*José Álvaro de Lima Cardoso
As
políticas adotadas no Brasil até 2016 (que aliás foram, em boa parte, as motivações
do golpe), mesmo que moderadas, foram muito importantes para a melhoria de vida
da população. Os ganhos reais do salário mínimo, a melhoria da distribuição de
renda, a expansão da rede de ensino público, a ampliação dos gastos com saúde e
educação, a elevação do crédito público, a colocação da riqueza do pré-sal a
serviço da população (lei de Partilha), a retirada do Brasil do Mapa da Fome, a
geração de milhões de empregos, todas elas políticas realizadas nos marcos
legais, tiveram enorme repercussão para o país e para a esmagadora maioria da
população.
Tais políticas, além de possibilitarem um
apaziguamento social, em regra, tinham custo baixo no orçamento, em termos comparativos. Por exemplo, o que representa o gasto
com o Programa Bolsa Família (0,4% do PIB), comparado com o custo elevadíssimo da
dívida interna brasileira, de interesse de 10.000 famílias de super ricos? É
uma fração absolutamente ridícula. Só se entende a interrupção do processo no
Brasil, se levarmos em conta que hoje quem comanda as ações do empresariado é o
capital financeiro, que, no mundo
todo, é contra até mesmo pequenas melhorias para a maioria da sociedade. O
projeto do capital financeiro é extremamente conservador, e contrário ao
desenvolvimento e a distribuição de renda. E isso é assim no mundo todo, como
se pode observar pelo processo atual de concentração de renda, verificado
também nos países centrais do capitalismo.
Com o golpe foi interrompido um processo
de construção de um projeto nacional de desenvolvimento, ainda que com uma
série de limitações, mas fundamental para o país. Por isso foi atropelado. Essa
experiência recente do Brasil, de melhoria dos indicadores, apesar do desfecho extremamente
amargo e de conclusão imprevisível, foi uma amostra de quanto o Brasil pode ser
uma grande nação. A partir do momento em que desenvolver uma política soberana,
voltada para os interesses da maioria da população, isso tende a acontecer,
ainda que não seja algo que irá acontecer naturalmente.
Está havendo reação ao golpe, mas ainda insuficiente. Este, aliás foi
um dos aspectos que deu errado, eles imaginavam que a reação seria bem menor.
Mas é importante considerar que o golpe não foi somente um problema de fraqueza
dos trabalhadores. O inimigo é muito poderoso e esteve por trás dos golpes de
Estado no Brasil, pelo menos desde o segundo pós-guerra. Estamos enfrentando o
imperialismo norte-americano, em meio a maior crise da história do capitalismo.
O império tem que tomar medidas arriscadas e extremas. É uma opção arriscada,
claro, porque pode gerar inclusive um salto de qualidade no nível de
consciência do povo.
O imperialismo sabe disso, e por isso
arrisca na América Latina e em outras partes do mundo. Na América do Sul, região
que o imperialismo considera seu quintal geopolítico, a situação pode se agravar
muito. Na próxima terça-feira, 26.06, está chegando ao Brasil o vice-presidente
dos Estados, Mike Pence, que deve trazer para discussão com o governo golpista temas
estratégicos, de toda ordem. Um dos assuntos, ao que tudo indica, é uma
possível participação do Brasil a um futuro ataque à Venezuela. Por essas e por
muitas outras, é muita ilusão
imaginar que ações institucionais, via judiciário ou por meio de eleições, encaminhadas
de forma isolada, irão dar conta de enfrentar o golpe continuado sob comando do
imperialismo.
*Economista.
25.06.2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário