A produção industrial no
Brasil diminuiu 1,1% em
2019, em relação a 2018, segundo informações do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Das 24 atividades pesquisadas pelo IBGE, 16 apresentaram queda no ano. Nos
últimos dois meses do ano passado a queda acumulada chegou a 2,4%, sendo que o
resultado de dezembro (-0,7%) é pior resultado no mês, desde 2015. Segundo os
pesquisadores do IBGE, o patamar de produção de 2019 é semelhante ao de 2009; é
como se o país tivesse regredido, em termos de produção industrial, em dez
anos.
O setor
extrativista apresentou o maior recuo (9,7%), metalurgia (-2,9%), celulose,
papel e produtos de papel (-3,9%), manutenção, reparação e instalação de
máquinas e equipamentos (-9,1%), outros equipamentos de transporte (-9,0%),
produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-3,7%), produtos de madeira (-5,5%),
perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-3,7%) e produtos
de borracha e de material plástico (-1,5%).
Com resultado positivo, produtos alimentícios (1,6%), veículos
automotores, reboques e carrocerias (2,1%), coque, produtos derivados do
petróleo e biocombustíveis (1,7%), produtos de metal (5,1%) e bebidas (4%).
No ano
passado, metade dos macrossetores industriais não conseguiram crescer, como se
verifica abaixo. O caso mais extremo, bens intermediários, recuou 2,2%. Os bens
intermediários (manufaturados ou matérias-primas empregados na produção de
outros bens intermediários ou
de produtos finais), são considerados o cerne da produção industrial. A sua
queda nessa magnitude é sintomática de como anda a economia no seu conjunto.
• Industria geral: -1,1%;
• Bens de capital: -0,4%;
• Bens intermediários:
-2,2%;
• Bens de consumo
duráveis: 2,0%;
• Bens de consumo semi e não duráveis:
0,9%.
Segundo o IBGE, Bens de capital, recuaram
para -0,4% em 2019, sendo que em dez/19, caiu -5,9% na comparação com dez/18. Recuo
de bens de capital reflete baixo investimento (a taxa de investimento (FBCF/PIB) estava em meros 15,9% no
segundo trimestre de 2019). Esse
dado, possivelmente está relacionado com a política de desmonte do BNDES, que
responde pela maior parte do investimento produtivo no Brasil (os indicadores
de queda do total dos empréstimos do BNDES, nos últimos três anos, são
impressionantes).
Por
outro lado, os segmentos restantes apresentaram quedas, sendo os maiores em:
indústrias extrativas (-9,7%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e
equipamentos (-9,1%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos
automotores (-9,0%), produtos de madeira (-5,5%), celulose, papel e produtos de
papel (-3,9%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-3,7%), perfumaria,
sabões e produtos de limpeza (-3,7%) e metalurgia (-2,9%) e impressão e
reprodução de gravações (-2,2%).
Estes resultados da indústria, que atingiram
tanto a indústria extrativa quanto a de transformação, significaram um banho de
água fria nas análises de que o setor estaria se recuperando de forma
consistente. O IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), afirma
em publicação recente (Destaque IEDI, 04/02/20), que a década que se encerra em
2020, poderá ser considerada perdida para indústria. O estudo do Instituto observa,
por exemplo, que o resultado do ano passado não é casual. Nos últimos nove anos
(2011 a 2019) quando a indústria cresceu, foi em patamares muito baixos.
Em nove
anos, segundo o citado estudo, a perda acumulada é de -15% na indústria. É um
massacre. Após muito anos, o Brasil caminha para sair do ranking dos 10 maiores
países industriais do mundo. Decorrência direta de um processo mais profundo de
desindustrialização, mas que foi acelerado pelas políticas do golpe a partir de
2016. Em 2019 a indústria, que já representava apenas cerca de 11% do Produto
Interno Bruto (PIB), possivelmente sofreu novo recuo.
Há na
economia uma relação direta entre produção industrial e o perfil de
distribuição de renda. Como se sabe, o Brasil passa por um aprofundamento do
processo de desigualdade social a partir do golpe de 2016. Desde quando, em
1960, o IBGE passou a coletar informações sobre o rendimento da população nos
censos demográficos, nunca se havia observado um crescimento tão elevado em tão
pouco tempo. Se verifica também uma redução significativa do mercado consumidor
interno, com achatamento da renda e manutenção das altíssimas taxas de
desemprego. O país tem 12,6 milhões de pessoas desocupadas e a população
subutilizada na força de trabalho (trabalhadores desocupados e subocupados por
insuficiência de horas trabalhadas) atingiu o maior número da série histórica
da PNAD, 27,6 milhões de pessoas em 2019. Segundo o IBGE, o número de
subocupados, ou seja, os desocupados e os que não conseguem trabalhar um mínimo
de horas semanais, está quase 80% acima do indicador verificado em 2014,
ocasião em que foi registrado o menor número da série histórica (15,4 milhões).
Neste
quadro de explosão do desemprego e da informalidade a saída poderia ser o
mercado externo, como já ocorreu em outras crises brasileiras. Mas o mercado
externo anda extremamente arisco. Além da grave crise na Argentina, que abalou
um importante mercado para o Brasil, há uma encarniçada guerra comercial entre
EUA e China, que escalou no ano passado, abalando a já combalida economia
mundial.
Mas não precisaria de crise internacional,
os próprios eixos de política econômica do governo são fontes de enorme
insegurança tanto para a população em geral, quanto para os investidores (e
especuladores). Prestemos atenção no fato de que a saída líquida de dólares da
economia brasileira no ano passado (entradas menos saídas) foi de US$ 44,77
bilhões. Esta é a maior evasão de divisas do Brasil em toda a série histórica,
iniciada em 1982. Os grandes “investidores” (que foram os que fugiram do Brasil
no ano passado) têm grande sede de lucros e pernas longas. Têm também informações
privilegiadas, as quais nós, meros vendedores da força de trabalho, não temos
acesso.
O recorde anterior de fuga de capitais
tinha sido registrado em 1999, quando o saldo cambial (diferença entre as
entradas e saídas de dólares) ficou negativo em US$ 16,18 bilhões. Não por
acaso o fenômeno ocorreu em 1999, no governo FHC, num ano em que o Brasil,
monitorado pelo FMI (grande credor brasileiro à época), tinha adotado uma
política de livre flutuação cambial. Nessa ocasião a cotação do dólar ultrapassou
pela primeira vez a barreira dos R$ 2. De qualquer forma, o número de 2019, é
quase três vezes superior à fuga de 1999. Na segunda maior fuga de capitais
registradas no Brasil, no governo FHC, o que vigorava era também o entreguismo
e grandes ataques aos trabalhadores. Talvez, é verdade, numa escala menor que a
verificada no governo Bolsonaro.
Uma coisa é certa. Subserviência aos
países imperialista no mundo (com devoção especial aos EUA), combinada com
extrema inaptidão técnica por parte da cúpula do governo, não sinalizam
confiança a ninguém. Destruição de instrumentos públicos de intervenção
estratégica do Estado e a desmontagem das estruturas de atendimento à
população, ao afetar a estabilidade social do país, impactam também o humor dos
investidores. Estes, que buscam a redução dos riscos para o emprego do seu
capital, sabem que loucura tem limites.
*Economista. 05.02.20
Nenhum comentário:
Postar um comentário