Por Viegas Fernandes da Costa.
Enquanto
crianças morriam do lado de lá do mundo, eram apenas notícias rápidas,
estatísticas sem nome. Como as vítimas do genocídio em Ruanda, como os
cadáveres espalhados sobre o chão do Tibete.
Enquanto
velhos ultrajados tropeçavam em seu desespero, e morriam afogados na
terra, sob a chuva de bombas fabricadas no Ocidente, eram apenas velhos
que nossa indiferença desumanizava.
Mas
o mar, este mesmo mar que lançou a Europa sobre o mundo, em sua sanha
conquistadora, fabricando escravos e saqueando riquezas, devolve agora
crianças afogadas, e então parece que algo estala.
O
insuportável não é a dor do outro, a miséria do outro, a fome do outro.
Insuportável é o mar nos devolver este outro afogado. É o mar lançar
este outro morto dentro da nossa sala de jantar.
Dentro
da nossa sala de jantar este outro passa a ter nome: Aylan Kurdi um,
Galip o outro. Passa a ter nome e idade, 3 e 5 anos. Passa a ter
identidade. É o mar esbofeteando nossa cara de pau, nosso secular
silêncio, nossa altivez ocidental.
O mar nos dizendo que a despeito deste mundo de luzes, a morte chega em ondas.
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