Clemente
Ganz Lúcio [1]
A produção
social da riqueza é a
base sobre a qual se assenta o desenvolvimento econômico,
resultado daquilo que
cada sociedade é capaz de produzir e distribuir. O movimento
sindical é uma
criação dos trabalhadores que lhes permite atuar, de maneira
coletiva e
solidária, na disputa sobre o que e como produzir e de que
maneira distribuir
os resultados.
Os
dirigentes sindicais criaram o
DIEESE, em 1955, porque compreendiam que conhecimento é poder,
recurso
fundamental para qualificar as lutas. Por isso, o DIEESE produz
regularmente
pesquisas e estudos que geram conhecimento e análises para
subsidiar as lutas
dos trabalhadores.
Uma das
pesquisas que o DIEESE faz é
o acompanhamento permanente de um painel fixo de 708 convenções
e acordos
coletivos da indústria, comércio e serviços. Nesse painel
pode-se observar o
comportamento dos salários em termos de reposição e de aumentos
reais. Os
resultados para 2015 estão na publicação da série Estudos e
Pesquisas 80, “Balanço
das Negociações de 2015”, disponível no site
do DIEESE, no endereço http://www.dieese.org.br/balancodosreajustes/2016/estPesq80balancoReajustes2015.pdf.
Em 2015,
cerca de 55% das convenções
e acordos coletivos foram celebrados pelos sindicatos com ganhos
salariais,
outros 26% conseguiram repor integralmente a inflação do
período, mas sem ganho
real e em torno de 19% concluíram as negociações sem repor
integralmente a
inflação. Há uma mudança nos resultados se comparados ao período
2005/2014,
quando a reposição integral da inflação e os aumentos salariais
predominaram em
90% das negociações.
Os
resultados pioraram? Enfraqueceu
o poder sindical? A resposta é, não! O resultado é coerente com
a situação de
recessão e de enorme adversidade para o setor produtivo. A
contração da
atividade econômica afeta a produção e a distribuição da riqueza
e da renda. Ao
desmobilizar capacidade produtiva, gera desemprego. Ao contrair
resultados da
atividade produtiva, produz queda dos salários. Em um contexto
de inflação alta
(ver Nota Técnica 154 “Porque a inflação não cai, com o país em
recessão?”,
disponível no site do
DIEESE, em http://www.dieese.org.br/notatecnica/2016/notaTec154inflacao.pdf), crescem as
perdas salariais. A recessão diminui a produção e inibe a
capacidade sindical
de disputar a distribuição presente dos resultados.
Nesse
contexto de enorme adversidade
econômica os resultados observados nas negociações coletivas, e
detalhados no
estudo, revelam uma enorme capacidade sindical de resistência,
mobilizando na
adversidade, construindo acordos salariais coerentes com essa
realidade, ainda
mais porque passaram a dar centralidade à busca da preservação
dos empregos.
Para além
das lutas travadas nas
campanhas salariais e dos resultados alcançados, o movimento
sindical tem
clareza de que a mobilização deve buscar a retomada do
crescimento econômico
por meio do investimento, do crédito e do emprego (veja o acordo
Compromisso
pelo Desenvolvimento, disponível em http://www.dieese.org.br/documentossindicais/2015/manifestoCentrais.pdf).
No curto
prazo, deve-se construir
cuidadosamente as estratégias considerando-se o contexto de cada
setor/categoria, pois há diferença de desempenho econômico,
alguns com
resultados positivos. A prioridade para proteger os empregos por
meio de
acordos deve vir acompanhada de ações para pressionar os
governos para promover
políticas públicas de geração de novas ocupações, bem como de
assistência aos
desempregados.
É tempo de
lutar contra grandes
adversidades e os resultados devem ser analisados frente a este
contexto. A
experiência nos mostra que a qualidade e a força da capacidade
sindical crescem
e se renovam frente às adversidades. Isso ocorre porque os
dirigentes sindicais
são bravos lutadores em nome de uma causa coletiva. É no momento
de adversidade
que a classe trabalhadora redescobre o papel essencial dessa
ferramenta que é o
sindicato.
[1] Sociólogo, diretor técnico do
DIEESE, membro do CDES
– Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
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