*José Álvaro
de Lima Cardoso
A imprensa noticia que o general boliviano
que exigiu a renúncia do presidente Evo Morales recebeu um milhão de dólares do Encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA em La Paz, Bruce Willianson. O general
corrupto, Williams Kaliman, ganhou também um visto de residência permanente nos
EUA, onde foi se esconder. O general tinha sido adido militar da Embaixada da
Bolívia em Washington e, segundo a imprensa, passou pela School of Americas, em
Fort Bennings, Georgia, que é destinada a formar militares e policiais na
América Latina. O general tinha assumido o cargo de chefe das Forças Armadas Bolivianas
em dezembro de 2018, nomeado por Evo Morales. O militar de alta patente, ao
invés de garantir a constituição federal da Bolívia, apoiou o golpe e forçou a
renúncia de Evo Morales.
Segundo a imprensa Kaliman não foi o único
que vendeu a soberania do próprio país para o Império. Consta que Bruce
Williamson, entregou também um milhão de dólares a cada chefe militar e
quinhentos mil dólares a cada chefe de polícia. Vamos recordar que o motim da
polícia contra Morales, foi fundamental para a implementação do golpe num
primeiro momento. Consta que Williamson ficou meses coordenando todo a
construção do golpe a partir de Jujuy, na Argentina, sob a proteção de seu
governador Gerardo Morales. Este governador é muito próximo à Mauricio Macri, o
que reforça a hipótese de participação do governo da Argentina no processo. Logo
após o golpe na Bolívia, além do general, outros chefes militares, igualmente corruptos
e golpistas, também fugiram para os EUA.
Vale lembrar que, em agosto de 2018, a
Procuradoria Geral da República (PGR)
anexou documentos enviados ao Brasil por autoridades suíças ao inquérito que
investigava pagamentos para o senador José Serra (PSDB).
Os documentos enviados revelavam que a Odebrecht fez repasses de 400 mil euros
a uma conta na Suiça que tinha, entre seus administradores, Verônica Serra,
filha de José Serra. Segundo Eduardo Soares, um dos executivos da Odebrecht,
que fez acordo de delação premiada, através de uma offshore, a Circle Technical
Company, a Odebrecht repassava recursos à Serra, em nome de propinas referentes
à Linha 2 do Metrô de São Paulo, do Rodoanel e da interligação da rodovia
Carvalho Pinto. Nos documentos enviados pela Suiça à PGR, constam várias outras
comprovações, detalhadas, do recebimento das propinas, por parte de Serra.
Um
fato talvez explique porque a denúncia acima “morreu na casca”: José Serra,
segundo denúncia feita em 2013 pelo site WikiLeaks, havia prometido à Chevron,
em 2010, que, se eleito presidente, iria acabar com a lei de Partilha. Consumado
o impeachment da presidenta Dilma Roussef, foi aprovado imediatamente no Senado
o projeto de Serra, que tirou da Petrobrás a exclusividade na operação dos
poços do Pré-sal e acabou com a obrigatoriedade de a estatal ter participação
mínima de 30% nos leilões, fatores fundamentais para a retenção da renda
petrolífera no Brasil. Passado mais de três anos de golpe, estão entregando o
petróleo do Pré-sal a preço de banana, como até as pedras já sabiam que iria
acontecer.
Nos últimos dias apareceu uma denúncia na
imprensa, na qual, em conversa interceptada pela Polícia Federal, o “doleiro
dos doleiros” Dario Messer afirma que pagou propina para o procurador Januário
Paludo para garantir uma blindagem nas investigações da Lava Jato. Essa
conversa teria ocorrido em agosto de 2018. Segundo a conversa gravada de Messer
com a namorada, havia um esquema de pagamento mensal ao procurador, que é uma
espécie de referência, dos procuradores da Lava Jato.
Quando afirmávamos, em 2015, que a Lava
Jato nada tinha a ver com corrupção e que era uma operação do governo
estadunidense para meter a mão em petróleo, água, recursos naturais em geral,
biodiversidade da Amazônia, e também pelo interesse de abortar um incipiente e
limitado processo de construção de um projeto nacional de desenvolvimento, nos acusavam
de estar alimentando uma “teoria da conspiração”. Esses seis anos, desde a
construção do golpe, mostraram que a conspiração é muito mais grave do que qualquer
teorização do fenômeno. Especialmente a partir das “confissões” dos criminosos,
trazidas em larga escala pela Vaza Jato. O fato é que somente um processo
sofisticado de manipulação da população poderia possibilitar o apoio a uma
operação entreguista como a Lava Jato e aceitar com naturalidade o repasse, ao
Império do Norte, de petróleo, água, minerais e território para instalação de
bases militares.
Durante o desenrolar dos acontecimentos,
na medida em que se sentiram apoiados pela burguesia e pela grande mídia, os
golpistas perderam completamente a vergonha. Ficou-se sabendo, por exemplo, que
membros do Ministério Público
envolvidos na Lava Jato, explodiam de orgulho por trabalharem em conjunto com
os policiais do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, considerados muito
eficientes. Ou seja, aquilo que deveria ser motivo de vergonha nacional, que é
nutrir de informações uma potência estrangeira, para prejudicar e processar a
maior empresa nacional, motor da economia brasileira, era motivo de orgulho
para esse pessoal.
Na
ocasião, pensávamos que estes funcionários públicos, eram apenas idiotas úteis,
deslumbrados com a chance de rastejar perante o poder imperial. No entanto, as
surpreendentes informações do The Intercept Brasil, e, em menor escala, outros
órgãos de imprensa, revelaram que a história não era bem essa. O chefe da
operação, por exemplo, estava ganhando um bom dinheiro, como palestrante e
vendedor de livros, inclusive em reuniões secretas com banqueiros, que ajudaram
a financiar o golpe. Traído pelo excesso de confiança, Dallagnol foi,
possivelmente, o mais imprudente de todos: em algumas conversas comentou ter
faturado com palestras e livros R$ 400 mil, somente em alguns meses de 2018.
Num dos diálogos com seus colegas, tratando do risco de sentarem secretamente
com banqueiros, o chefe da força-tarefa, concluiu cinicamente: “Achamos que há
risco sim, mas que o risco tá bem pago rs”. Outros envolvidos ganharam também
bastante dinheiro com a destruição do país, como foi o caso de Sérgio Moro.
Segundo o
eminente intelectual Luiz Alberto Moniz Bandeira (falecido em 2017), a operação
Lava Jato, instrumento central do golpe, desde o seu início esteve em
articulação com o Departamento de Justiça, e com as agências de espionagem
americanas (NSA, a CIA, o FBI). Os procedimentos ilegais utilizados na operação,
prisões arbitrárias, vazamento seletivo de delações de criminosos, desrespeito
aos princípios mais elementares da democracia (como a presunção de inocência),
e a mobilização da opinião pública contra pessoas delatadas, são técnicas largamente
utilizadas pela CIA em golpes e sabotagens mundo afora. Blindados pela mídia, a arrogância e o
descaso com a opinião pública era tão grande que a Lava Jato fez acordos de
colaboração com o departamento de justiça dos EUA, com troca de informações de
um lado e outro, para uso inclusive, das estruturas jurídicas americanas em
processos contra a Petrobrás.
A
sabujice foi tão grande que, pode-se ler na imprensa, os procuradores e
policiais estavam explodindo de orgulho de trabalhar com as organizações
policiais e jurídicas norte-americanas. O interesse do capital internacional,
essencialmente o norte-americano, obviamente é ampliar o acesso e o controle
sobre fontes de recursos naturais estratégicos, em momento de queda da taxa de
lucro ao nível internacional (terra, água, petróleo, minérios, e toda a
biodiversidade da Amazônia). Mas no golpe houve todo um interesse geopolítico,
de alinhar o Brasil nas políticas dos EUA, como ocorreu em todos os golpes.
Ninguém
da imprensa pergunta porque o Encarregado de Negócios da Embaixada dos Estados
Unidos em La Paz pagou um milhão de dólares ao general vendido da Bolívia? É
normal um embaixador pagar a um general uma soma dessas logo depois deste ter
participado de uma conspiração golpista? É normal que esse embaixador tenha
pago, também, vários chefes militares e chefes de polícia, sendo que uma parte
deles fugiu posteriormente para os EUA? O fato concreto é que os países
imperialistas são os mais corruptos do mundo, sem nenhum parâmetro com os
valores da corrupção nos países periféricos ou coloniais.
Uma das
metas da ação imperialista desde sempre é dominar, para saquear as colônias. Os
EUA, por exemplo, usam todos os recursos possíveis e imagináveis, financiando
golpes e comprando governantes ladrões no mundo todo, para acessar riquezas e
matérias-primas. Pouco se fala do assunto, mas entre 1846 e 1848 os EUA
ampliaram seu território em 25%, tomando terras do México, que perdeu cerca de
50% do território. A guerra entre os dois países foi iniciada pelos EUA, com
base no cínico pretexto de que Deus tinha concedido o direito do império do
Norte expandir suas fronteiras.
Os
países imperialistas, como vimos no golpe recente da Bolívia, corrompem para
ter acesso à direitos e todo tipo de riquezas dos países subdesenvolvidos. Logo
após o golpe no Brasil, em 2016, conforme estava no script, o governo Temer tomou
várias medidas favoráveis às petroleiras: redução das exigências de conteúdo
local, redução de impostos, dispensa de licenças ambientais, concessão de poços
de petróleo a preços de banana. A mamata envolve valores acima de um trilhão de
reais (em 20 anos), tirados da mesa dos brasileiros mais pobres (conforme
previa a lei de Partilha). Algum incauto, por mais colonizado e tolo que seja,
seria capaz de supor que essas benesses concedidas às petroleiras foram dadas
pela simples admiração de Temer aos costumes requintados dos países
imperialistas?
*Economista 02.12.19
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