*José Álvaro de Lima Cardoso
Podem
procurar com uma lupa: do golpe de 2016, para cá, as medidas são todas contra os
trabalhadores. Não há nenhuma contra o Capital. Sabe-se que o Estado é da
burguesia. Mas, historicamente, ele sempre teve alguma permeabilidade para atender
reivindicações dos trabalhadores, ou de outros segmentos da sociedade. Vamos
lembrar que todos os direitos obtidos pelos trabalhadores, que agora estão
sendo destruídos em escala industrial, foram conquistados durante a vigência de
Estados burgueses.
O dia 1º
de maio coincidiu com um período no qual a classe trabalhadora brasileira jamais
foi tão atacada em seus direitos em toda a história. O DIEESE divulgou no dia
30/04 um Boletim Especial alusivo ao Dia dos Trabalhadores (as), que aponta que
a atual situação de total precarização do mercado de trabalho e o aumento do
custo dos alimentos, não são consequências apenas da crise sanitária mundial,
mas também estão diretamente relacionados com o projeto econômico e político
implementado a partir de 2016, com o golpe. Segundo a publicação, o que se
assistiu a partir da contrarreforma trabalhista, foi o aumento do desemprego e
da informalidade, queda da renda dos trabalhadores e um movimento de
precarização generalizada do trabalho. Precarização perseguida pelo governo,
não se trata de um efeito colateral.
Em
relação ao aumento de preços, muito acima dos salários, o descontrole ocorre
devido a diversas medidas operadas desde 2016: 1.redução dos estoques
reguladores da Conab (Companhia Nacional de Abastecimentos; 2.fim do subsídio
do gás e da política de valorização do salário mínimo; e 3.) aumento das
exportações de alimentos. Ou seja, o descontrole de preços é fruto de políticas
concretas do governo, que levam ao empobrecimento da população rapidamente.
Segundo o
estudo, baseado em dados da PNAD, quando a contrarreforma trabalhista passou a vigorar,
no fim de 2017, a taxa de desocupação estava em 11,8%. No final de 2020, 13,9%
da força de trabalho não tinham ocupação. O ano de 2020 chegou ao fim com 8,4
milhões de ocupados a menos do que em 2019. Com a falta de perspectivas, a
possibilidade de contaminação e a necessidade de isolamento social, 8,9 milhões
de pessoas estão fora da força de trabalho, sem renda, sem trabalho e sem
esperanças.
No ano passado
a massa de rendimentos mensal do trabalho caiu 6%, passando de R$ 217,8 bilhões
para R$ 204,9 bilhões. São R$ 13 bilhões a menos no bolso dos trabalhadores,
todos os meses, e um menor volume de renda disponível para o consumo, o que
dificulta muito a retomada do crescimento econômico.
A
política de valorização do salário mínimo, que vigorou entre 2004 e 2018, cumprindo
importante e necessário papel na distribuição de renda no país, teve o seu fim
no governo Bolsonaro. A partir daí o salário mínimo começou a ser corrigido pela
inflação. Porém, a partir de 2020, a correção ficou até abaixo da inflação. Com
o aumento dos preços dos alimentos, em algumas das 17 capitais brasileiras, conforme
a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos do DIEESE, mais da metade do
salário mínimo tem sido destinado para a compra dos alimentos essenciais suficientes
para uma pessoa adulta durante um mês.
Em 15 de
outubro de 2016, a direção da Petrobras mudou a política de preços da empresa,
e os valores dos combustíveis passaram a acompanhar os movimentos dos preços no
mercado internacional. A partir daí os brasileiros começaram a sentir no bolso
as oscilações de preços que ocorrem no exterior. O Brasil é uma potência
petrolífera, só que a renda petroleira está a serviço de grandes multinacionais
do petróleo e do sistema financeiro internacional. O País é o 10º produtor de
petróleo do mundo, o maior produtor da América Latina. Mas o povo paga o preço
dos derivados de petróleo, como se o país importasse todo o combustível que
consome: quase R$ 6,00 um litro de gasolina e praticamente R$ 100 um botijão de
gás.
Em 2019, conforme
registra o estudo do DIEESE, já durante o governo mais subserviente ao
imperialismo, que o Brasil já conheceu, uma resolução do Conselho Nacional de
Política Energética colocou fim à política do subsídio do gás de cozinha praticada
pela Petrobras. Em meio a um rápido processo de empobrecimento dos
trabalhadores, o governo retirou a possibilidade de muitas famílias adquirirem
um bem tão essencial, como o gás. As famílias mais pobres tiveram que optar
entre comprar alimentos ou gás, por isso muitas tiveram que começar a usar lenha
ou carvão para cozinhar. Segundo o IBGE, em 2019, 14 milhões de famílias usavam
lenha ou carvão, um número cerca de 3 milhões a mais do que em 2016. Esse número
significa que uma a cada cinco famílias brasileiras cozinhava com carvão ou
lenha em 2019.
Uma cesta
básica em Florianópolis está custando R$ 632,75, tendo aumentado mais de 22% em
12 meses, para uma inflação na casa dos 7%. O salário mínimo necessário deveria
ser equivalente a R$ 5.315,74, o que corresponde a 4,83 vezes o mínimo vigente,
de R$ 1.100,00.
Por isso
a fome está explodindo no país e passou ser um dos dois problemas mais
importantes, ao lado das mortes em grande quantidade, causada pela postura do
governo. Segundo pesquisa da Oxfam, realizada em
dezembro último, em 55,2% dos lares brasileiros
os habitantes conviviam com a insegurança alimentar, um aumento de 54% desde
2018. Em números absolutos, significa que, no período abrangido pela
pesquisa, 116,8 milhões de brasileiros não tinham acesso pleno e
permanente a alimentos. É uma situação simplesmente explosiva.
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