescimento da economia, a diminuição
das ocupações,
a elevação do desemprego, o aumento da informalidade e a queda nos
rendimentos.
Por
um lado, os preços dos bens livres, como alimentos básicos,
atingiram alto
patamar de valor e o recuo não foi suficiente para reduzir o preço
final
ofertado ao consumidor; e ainda, os bens essenciais ou
administrados estão sendo
reajustados muito acima da média da inflação. Por outro, as
famílias
brasileiras vêm perdendo renda e poder aquisitivo.
A
percepção geral da sociedade brasileira é que, hoje, os itens
básicos estão
muito caros e o rendimento mensal possibilita cada vez a compra de
menos itens.
Resumindo, houve o empobrecimento das famílias, principalmente, as
de baixa
renda e, não há como comemorar os resultados da inflação em 2017.
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