*José Álvaro de Lima Cardoso
Segundo informações do The Intercept Brasil, o
chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol, foi palestrante de um evento secreto
realizado com banqueiros e investidores (entre os mais influentes do Brasil) em
junho de 2018. A representante da empresa que organizou o debate garantiu ao procurador
que a conversa seria “privada, com compromisso de confidencialidade”. Através dos
diálogos, não se pode saber quanto Dalllagnol cobrou por essa palestra
específica. Mas um ano antes do referido encontro secreto com os especuladores,
Dallagnol já havia recebido R$ 33.250,00 por uma palestra numa conferência da mesma
empresa, a XP Investimentos.
Em outras conversas vazadas, Dallagnol comentou
ter faturando com palestras e livros R$ 400 mil, somente em alguns meses de 2018.
Num dos diálogos com seus colegas, tratando do risco de sentarem secretamente
com banqueiros, o chefe da força-tarefa, concluiu cinicamente: “Achamos que há
risco sim, mas que o risco tá bem pago rs”.
Na reunião clandestina com o
chefe da Lava Jato estavam presentes grupos como JP Morgan, Stanley Barclays,
Nomura Goldman Sacha, Merrill Lynch, Cresit Suisse, Deutsche Bank, Citibank,
BNP, Paribas, Natixis, Societe Generale, Standard Chartered, State Street
Macquarie, Capital UBS, Toronto Dominion Bank, Royal Bank of Scotland, Itaú,
Bradesco, Santander. Somente grandes capitais, a maioria grupos multinacionais.
Alguns dos grupos presentes, inclusive, arremataram recentemente, na bacia das
almas, a BR Distribuidora, uma subsidiária estratégica da Petrobrás, muito cobiçada
porque negocia derivados energéticos fundamentais, e gera muito dinheiro (à
vista, e na veia).
Esses diálogos vazados pelo The Intercept,
que mostram que Sérgio Moro e Deltan Dallagnol vinham ganhando um bom dinheiro
(de forma ilegal) com o suposto “combate à corrupção”, são importantes porque
desmascaram a natureza sórdida da Lava Jato. No entanto, é muito importante também
não perder de vista as consequências essenciais da construção do golpe no
Brasil, para as quais a Lava Jato desempenhou um papel de Cavalo de Troia:
1.Aumento substancial da
exploração dos trabalhadores, com dezenas de medidas que acabaram (ou reduziram),
direitos sociais e trabalhistas, encaminhadas desde o golpe em 2016, de forma
sistemática;
2.Entrega de patrimônio
público, de todo o tipo, para os financiadores do golpe. Liquidaram a lei de
Partilha e estão desmontando a Petrobrás, que eram os passaportes do Brasil
para o desenvolvimento;
3.Volta da fome, que havia
sido praticamente erradicada no Brasil, conforme atestou a ONU em 2014. Segundo
dados do IBGE de 2018, 5,2 milhões de pessoas no Brasil estavam em estado de
subalimentação, ou seja, não tinham alimentos suficientes para satisfazer suas
necessidades, no triênio 2015/2017. O retorno da fome no país é quase que um
resultado aritmético das centenas de medidas de liquidação do país que foram
adotadas a partir da tomada de poder pelos golpistas, apoiados nas mentiras
espalhadas pela Lava Jato;
4.Rápido aumento do número de compatriotas
que vivem na pobreza. Segundo o IBGE, os que vivem abaixo da linha de pobreza
extrema (cujos ganhos não passam de 7 reais diários), saltaram de 13,5 milhões
em 2016 para 15,2 milhões em 2017. Quando consideradas as famílias que vivem
com menos de 406 reais por mês, o total subiu em 2017 de 53,7 milhões para 55,4
milhões em 2017;
5.Contribuição para a
maior recessão da história do país, um prejuízo incalculável para empresas
brasileiras, desvalorização de ativos, desmonte da maior empresa da América
Latina e entrega de empresas a preço vil. Um dos efeitos desse processo foi a destruição
de empregos formais, em número estimado entre 5 a 7 milhões;
6.Interrupção
da luta pela erradicação do trabalho infantil, que vinha sendo travada há
muitos anos. Segundo o IBGE, no Brasil 17,3 milhões de crianças de 0
a 14 anos, equivalente a 40,2% da população brasileira nessa faixa etária,
vivem em domicílios de baixa renda. Uma parte dessas crianças vive em situação
de trabalho infantil. Para defender o pão, trabalham nas carvoarias, olarias,
em pedreiras, na extração de castanhas, na colheita de laranja, no corte de
cana, na extração de sal. Outras vivem em situação de semiescravidão no serviço
doméstico, ou vendendo bugigangas nas ruas. As medidas adotadas após o golpe de
2016, especialmente a contrarreforma trabalhista, assim como a destruição do
sistema de fiscalização existente, está aumentando em escala industrial a
informalidade e a precarização dessas atividades, fazendo crescer rapidamente o
número de crianças nessa condição;
7.Liquidação da CLT com a aprovação da
contrarreforma trabalhista em 2017, reduzindo salários reais, e piorando
significativamente as condições de trabalho. E com aumento simultâneo da taxa
de desemprego;
8.Entrega das jazidas do Pré-sal a preços de
banana para as multinacionais. Inclusive com a aprovação da MP 795/2017, que
ficou conhecida como a MP da Shell. Através da referida, rapidamente, e sem
debate, o governo Temer mudou as regras da tributação, a regulação ambiental e
liquidou com as regras de conteúdo local para a indústria de gás e petróleo.
Somente as isenções fiscais para as petroleiras irão representar, no longo
prazo, perda de receita para o Brasil, na casa de R$ 1 trilhão e, já significou
em 2018, um prejuízo de R$ 16,4 bilhões;
9.Prisão do Vice-almirante Othon Luiz Pinheiro
da Silva, ainda em 2015, principal responsável pela conquista da independência
na tecnologia do ciclo de combustível, que colocou o Brasil em posição de
destaque na matéria, no mundo. O fim desse projeto, e a venda das estatais
elétricas que já estão fazendo, significará uma perda estimada em centenas de
bilhões de dólares;
10.O desmonte da Odebrecht, empresa responsável
pela construção do submarino nuclear, e sua controlada, a Mecatron, responsável
pela fabricação dos mísseis nacionais, além de significar o fim da soberania
nacional, representa a eterna dependência tecnológica do Brasil em relação aos
países ricos, impossível em traduzir em números;
Há alguns prejuízos causados pelo golpe que são
intangíveis, é impossível traduzi-los monetariamente. É o caso, por exemplo, do
prejuízo para a soberania nacional, decorrente da colaboração entre os
responsáveis pela Lava Jato e órgãos de investigação do Estado norte-americano,
que já está bem documentado. Tal colaboração permitiu o acesso do governo norte-americano
a informações sigilosas, que foram utilizadas para atacar e processar
judicialmente a Petrobrás e outras empresas brasileiras. A entrega de um campo
de petróleo do Pré-sal, normalmente com bilhões de barris de petróleo, é
possível calcular em dólares, mas é impossível calcular dessa forma uma
eventual entrega do Aquífero Guarani (maior aquífero transfronteiriço do mundo,
que abrange o Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), negociação que vem ocorrendo
secretamente desde o governo Temer.
Pode-se calcular mais ou menos o número de deputados comprados pelo
governo para aprovar a destruição da Previdência Social, em primeiro turno na
Câmara de Deputados, e quanto foi gasto na empreitada. Mas é muito difícil
calcular o prejuízo social e econômico que 100 milhões de brasileiros, que dela
dependem direta ou indiretamente, terão ao longo dos anos. Também é impossível
fazer um cálculo um pouco mais preciso, do prejuízo que o Brasil está tendo, e
ainda terá, com a fraude das eleições de 2018 - processo no qual a Lava Jato
teve papel chave - e que colocou no núcleo de poder um grupo de fascistas
descerebrados e a serviço dos EUA.
*Economista. 02.08
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