Clemente
Ganz Lúcio[1]
A produção social do bem-estar, da qualidade
de vida e do
equilíbrio ambiental no Brasil depende muito da atividade
industrial: da
ampliação da capacidade de produção, para atender à demanda
interna e participar
da pauta exportadora; da agregação de valor; do desenvolvimento
de processos e
produtos com alta eficiência energética, baixas emissões de
carbono, entre
outros atributos relevantes.
As dificuldades que a indústria enfrenta não
são simples de
ser superadas. Exigem uma política econômica de apoio ao
desenvolvimento do
setor, com câmbio que permita a exportação e iniba as
importações espúrias; crédito
com juros decentes; financiamento de longo prazo; simplificação
tributária;
investimento em infraestrutura, entre outros. É necessária
também uma política
industrial que incentive a inovação tecnológica, a criação de
produtos etc.
Uma indústria forte deve ser eixo de um
projeto de país,
mobilizado por uma nação capaz de afirmar seu rumo e conduzi-lo.
Um dos
objetivos desse eixo estratégico deve ser a geração de empregos
que,
incorporando novas tecnologias, possam difundir, nos processos
de produção, a
inovação para todos os setores. O incremento da produtividade
aumenta a
capacidade produtiva, o volume produzido, o valor agregado à
produção, bem como
abre espaço para uma repartição desses resultados de maneira que
sejam
enfrentadas e superadas as desigualdades existentes. Devemos ter
claro que a
superação das desigualdades e da pobreza depende também do
crescimento
econômico e este, da atividade industrial forte que se amplia.
O comportamento do emprego na indústria é um
indicador da
gravidade da situação no setor. Os dados da Pesquisa Mensal de
Emprego e
Salário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) revelam o
tamanho do problema. Nos primeiros seis meses do ano, o emprego
industrial caiu
5,2%. Se comparado ao mesmo período do ano passado, a queda é de
6,3% em termos
de pessoal ocupado. Essa redução repercute sobre o volume de
horas pagas, que,
por sua vez, diminuiu 5,8% no semestre e 7,1% na folha de
pagamento real.
O resultado é observado nos 18 setores
pesquisados. Máquinas
e aparelhos eletroeletrônicos, produtos de metal e meios de
transporte são os
mais afetados, com quedas entre 11% e 14%. Os dados já permitem
afirmar que,
pelo quarto ano consecutivo, haverá redução do emprego
industrial (houve queda
de 1,4%, em 2012, 1,1%, em 2013, e de 3,2% em 2014) talvez
superior a 4%. Os
reflexos desses resultados para toda a economia são dramáticos.
Não há nenhuma solução fácil e, muito menos,
mágica. A
transição para o crescimento, em um contexto internacional
extremamente
adverso, com grandes dificuldades internas, exige ampla
capacidade de
mobilização das forças econômicas e políticas para iniciativas
transformadoras
da situação atual. É preciso construir convergências, o que
necessariamente
contrariará interesses. Os conflitos no interior da esfera
produtiva, assim
como os conflitos entre a iniciativa de investimento na produção
e o rentismo,
são significativos e complexos.
A saída é política e pública. Política porque
exige mobilizar
e articular as forças sociais para a construção das saídas.
Pública porque
requer que esse movimento esteja sustentado no interesse geral
da nação, na
capacidade de participação dos atores sociais, no uso e
fortalecimento de
instituições que se renovam ao enfrentar a crise, no
insubstituível espaço
democrático, na qualidade do debate público e em vigoroso
esforço coletivo para
fazer escolhas orientadas pelo bem comum, pela promoção do
bem-estar social e pela
qualidade de vida para todos.
[1]
Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES –
Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social.
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