*José Álvaro de Lima Cardoso
Como se estivéssemos assistindo um filme
antigo, produzido na década de 1990, a economia Argentina anda de mal a pior.
Desde abril o peso desvalorizou 50% e previsão de inflação para este ano ronda
os 40%, e o PIB deve encolher em torno de 1% neste ano. No dia 03 de setembro o
governo veio a público se comprometer com equilíbrio fiscal primário ainda para este ano, sinal de que a população
pobre será ainda mais arrochada (com redução de salários, encarecimento dos serviços
e bens públicos, eliminação ou limitação de políticas sociais). Claro, os
ganhos dos rentistas não podem ser afetados.
O governo divulgou uma meta de déficit fiscal para este ano de 2,6% do
PIB, equilíbrio em 2019 e superávit primário de 1% em 2020, que é duríssima.
Metas como essas implicam em medidas muito fortes de contenção de gastos, que
são, regra geral, os gastos fundamentais para um mínimo de bem-estar da maioria
da população. Como por exemplo, a anunciada no dia 03, de redução no número de
ministérios de 22 para 10, que irá implicar em redução de serviços importantes.
Quando a crise se agravou, há alguns
meses, a Argentina obteve um empréstimo com o Fundo Monetário Internacional (FMI)
de US$ 50 bilhões, dos quais já recebeu 15 bilhões. Em função da piora da
situação, o governo argentino está assumindo novos compromissos com o Fundo,
visando acelerar os repasses previstos para 2019 e 2020. Por exemplo, a
contragosto o governo argentino está adotando um imposto sobre exportações,
através do qual, para cada dólar exportado, será tributado um adicional de três
ou quatro pesos. Esta é uma revisão de uma medida anunciada no início do
governo que beneficiou enormemente os exportadores agrícolas. O próprio governo
prevê que, com as novas mudanças anunciadas, irá aumentar a pobreza no país,
que já corresponde a quase um terço da população.
O debate sobre políticas soberanas ganha
ainda mais relevância, em função da guerra comercial que vive a economia
mundial, com uma escalada de ações protecionistas, especialmente por parte do
governo estadunidense. Com risco, nada desprezível, inclusive, na medida em que
a crise econômica perdure, da guerra comercial evoluir para uma guerra aberta
envolvendo as principais potências. Recentemente, o tresloucado presidente dos
EUA ameaçou atacar o Irã, um país enorme e de importância estratégica na
geopolítica e no fornecimento de petróleo para o mundo, e com grande influência
regional. É muito otimismo imaginar que este tipo de atitude não possa, em face
do agravamento da crise, descambar em determinado momento, para uma guerra
aberta. Mesmo porque, os EUA são capazes de tudo (tudo mesmo) para defender os seus
interesses estratégicos, incluindo suas empresas (que, no fundo é o que está sempre
em jogo, para eles).
No caso brasileiro estamos percebendo
neste momento a importância de um Estado nacional, que defenda os interesses do
país, com o ataque especulativo em andamento. Alegando os resultados das
pesquisas eleitorais, os especuladores empreendem um ataque contra a economia
brasileira, visando gerar uma crise financeira e cambial, procurando chantagear
a sociedade, num movimento parecido com o que assistimos em 2002. Naquele ano, considerado
a preços de hoje, o dólar chegou a R$ 7,00. Em face da gravidade e da
longevidade da crise mundial iniciada em 2007, o Brasil e outros países da
periferia, estão sendo obrigados a pagar a maior parte da conta. O grave é que
alguns governos subservientes, como o da Argentina e Brasil, pagam alegremente
a conta, usando recursos que são do povo brasileiro (petróleo, água, minerais
raros) e sacrificando a esmagadora maioria de suas populações.
*Economista. 06.09.2018.
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