*José Álvaro de Lima Cardoso
A estagnação econômica é muito prolongada.
Após dois anos de uma das maiores recessões da história do Brasil (2015/2016),
a economia está há três anos patinando em torno de 1% de crescimento. Não só
não há recuperação à vista, como continua a destruição da economia, com muitas
falências e uma piora dramática nas condições de emprego e renda dos
trabalhadores. Algumas projeções são de que, mesmo que o PIB retorne ao patamar
de antes da crise, em 2021, o produto per capita só voltará a esse nível em
2023. Esta não é uma crise capitalista comum, ela foi muito agravada por um golpe
que, para se legitimar, devastou deliberadamente setores fundamentais da
economia brasileira, como o de construção pesada e o de óleo e gás (após as
denúncias do The Intercept alguém ainda pode duvidar disso?).
Também pela razão acima a indústria vem
encolhendo a cada mês, tendo sua produção caído 1,6% entre janeiro e junho
deste ano, segundo o IBGE. A indústria está produzindo menos, mas nem assim
consegue vender o pouco que produz. Tem aumentado a cada mês os chamados “estoques
indesejados”, um eufemismo para uma produção que vem encalhando. A estagnação
da indústria está diretamente relacionada à queda da demanda interna,
decorrente do aumento do desemprego e da contração da renda.
O mercado de trabalho, por sua vez, está
num buraco sem fim. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio
(PNDA/IBGE), em junho último o número de desocupados estava em mais de 13
milhões. No período recente aumentou também o número de trabalhadores sem carteira
e os por conta própria. Como se sabe, quando o desemprego está muito elevado,
há um aumento simultâneo da informalização do trabalho. Ademais, há um aumento também
do trabalho por “conta própria”. O mercado de trabalho brasileiro saiu, em
março/2014, de pouco mais de 37 milhões de trabalhadores sem emprego e por
conta própria, para mais de 42 milhões em junho/2019.
O governo Bolsonaro, fruto de um processo
de fraude eleitoral, não tem um plano factível para tirar a economia da
estagnação. A conjugação de verbos feita pelo governo é sempre contra a maioria
absoluta dos brasileiros: vender, entregar, destruir, liquidar. Paulo Guedes é
um “fundamentalista”, que propaga fé cega nas “virtudes” do mercado
capitalista. O conjunto de medidas de desestruturação do Estado brasileiro,
especialmente a desmontagem drástica que sofrerá a Seguridade Social, através
da PEC 6/2019 (sob tramitação no Senado Federal), neste quadro de aumento do
desemprego e da precarização, já tornou a vida de uma parcela crescente da
população trabalhadora, um verdadeiro inferno.
Não há unidade em relação à permanência do
Bolsonaro na presidência (especialmente com o rápido derretimento da (apenas) razoável
base social que tinha no começo do governo). Mas o central, o que unifica as
frações que perpetraram e sustentam o golpe de 2016, é o programa econômico, ou
seja, a entrega do patrimônio nacional, destruição da indústria, liquidação da
seguridade social, privatizações, etc. Para as forças que comandam o processo,
tanto faz quem seja o presidente, desde que ajude a encaminhar esse programa
econômico de guerra.
Este é um projeto que dará errado, como
aconteceu na Argentina e noutros países onde tentaram viabilizá-lo. Do ponto de
vista da maioria da população, a fórmula neoliberal não funcionou em nenhum
lugar do mundo onde foi implantada. Especialmente quando vem colada num
entreguismo sem qualquer limite (e que é único no mundo). Claro, do ponto de
vista do grande capital a fórmula pode funcionar, pelo menos durante um certo
tempo. O aumento da exploração dos trabalhadores e a dilapidação do patrimônio
público (vendido na bacia das almas), são oportunidades esplêndidas de
lucratividade para o grande capital, numa economia mundial em grave crise. A
população brasileira, registre-se, tem memória recente desse tipo de política, nos
governos FHC (1995/2002). Naquele período, boa parte do patrimônio brasileiro
foi dilapido, através da queima de estatais a preço de banana, e a vida dos
trabalhadores piorou muito com queda da renda e elevação dramática da taxa de
desemprego.
O
“programa” de governo de Guedes é vender o patrimônio do país e destruir as
estruturas de atendimento à população, como está empenhado em fazer com a
Seguridade Social. Acredita que destruindo essas estruturas, fruto de décadas
de luta dos trabalhadores, o crescimento irá retomar. Se der errado, não há
problema, culpa-se os sindicatos e o “populismo” do Congresso Nacional. Em face
do aumento visível da pobreza e da escalada do desemprego, não sei se o Brasil
suportará aguardar que o projeto de Paulo Guedes fracasse.
*Economista.
11.09
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