segunda-feira, 25 de junho de 2018

Potencialidades do Brasil e riscos do golpe continuado


                                                                                     *José Álvaro de Lima Cardoso
    
      As políticas adotadas no Brasil até 2016 (que aliás foram, em boa parte, as motivações do golpe), mesmo que moderadas, foram muito importantes para a melhoria de vida da população. Os ganhos reais do salário mínimo, a melhoria da distribuição de renda, a expansão da rede de ensino público, a ampliação dos gastos com saúde e educação, a elevação do crédito público, a colocação da riqueza do pré-sal a serviço da população (lei de Partilha), a retirada do Brasil do Mapa da Fome, a geração de milhões de empregos, todas elas políticas realizadas nos marcos legais, tiveram enorme repercussão para o país e para a esmagadora maioria da população.   
     Tais políticas, além de possibilitarem um apaziguamento social, em regra, tinham custo baixo no orçamento, em termos comparativos. Por exemplo, o que representa o gasto com o Programa Bolsa Família (0,4% do PIB), comparado com o custo elevadíssimo da dívida interna brasileira, de interesse de 10.000 famílias de super ricos? É uma fração absolutamente ridícula. Só se entende a interrupção do processo no Brasil, se levarmos em conta que hoje quem comanda as ações do empresariado é o capital financeiro, que, no mundo todo, é contra até mesmo pequenas melhorias para a maioria da sociedade. O projeto do capital financeiro é extremamente conservador, e contrário ao desenvolvimento e a distribuição de renda. E isso é assim no mundo todo, como se pode observar pelo processo atual de concentração de renda, verificado também nos países centrais do capitalismo.  
     Com o golpe foi interrompido um processo de construção de um projeto nacional de desenvolvimento, ainda que com uma série de limitações, mas fundamental para o país. Por isso foi atropelado. Essa experiência recente do Brasil, de melhoria dos indicadores, apesar do desfecho extremamente amargo e de conclusão imprevisível, foi uma amostra de quanto o Brasil pode ser uma grande nação. A partir do momento em que desenvolver uma política soberana, voltada para os interesses da maioria da população, isso tende a acontecer, ainda que não seja algo que irá acontecer naturalmente.  
   Está havendo reação ao golpe, mas ainda insuficiente. Este, aliás foi um dos aspectos que deu errado, eles imaginavam que a reação seria bem menor. Mas é importante considerar que o golpe não foi somente um problema de fraqueza dos trabalhadores. O inimigo é muito poderoso e esteve por trás dos golpes de Estado no Brasil, pelo menos desde o segundo pós-guerra. Estamos enfrentando o imperialismo norte-americano, em meio a maior crise da história do capitalismo. O império tem que tomar medidas arriscadas e extremas. É uma opção arriscada, claro, porque pode gerar inclusive um salto de qualidade no nível de consciência do povo.
     O imperialismo sabe disso, e por isso arrisca na América Latina e em outras partes do mundo. Na América do Sul, região que o imperialismo considera seu quintal geopolítico, a situação pode se agravar muito. Na próxima terça-feira, 26.06, está chegando ao Brasil o vice-presidente dos Estados, Mike Pence, que deve trazer para discussão com o governo golpista temas estratégicos, de toda ordem. Um dos assuntos, ao que tudo indica, é uma possível participação do Brasil a um futuro ataque à Venezuela. Por essas e por muitas outras, é muita ilusão imaginar que ações institucionais, via judiciário ou por meio de eleições, encaminhadas de forma isolada, irão dar conta de enfrentar o golpe continuado sob comando do imperialismo.

                                                                                                      *Economista. 25.06.2018.

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