*José Álvaro de Lima Cardoso
A economia nacional está atravessando uma das
mais graves crises de sua história. Em relação à 2015, em 2019 o PIB é 5,1%
inferior, os investimentos são menores em 23,4% e o consumo das famílias em
5,3%. Entre 2011 e 2018, tivemos um ritmo médio de crescimento de 0,58% ao ano
e, tudo indica que essa será a pior década da história em termos de crescimento
econômico, superando as décadas perdidas de 1980 e 1990.
Neste quadro de estagnação o desemprego segue
nas alturas. A taxa de desemprego, segundo o IBGE, subiu para 12,7% no primeiro
trimestre do ano, atingindo 13,4 milhões de brasileiros. Além da taxa de
desemprego ser muito alta, 5,2 milhões de desempregados, quase 40% do total,
procuram emprego há mais de 1 ano. Daquele total, 3,3 milhões de pessoas (25%),
estão desocupadas há dois anos ou mais. Alguns estados apresentam taxas
impressionantes, como Amapá (20,2%), Bahia (18,3%) e Acre (18%).
No outro extremo, estados com taxas bem
inferiores, como Santa Catarina (7,2%, salvo engano, a menor do país), mas que apresentam
grande elevação do indicador nos anos recentes, o que mostra o agravamento do
problema. Só para termos ideia do drama, em 2014, quando o Brasil apresentou as
menores taxas de desemprego da história, a taxa em Santa Catarina estava em
2,8%, uma situação de pleno emprego, na prática. Em relação a 2014, o
crescimento da taxa de desemprego em Santa Catarina, em 2019, é de 157%.
Entre os jovens o desemprego é assustador.
A taxa entre brasileiros que têm entre 18 a 24 anos ficou em 27,3% no primeiro
trimestre, o dobro da taxa média nacional, de 12,7%. Podemos imaginar o que
significa para um jovem trabalhador brasileiro, que possivelmente está batalhando
para obter o seu primeiro emprego, encarar um mercado de trabalho onde mais de
um em quatro trabalhadores não consegue colocação, e num ambiente no qual o
pouco que existe de Estado social, e os direitos trabalhistas, estão sendo rapidamente
desmontados.
O quadro do desemprego no país é decorrência
da crise econômica, mas é principalmente o saldo acumulado nos três anos de
política do golpe no Brasil (a própria gravidade da crise é fruto do golpe). O
processo golpista conduziu o país, a uma crise financeira e econômica muito
grave e a um horizonte econômico e social simplesmente devastador. O que
estamos presenciando nos últimos anos é um desmonte do Estado jamais visto no
país. Neste momento, as frações golpistas estão em feroz guerra interna, fator
que agrava o quadro político e que, somado ao quadro econômico, torna muito
difícil a permanência de Bolsonaro na presidência. Ademais, o agravamento da
crise, e as dificuldades para aprovar a PEC de destruição da previdência no
Congresso, vem corroendo a relativa unidade em relação ao programa econômico de
guerra contra o povo (sob a condução de Paulo Guedes). Unidade que havia no
início do governo, entre os grupos que tomaram o poder de assalto em 2016,
mesmo não sendo Bolsonaro o candidato preferido desses segmentos.
Do ponto de vista da maioria da população,
a fórmula neoliberal não funcionou em nenhum lugar do mundo onde foi implantada.
O crescimento estagnou, o desemprego aumentou e o patrimônio público foi
dilapidado (claro, do ponto de vista do capital a fórmula pode funcionar, pelo
menos durante um certo tempo). A população brasileira, inclusive tem memória
relativamente recente desse tipo de política, dos governos FHC (1995/2002). Boa
parte do patrimônio brasileiro foi dilapido, através da queima de estatais a
preço de banana, e a vida dos trabalhadores piorou muito com queda da renda e
elevação dramática da taxa de desemprego. O que dizer da fórmula ultra neoliberal
que o fundamentalista Paulo Guedes está implantando no Brasil, que pretende,
por exemplo, vender todas as estatais brasileiras?
O ultra neoliberalismo de Guedes vai dar completamente
errado, do ponto de vista dos interesses brasileiros, como se pode prever
facilmente. Dentre outras razões porque o governo não tem proposta para nenhum
dos grandes problemas nacionais. O “programa” de governo de Guedes é vender o patrimônio
do país e destruir as estruturas de atendimento à população, como está
empenhado em fazer com a Seguridade Social. Acredita que destruindo essas estruturas,
fruto de décadas de luta dos trabalhadores, o crescimento irá retomar no país.
Se der errado, não há problema, coloca-se a culpa nas “corporações” e no
“populismo” do Congresso Nacional. Parece uma brincadeira. O problema é que
Paulo Guedes não é chefe de um laboratório de testes econômicos, e sim ministro
do Brasil, a oitava economia e uma das maiores populações do mundo. Se
aguardamos que o projeto de Paulo Guedes fracasse - e é certo que acontecerá -
o Brasil pode implodir social e economicamente.
A luta contra o governo Bolsonaro está nas
ruas e é muito vigorosa, como no 15 de maio, quando presenciamos as
manifestações mais massivas ocorridas no país, no mínimo desde 2014. A solução
para os problemas da economia e da sociedade, como já aconteceu em outros
momentos da história do Brasil, parece estar nas ruas, ou seja, no
fortalecimento do movimento dos trabalhadores e da juventude contra a política
de destruição do país que este governo está encaminhando.
*Economista.
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