*José Álvaro de
Lima Cardoso
A
recente turbulência cambial e a saída recorde de capitais do Brasil têm uma
série de causas internacionais, a começar pela encarniçada guerra comercial
entre EUA e China, que no ano passado escalou, abalando a já frágil economia
mundial. Mas os próprios eixos de política econômica do governo são fontes de
enorme insegurança para investidores: entrega de riquezas e mercados e grandes
ataques aos trabalhadores, só interessam aos países ricos e às multinacionais. O governo, e os economistas a serviço dos
bancos e do grande capital, repetem que para o Brasil crescer terá que realizar
“reformas mais profundas”. Esta última frase deve ser interpretada como “mais destruição
de direitos dos trabalhadores e ainda maior entrega de riquezas aos países
ricos”.
Apesar deste ser um governo muito “esquisito”, com um ministério que
parece ter saído de um filme de terror de quinta categoria, a política
econômica que está sendo colocada em prática, é blindada o tempo todo. A razão
é simples: ela é extremamente funcional aos interesses de quem perpetrou e coordena
o golpe de Estado no Brasil. Colocaram definitivamente a política econômica do país
à serviço dos interesses externos, especialmente norte-americanos. Paulo Guedes
e Bolsonaro serão mantidos no governo enquanto estiverem cumprindo esse papel
fundamental, até porque, do ponto de vista deles, as alternativas de
substituição são “escassas”.
É impossível um programa de governo como o
de Bolsonaro/Guedes ser implantado sem violência. Um programa que visa
fundamentalmente tirar direitos e renda da população não combina com
democracia. Evidente que o próprio golpe, por definição, rompeu com a
democracia. Mas o programa econômico anti povo que está sendo implantado, não consegue
conviver nem com o arremedo de democracia, que pretendem manter. Só conseguirão
liquidar completamente os pouco direitos e a renda que ainda restam, com muita
violência. Esta não é apenas física, mas é operada por assédios e insultos de
todo o tipo, por parte das autoridades. A acusação de Paulo Guedes aos
servidores públicos, destes serem “parasitas”, não é ignorância, ou descontrole
verbal, mas ação pensada, que visa colocar a população contra os servidores
públicos, abrindo caminho assim, para a destruição do Estado brasileiro, que está
em curso. Não é desconhecimento da realidade, mas uma profunda má-fé, visando encaminhar
os tenebrosos planos de privatização e precarização total das condições de
trabalho dos servidores (por exemplo, contidos nas três PECs que compõem o
chamado Plano Mais Brasil).
Mas o governo Bolsonaro não está sozinho
na luta contra os direitos. Em decisão do início do mês o Tribunal Superior do
Trabalho (TST), determinou uma multa diária de R$ 500 mil aos sindicatos que
não cessarem a greve petroleira, iniciada em 1º de março. Além da multa absurda
e impraticável, Ives Gandra Martins, ministro autor da decisão, estabeleceu que
pelo menos 90% dos empregados mantenham suas funções nas unidades da companhia.
Ora, na prática, este é o fim do direito constitucional de greve, que os
trabalhadores conseguiram a duríssimas penas, em lutas seculares. Como uma
categoria irá realizar a greve, para enfrentar ataques ferocíssimos por parte
da direção da empresa, se 90% do quadro tem que se manter trabalhando?
O móvel principal da greve, é bom
sublinhar, é a tentativa de impedir que, em pleno período de estagnação
econômica, a empresa demita, de forma autoritária e sumária, mais de mil
funcionários da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR).
Tais demissões decorrem da estratégia geral de esvaziar a maior empresa da
América Latina, desmontá-la gradativamente, e tornar o país, definitivamente,
um fornecedor de óleo cru para os países imperialistas. O recado do TST para os petroleiros, e por
extensão a toda à classe trabalhadora, é cristalino: aguentem o arrocho salarial,
perda de direitos e do emprego, sem dar um pio.
*Economista.
12.02
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