*José Álvaro de Lima Cardoso
Os preços
dos produtos básicos (comida, energia elétrica, tarifas de transporte) estão
aumentando num momento em que a classe trabalhadora brasileira atravessa o seu
pior ciclo de empobrecimento da história. Esse ciclo foi causado pela crise
econômica, e pelo golpe de 2016, que foi operado visando exatamente esse tipo
de resultado. A destruição de direitos e da renda dos trabalhadores não foi um
efeito colateral das ações, mas seus objetivos centrais. A profundidade da
crise requer maior transferência de riqueza da periferia para o centro, o que
significa a necessidade de destruição de direitos, além de outras ações de
rapinagem, como a entrega da Eletrobrás, a preço de banana.
A
inflação não é um fenômeno neutro. Ela funciona também como um mecanismo de
exploração extra dos trabalhadores. Como constatamos na prática, no período em
que o Brasil tinha superinflação, até meados da década de 1990, nenhum
mecanismo de indexação salarial se apresentava tão ágil quanto a atualização
dos preços das mercadorias. Com inflação alta, os preços sempre subiam mais
rapidamente do que os salários, fosse qual fosse o mecanismo de indexação
salarial. Atualmente não existe indexação de salários no Brasil, a mesma foi extinta
em meados da década de 1990.
Na
negociação coletiva os trabalhadores têm conseguido, quando muito, a reposição
da inflação na data-base. Muitas vezes a negociação se arrasta por três ou
quatro meses, e os patrões, malandramente, não aceitam retroagir o reajuste salarial
ao mês da data-base. Ou seja, o trabalhador perde definitivamente 1/4 ou 1/3 do
percentual de inflação no poder de compra. Como os salários são muito baixos isso
faz diferença, servindo como um mecanismo extraordinário de exploração do
trabalhador.
Um estudo
recente da equipe do DIEESE (elaborado pelo técnico Luís Ribeiro), mostra que,
em janeiro de 2018, o reajuste necessário para repor as perdas pelo INPC
(Índice Nacional de Preços ao Consumidor-IBGE) era 2%. Agora em junho, este reajuste
teria que ser praticamente de 9%. A saída da burguesia brasileira - e da extrema
direita que está no poder - para o problema inflacionário é aumentar os juros
básicos da economia, via taxa Selic. Ora com uma inflação que está relacionada
ao reaquecimento mundial da economia nos países centrais, e que nada tem a ver
com o comportamento da demanda interna, obviamente aumentar juros não irá
controlar a inflação. Em compensação irá aumentar os gastos com a dívida
pública, enriquecendo ainda mais os milionários do país, os 0,2% de sempre.
A relação entre
dívida pública e o PIB está em 89,3%, um recorde. Cada
aumento de 1 ponto percentual da Selic representa uma alta de 0,4% do PIB no
custo da dívida pública em 12 meses, o que é equivalente a R$ 32 bilhões. É um
jogo no qual a burguesia sempre ganha. Com inflação alta ganham os ricos que
podem se defender e até ganhar muito dinheiro com ela. O suposto combate à inflação
através do aumento da taxa básica de juros, ao aumentar os custos da dívida
pública, favorece os mesmos de sempre. Os credores da dívida, que ganham
dinheiro com o aumento dos juros são os mesmos que incrementam seus rendimentos
quando a inflação escala.
*Economista,
24.06.21
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