Há um grande um
esforço para dissociar o processo que estamos vivendo no Brasil, da situação
internacional. Mas o que está acontecendo no país, está dentro no contexto do
que ocorre na América Latina e no mundo. A questão fundamental da conjuntura, o
ponto central da crise econômica e política no Brasil, se encontra fora da
fotografia: a inédita crise mundial do capitalismo. É uma crise muito severa,
que vem se arrastando e não tem final previsto. É fundamental entender esse
fenômeno para perceber a sanha privatista do governo que assumirá em janeiro de
2019: de forma servil, precisam dar sua quota de contribuição para aliviar a
crise para os grandes grupos capitalistas internacionais.
Não é por outra
razão que o economista Paulo Guedes, que comandará a área econômica, tem
afirmado que, se depender dele, privatizará todas as estatais rapidamente. Não
conseguirão “privatizar tudo”, é certo. Uma privatização nos moldes que o ultraliberal
Guedes deseja aguçaria muito as contradições entre o próprio bloco golpista. Porém
a tendência é de uma privatização muito forte, com efeitos sinistros para o
país e sua população, como foi a primeira grande onda privatista, no governo
FHC, que ficou conhecida como “privataria”. Falam em vender o maior banco
brasileiro, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, e tudo que possa significar
lucros para o grande capital internacional. Privatizar a preço de banana é do
jogo do golpe. Temer não deu conta dessa tarefa, e que é uma das mais
importantes, até pelo tempo que esteve no poder.
Como até as
pedras já previam estão falando em privatizar “partes” da Petrobrás. Quem já não
sabia disso, se a Petrobrás foi o principal motivador econômico do golpe de
2016, e que está em curso? Só um golpe de Estado explica que queiram vender áreas
como distribuição e refino da Petrobrás, que gera caixa garantido para a
empresa e que são estratégicas para o desenvolvimento do país. Estão caminhando
para o que já sabíamos que era o objetivo: transformar o Brasil, em definitivo,
num vendedor de óleo cru, para os países ricos, especialmente EUA. O economista
Roberto Castello Branco foi confirmado para presidir a Petrobras, não por foi acaso:
faz parte do time de “Chicago boys” que comporá o novo governo e é um defensor
ardoroso da venda da Petrobrás. Irão colocar na direção da mais importante
empresa do país, um privatista e entreguista assumido.
O discurso de que
irão privatizar “partes” da Petrobrás é um disfarce para a privatização total,
que será encaminhada se não houver reação da sociedade brasileira. O que irão
tentar colocar em prática, de preferência muito rapidamente, é uma outra
concepção da relação Estado/Sociedade, na qual o que restou de “Estado do
bem-estar social”, será desmontado. Por exemplo, tudo indica que o ensino
público, em todos os níveis, corre sério risco, com as universidades sendo os
prováveis alvos iniciais. Tanto no caso da Educação, quanto na privatização das
estatais, visam, além de fazer caixa para o governo que assume, principalmente abrir
espaços de negócios para o setor privado, especialmente o internacional, procurando
aliviar para o capital os impactos da crise.
Quando se trata
de entrega de patrimônio público estratégico, não se recomenda o uso de meias
palavras. A indicação de um entreguista conhecido para assumir a presidência da
Petrobras revela as intenções relativas ao destino da empresa, assim como mostra
quais interesses comandam o desenvolvimento do golpe em curso. A privatização
da Petrobras representaria uma das mais importantes conquistas do perigoso
golpe de Estado que colocaram em marcha no Brasil, visando se apropriar de
riquezas naturais e das estatais, incluindo a chamada “nação amiga” Petrobrás.
Se conseguirem entregar a empresa para os oligopólios internacionais do
Petróleo (são obcecados com isso), os brasileiros verdadeiramente patriotas sofreremos
uma derrota que azedará nossas lembranças por muitas décadas.
*Economista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário