Luiz Carlos Bresser-Pereira no Facebook
Li hoje no Wall Street Journal uma notícia muito interessante. A classe
média alemã está furiosa com o presidente do Banco Central Europeu
porque este tornou a taxa de juros básica negativa. Como essa classe
média vota no partido conservador (democrata-cristão) hoje no governo,
seus políticos estão também inconformados com a política de Mario Draghi
- que certamente é a política correta, dado o baixo crescimento da Zona
do Euro e taxa de inflação próxima de zero.
Para nós, brasileiros, esta notícia é muito significativa. Desde o
Plano Real, os brasileiros pagam a uma parte deles - os rentistas -
cerca de 6% do PIB, porque o Banco Central realiza sua política
monetária em torno de uma taxa de juros real muito alta - cerca de 6% -
enquanto hoje nos países ricos essa taxa é negativa, e nos países em
desenvolvimento, gira em torno de 2%.
Por que os contribuintes
pagam esses juros extorsivos? Os economistas liberais dizem sempre que
isto se deve à falta de crédito do Estado, que decorreria de
irresponsabilidade fiscal. Não é verdade. Entre 1999 e 2012 o Estado
brasileiro foi responsável no plano fiscal.
Eu digo há muito que
o problema é político. Que o Banco Central mantém uma taxa de juros
real tão alta devido aos interesses dos rentistas e dos financistas que
administram a riqueza dos primeiros. E que esses rentistas não são
apenas os muito ricos. Há uma grande classe média rentista, que está
muito satisfeita com os juros altos. Mais do que isso, exige que os
juros sejam altos.
Isto ficou muito claro em 2012, quando a
presidente Dilma Rousseff logrou baixar os juros para 2% reais. A meu
ver foi esse o fato principal que fez a classe média tradicional se
voltar contra ela, e sua popularidade cair verticalmente em 2013.
Quando faço essa afirmação, os liberal-conservadores dizem que estou
caindo no erro da "teoria da conspiração". Não estou. A notícia que vem
da Alemanha confirma o que venho afirmando
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