Clemente
Ganz Lúcio[1]
A crise internacional de 2008 prolonga-se nos
países
desenvolvidos, especialmente na Europa e Japão, apesar de sinais
de melhora no
desempenho econômico dos EUA. Os países emergentes vêm buscando
alçar seu
desenvolvimento e, diante da crise, procuraram sustentar um bom
desempenho
econômico. Para tanto, lançaram medidas anticíclicas, e
conseguiram manter a
demanda por commodities
agrícolas e minerais.
Também preservaram certa capacidade exportadora de manufaturados
e ampliaram os
investimentos em infraestrutura. Nesse jogo, a China teve papel
central e o
Brasil foi um jogador importante, especialmente pela ampliação
do mercado
interno de consumo de massa.
Entretanto, desde 2014 os sinais das economias
emergentes estão
mudando, o que em parte pode comprometer a trajetória para
alçá-los à condição
de países desenvolvidos. O sinal de alerta soou mais alto quando
a China tomou
uma série de medidas para segurar o nível de atividade, tentando
evitar uma queda
abrupta de crescimento, com reflexos sobre os demais países.
Como resultado, o
volume do comércio
internacional será menor,
Oe estima-se que a
expansão nos últimos
12 meses esteja na casa dos 1,5%, bem abaixo da média mundial
anterior que era
de 7% (IFF – Instituto de Finanças Internacionais).
Com menor crescimento, haverá menor demanda
por commodities
agrícolas e minerais,
inclusive petróleo e manufaturas. Em julho, a demanda externa
chinesa para o
mundo teve queda de mais de 8%. Com isso, os preços desses
produtos estão em
queda, segundo o FMI, e ficarão em média 16% menores que o ano
anterior, tendência
reforçada pela valorização do dólar. Um volume menor de vendas,
com preços mais
baixos têm impacto direto na economia
dos
países emergentes.
A recuperação da economia americana é mais um
motivo que faz
refluir a presença dos investidores externos nos países
emergentes. A perda do
grau de investimento amplia esse refluxo e torna as dívidas mais
elevadas. Por
exemplo, a dívida das empresas não financeiras dos países
emergentes subiu de
60% para 80% do PIB, com a parte em dólar aumentando de 10% para
40%. O dólar
mais caro, faz crescer as dividas das empresas em moeda
nacional.
O Brasil, que tem uma economia integrada, é
afetado.
Entretanto, somos a 7a maior economia do planeta, com
importantes
ativos naturais, um grande mercado interno, vasto território e
uma estrutura
produtiva diversificada. Nossa tarefa é construir caminhos para
superar os
graves entraves, externos e internos, que comprometem nossa
trajetória de
crescimento e desenvolvimento.
As dificuldades externas devem orientar a
política econômica
para o fortalecimento da capacidade de o nosso mercado interno
de consumo de
massa continuar sendo um vetor determinante do crescimento do
país. Para isso,
é fundamental sustentar o emprego, os salários e as
transferências de renda,
bem como, realizar grande esforço para recuperar – e inclusive
ampliar - os
investimentos em infraestrutura econômica, social e produtiva. É
necessário reindustrializar
nossa economia, agregando valor e incrementando a produtividade,
que, dessa
forma, deve transbordar para todos os setores, e chegar ao
crédito produtivo e ao
consumo com taxas de juro decentes, entre outros. Esse movimento
é coerente com
o investimento para ampliar nossa capacidade de participar do
comércio mundial
de manufaturados e de produtos de maior valor agregado e de
serviços
especializados.
O Brasil, integrado à economia mundial, deve
ser condutor de
sua trajetória de desenvolvimento. Para isso, precisamos de uma
política
econômica coerente com o desenvolvimento produtivo, o que pode
ser buscado através
de um debate público que crie um campo de entendimento e
compromissos entre os
atores sociais e agentes econômicos.
[1] Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
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