*José Álvaro de Lima Cardoso
A constatação de que a crise brasileira é superdimensionada por razões políticas não deve significar a sua negação. Os problemas econômicos se agravaram e isso alimenta fortemente a crise política: inflação mais alta, arrecadação em queda, piora do mercado de trabalho e efeitos do ajuste neoliberal, que cortou gastos sociais. Mas, em todo o processo de instabilidade política atual, alguns objetivos são inegáveis, ainda que não sejam tão evidentes: 1) desfazer os limitados avanços que os trabalhadores conseguiram nos últimos anos; 2) realinhar o Brasil com a política internacional dos EUA; 3) determinar o fim da soberania no pré-sal (modelo de Partilha). Além disso, o brutal acirramento do enfrentamento político no Brasil está também relacionado à crise internacional iniciada em 2008, que provocou queda do preço das commodities e redução do preço do petróleo, tornando mais curto o cobertor da economia internacional e brasileira.
Outro fator essencial por detrás do
barulho da crise brasileira é a perda de hegemonia dos EUA, enquanto potência,
e a gradual ascensão da China. A relação deste país com os EUA é de cooperação e,
ao mesmo tempo, de acirrada disputa. A China, como os EUA e qualquer Estado
Nacional, deseja o mesmo que os EUA: se apropriar do maior percentual possível
do produto mundial, para beneficiar suas classes dominantes. Por conta disto a disputa é
acirrada. Claro que há radicais diferenças de métodos para atingir os
objetivos, entre os dois países. Como registrou o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães
em recente debate, os EUA são “capazes de tudo”. Nós sul americanos, sabemos
bem o que essa afirmação representa.
O certo é que a participação do Brasil
nesse processo (por exemplo a entrada e ativa participação nos BRICS), é importante,
pelo que o país significa internacionalmente em termos geopolíticos e econômicos.
Por exemplo, o Brasil assinou com a China recentemente, a parceria numa série
de projetos para investimentos no país, que representam bilhões de dólares, o que
mostra forte aproximação política, comercial, econômica (inclusive a ferrovia
transoceânica, que atravessa o Brasil de Leste a Oeste, do Rjo de Janeiro ao
Peru, até o Pacífico). O Brasil não aderiu, outro exemplo, ao recente acordo de
livre comércio hegemonizado pelos EUA, Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em
inglês), e que conta com vários países da América Latina (Chile, Peru e
México). Como se sabe, o acordo faz parte da estratégia dos EUA de ampliação de
mercados e de isolamento da China, que tem praticado política de comércio internacional
bastante agressiva na Região.
Além dos problemas políticos, o Brasil
enfrenta problemas econômicos não triviais (qual país não os enfrenta
atualmente?). Mas é fundamental tentarmos entender o está por detrás das aparências
dos argumentos colocados. Em nenhuma área se produz tanta enganação e falácias
quanto na questão do pré-sal e da Petrobrás: não tem e não terá recursos para explorar, está muito endividada, a produção
caiu, a Partilha inviabiliza a empresa, e assim por diante. Dentre
o conjunto de falácias, que se propaga como fogo na gasolina, está a de que a o
Regime de Partilha é um “fardo” para a Petrobrás carregar. Cálculos de
especialistas avaliam que o pré-sal sozinho poderia colocar nosso PIB per
capita em torno de 24 mil dólares anuais, em valores atuais, valor próximo ao
PIB per capita dos países mediterrâneos da União Europeia. É desse terrível
“fardo” que alguns conhecidos “patriotas” querem livrar a Petrobrás.
*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.
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