*José Álvaro de Lima Cardoso
A força da Lava Jato, e o capacidade das
mentiras espalhadas pela operação se enraizar na sociedade, especialmente em
setores de classe média (inclusive no meio do povo sindical) deixou muito claro
que tinha alguém muito poderoso por trás do “Mussolinizinho de Maringá” e seu
grupinho de intocáveis: era simplesmente a maior força da Terra, o Imperialismo,
tendo à cabeça os EUA.
Por que a Petrobrás foi o alvo econômico
principal da operação?
1.Se trata de petróleo
(elemento causador de todas as guerras nos últimos 100 ou 150 anos e que não
tem substituto no curto prazo). Os EUA são os maiores consumidores de petróleo
do mundo, mas não são autossuficientes;
2. Porque não se trata de
uma empresa e sim de uma “nação amiga”. É a maior empresa da América Latina,
produzia em 2013, 2,6 milhões de barris de petróleo diários, tinha uma força de
trabalho de mais de 100 mil trabalhadores, operava em 25 países, tinha um lucro
de R$ 23,6 bilhões e era a 13ª maior companhia de petróleo do mundo no ranking
da revista Forbes. Era uma empresa (ainda é, não a conseguiram destruir) maior
do que a economia de muitos países do mundo. Como alguém já falou: "a
Petrobrás é uma outra nação. Felizmente é uma nação amiga.";
3.Petróleo e Petrobrás
são elementos de um projeto soberano de desenvolvimento. Há todo um simbolismo,
buscado pelos golpistas, em atacar a Petrobrás.
Em 2015 o historiador Moniz Bandeira
(brasileiro, intelectual de primeira grandeza, exímio especialista em
geopolítica, falecido em 2017 – com quase 30 livros) deu publicidade às
relações de Sérgio Moro com instituições norte-americanas, a saber:
a. em 2007 o então
magistrado frequentou cursos no Departamento de Estado.
b. em 2008, passou um mês
num programa especial de treinamento em Harvard, na Escola de Direito.
c. em outubro de 2009,
participou da conferência regional sobre (crimes financeiros) promovida no
Brasil pela embaixada dos Estados Unidos.
Em 2016 Sérgio Moro foi eleito, pela
revista norte-americana, Time, como um dos dez homens mais influentes do mundo.
Fazia parte do show: apresentar Sérgio Moro, e a Lava Jato, como “intocáveis”,
além de mostrar a operação como algo fundamental para um Brasil “tomado pela
corrupção”. Imaginem a que ponto chegamos: os EUA dando lição de honestidade. Um
país que é capaz de destruir países para saqueá-los, como fizeram recentemente no
Iraque, Afeganistão e Síria, dando lições de moral para o Brasil.
Em função da descoberta do pré-sal em
2006, o governo Lula sancionou em 2010, a lei de Partilha, que visava uma
retenção maior da renda petroleira por parte da nação brasileira. Por isso foi
tão combatida pelas multinacionais do petróleo e seus aliados dentro do país.
Pelo sistema de concessão, que defendem os que tentam derrubar a Lei de
Partilha, as multinacionais ficam com 67% do valor do petróleo extraído, em
óleo, e deixam no Brasil 10% do valor dele em royalties, pagos em dinheiro, além dos impostos. No sistema de
Partilha as multinacionais do petróleo têm que dividir com o Brasil o petróleo
retirado, além da Petrobrás ter a exclusividade na operação, o que evita roubos
do petróleo retirado.
Os golpistas de 2016 ainda não fizeram uma
tentativa mais sistemática para acabar com a Lei de Partilha, pelo menos às
claras. Mas por estes dias, o presidente da Petrobrás, fez uma fala contra a
Lei, dizendo por exemplo, que a Lei atrapalha os negócios. Segundo ele “O mundo
dos negócios não gosta de coisas complicadas, querem coisas claras,
transparentes, simples”. Multinacional do petróleo – que, por exemplo, ajudaram
a patrocinar o golpe recente no Brasil - gostar de transparência é uma piada pronta.
Se o Brasil não fosse um pais
subdesenvolvido e dependente, a extração de todo o petróleo brasileiro teria
que ser um monopólio da União, um monopólio da Petrobrás, não teria que ser
aberto a multinacionais. Todo o subsolo deveria ter essa política. Mas vejam
que as multinacionais não resistiram nem a modesta lei de Partilha. Para
exploração do poço de Libra, leiloado em 2013, foi montado um consórcio com uma
participação societária de 40% da Petrobrás. Segundo os especialistas no setor
(Aepet), e também da FUP, se a Petrobrás não tivesse participação nesse
consórcio, o Estado brasileiro arrecadaria R$ 246 bilhões a menos e as áreas de
Educação e Saúde perderiam R$ 50 bilhões em royalties,
conforme previa a Lei. Além disso, se a Petrobrás fosse contratada diretamente,
tendo 100% de participação em Libra ao invés de abrir para leilão, o Estado
brasileiro arrecadaria R$ 175 bilhões a mais.
O que explica um país, que tem uma “nação
amiga” como a Petrobrás, que é a maior especialista em exploração em águas
profundas e ultra profundas do mundo, abrir negócios em uma área na qual o país
gastou bilhões de dólares para explorar e mapear? O fato de ser um país
subdesenvolvido, com forças armadas fracas, e ser subserviente aos interesses imperialistas.
Além de ter, é claro, uma burguesia extremamente entreguista e inimiga do povo.
A estratégia dos EUA para a América Latina
é impedir o surgimento de potências regionais, especialmente em áreas com
abundância de recursos naturais, como é o caso do Brasil. O modelo dos
norte-americano proposto para a região é o de países com Forças Armadas
limitadas, incapazes de defender suas riquezas naturais, especialmente o
petróleo.
Só se consegue entender o caso da
Venezuela, se compreender-se a estratégia do império estadunidense para a
Região. Eles não suportam a Venezuela, porque há mais de dez anos, este país
reaparelhou suas forças armadas e armou a população para aguentar uma invasão
dos yanques, se for necessário. Os norte-americanos há poucos meses cometeram
mais um de seus inúmeros crimes contra a Venezuela: cercaram o pais
militarmente, impedindo de chegar remédios e comida, em pleno processo de
pandemia.
As denúncias da Vaza Jato em 2019
confirmaram o que a gente já sabia, que é o óbvio envolvimento central dos EUA
no golpe de Estado no Brasil. A comprovação da atuação, e interesse, dos EUA no
golpe são dimensões fundamentais da compreensão do turbilhão de acontecimentos
ocorridos no Brasil nos últimos oito ou nove anos. Sem o conhecimento e a
concatenação desses complexos fatos, é muito difícil entender o Brasil dos dias
atuais. Assim como ocorreu em 1954, 1964, e em outros golpes contra o povo
brasileiro, entre os principais grupos de interesses no golpe de 2016, o
principal é o do Império.
*Economista
12.12.20
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