(do blog de Mauro Santayama) - Com uma lâmina, uma mulher tem uma suástica escavada na pele, em Porto Alegre.
Um estudante da Universidade Federal do Paraná é levado para o hospital em Curitiba, após ser espancado por integrantes de uma torcida organizada, em frente à universidade, em meio a gritos de apoio ao candidato que está na frente das pesquisas do segundo turno, por estar usando um boné de um movimento social e uma camiseta vermelha.
Um mestre de capoeira, artista e educador baiano, Moa do Katendê, é assassinado com 12 facadas em Salvador. por um simpatizante e eleitor do mesmo candidato por ter declarado seu voto a favor do PT.
Ora, o que diria esse candidato se, em vez de ser um maluco, o sujeito que o esfaqueou se declarasse petista, e o candidato do PT, confrontado com o fato, respondesse: - O cara lá que tem uma camisa minha, comete lá um excesso. O que eu tenho a ver com isso? Eu lamento. Peço ao pessoal que não pratique isso. Mas eu não tenho controle sobre milhões e milhões de pessoas que me apoiam.”
Se não pode controlá-los como “lider” político, será que o candidato da extrema-direita vai conseguir controlá-los quando for Presidente?
Quem vai “segurar” certo tipo de policial que acha que é uma marca de amor, ou de “budismo”, o desenho a faca de um símbolo que levou à morte de 70 milhões de pessoas na Segunda Guerra Mundial há menos de 70 anos na barriga de uma moça de 19 anos, porque ela estava vestida com uma camiseta do #elenão, com um apelo político divergente?
Quem vai conter o guardinha da esquina, que está careca de saber a opinião do próximo presidente da República sobre tortura, abate de “bandidos”, abuso de autoridade, e isenção de ilicitude para agentes do Estado agindo em suposta “defesa da sociedade”, em um país em que policiais matam até policiais “por engano”, quando ele parar em uma blitz, daqui há alguns meses, alguém que ele achar que, por causa de uma camiseta ou de um boné, pensa diferente dele?
Quem vai segurar a mão de quem decidir meter a faca ou as balas da arma cujo porte acabou de receber do Estado, no vizinho ou no interlocutor de bar, quando não concordar com o voto ou a opinião política dele, como aconteceu em Salvador com o Mestre Moa?
Será que não teria sido mais conveniente, diante da crescente espiral de radicalização, um apelo do candidato vitorioso no primeiro turno em favor da democracia e de que seus “seguidores” evitassem, no futuro, o uso da violência como arma política, como ele acabou fazendo, em uma pequena nota no twitter, posteriormente?
Ou o país virará um caos quando ele for eleito, e o ódio explodir desatadamente, por parte de seguidores sobre os quais ele diz não ter controle, e o “governo” se comportar como Pilatos, olhando para o outro lado, e lavar, a cada vez que algo assim acontecer, suas mãos na bacia da hipocrisia, não mais cheia de água, mas de sangue?
Na Alemanha Nazista, na qual, emulando oDeutschland Uber Alles, que inspirou o slogan Brasil acima de tudo, Hitler também não segurou o porrete que quebrou cabeças de famílias judaicas e de suas crianças ou as pedras que destruíram milhares de vitrines de lojas de judeus alemães e centenas de Sinagogas na Kristallnacht, nas ruas das grandes cidades germânicas, em novembro de 1939.
Ou os relhos empunhados por oficiais das SS que expulsavam ao alvorecer judeus e ciganos de suas casas e de suas carroças cobertas nas florestas da Europa Central, para massacrá-los nos bosques e montanhas.
Ou os pedaços de ferro que se abatiam com violência inominável, entre urros de dor das vítimas, e grunhidos de êxtase dos seus algozes, sobre os corpos nus de judeus e de socialistas mortos em brutais pogroms, registrados pelas câmeras de sorridentes cinegrafistas nazistas, como o que ocorreu nas ruas de Lvov, na Ucrânia, em 1941 - cujas cenas deveriam ser vistas por todos os brasileiros no youtube.
Nem pressionou o gatilho das armas que eram disparadas contra a nuca de crianças e mulheres ajoelhadas na beira das fossas que haviam acabado de abrir com as próprias mãos, por membros dos Einsatzgruppen.
Nem “organizaram” com pancadas de cilindros de oxigênio e chicotes de fio elétrico trançado, fazendo com que se enfiassem, uns atropelando os outros, como sardinhas, no último corredor que levava à sala escura da câmara de gás de campos de extermínio, como Maidanek, na Polônia, a "fila" de idosos e de seus netos recém desembarcados de vagões de trens para transporte de gado, depois de dias de viagem sem água ou alimentos através da Europa.
Mas as mãos de Hitler armaram todas as mãos que fizeram isso quando ele chegou ao poder.
Elas avisaram, incentivaram, profetizaram, escreveram, claramente, em um livro, o Mein Kampf, o que iria acontecer caso ele viesse a ocupar o mais alto cargo político da Alemanha.
Sustentando seu dono durante seus discursos, proferidos caninamente, em meio a nuvens de perdigotos de ódio, contra os socialistas, os comunistas e os judeus, nas manifestações do Partido Nazista e, pelo rádio, para milhões de residências alemãs, onde eram ouvidos, contritos, por milhões de imbecis enfeitiçados pelo ódio e o preconceito, enquanto o coro monocórdico da multidão enfurecida gritava, por trás do som gutural de seus insultos, Heil! Heil! Heil! Heil!
Mobilizando milhares de “seguidores” que, como fazem hoje outros milhares de “seguidores” em nosso país, começaram a sua carreira de “militantes” jurando matar comunistas e socialistas depois que seu líder chegasse ao poder e terminaram fazendo experiências genéticas, sabão de sebo humano e móveis de pele de homens e de mulheres em campos de extermínio como Treblinka, Auschwitz, Sobibor, Dachau, Flossenburg, Buchenwald.
E olha que naquele tempo não havia internet nem redes sociais, nas quais, sem nenhuma interferência das autoridades, se espalha já, há mais de dez anos, uma maré montante de esgoto de ódio, calúnias, ameaças e mentiras no Brasil, que, como a irresistível marcha de um infernal Flautista de Hamelin, penetrou de forma profunda e doentia na mente de boa parte da população, depois que suas comportas foram abertas pelas bandeiras calhordas da antipolítica, de um pseudo morolismo hipócrita e de uma suposta doutrina anticorrupção corrompida, ela mesmo, pelos demônios do corporativismo, da egolatria, da parcialidade, da seletividade, do partidarismo, e da abjeta sujeição aos interesses estrangeiros.
Ah! se cada cidadão brasileiro pudesse perceber o que está ocorrendo à nossa volta.
Mais do que saber se o seu candidato poderá controlá-los, importa entender como esses “seguidores” veem a si mesmos.
Como mostram os modelos musculosos que servem para a venda das suas camisetas, metidos, “malhados”, com uma expressão de grosseria contida e de vaga estupidez sobressalente.
Qual é a mensagem subjacente?
Que o fascismo é a primazia dos mais fortes sobre os mais fracos?
Dos covardes contra os indefesos?
Das armas sobre a inteligência?
Da pseudo maioria sobre aquele que é ou que pensa diferente?
Ora, o leitor já deve ter cruzado por aí, no seu antigo colégio, na rua, no bar, ao longo de sua vida, com esse tipo de gente.
O fascismo é o bullying institucionalizado.
O bullying elevado à enésima potência, à categoria de uma pseudo ideologia do egoísmo, do preconceito, da violência e da brutalidade.
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