*José
Álvaro de Lima Cardoso
O
Brasil vem crescendo pouco nos últimos anos e deve encerrar 2015 com recuo na
produção de riqueza, ou seja, o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano será inferior,
em termos reais, ao de 2014. As consequências da recessão econômica, em combinação
com uma inflação mais alta que a média dos últimos anos, têm tornado as
negociações coletivas ainda mais difíceis do que normalmente já o são. Os
resultados das negociações no primeiro semestre, apurados pelo Balanço das
Negociações no Primeiro Semestre, do DIEESE, que serão divulgados até o final
do mês, comprovarão estatisticamente a deterioração do quadro. Este cenário adverso, obviamente coloca em risco os
ganhos reais de salários e a melhoria da distribuição de renda, conquistas essenciais
do Brasil nos últimos anos.
A
aplicação do ganho real nos salários possibilita a ampliação do nível de renda
das famílias, que tem sido o pilar da melhoria da distribuição de renda no
Brasil nos últimos anos. Uma melhoria dos salários reais, exerce efeito
imediato sobre o nível de bem-estar das famílias, com efeito sobre saúde,
educação e outros indicadores. Economias desenvolvidas, como pretende ser o
Brasil, pressupõem mercados consumidores robustos, daí a importância de manter
o crescimento linear do emprego e da renda. Uma das razões das crises
econômicas contemporâneas decorre da incapacidade de a sociedade consumir
produtos e serviços, em decorrência do desemprego da força de trabalho. As
crises cíclicas do capitalismo são de superprodução, ou seja, de um lado uma
grande capacidade produtiva ociosa porque faltam consumidores; de outro uma
porção de gente querendo consumir, mas sem dinheiro para fazê-lo.
Ademais, a ampliação do nível de renda
das famílias pode abreviar o período recessivo do ciclo econômico, porque possibilita
a manutenção da distribuição de renda e dos níveis de consumo. Evita, assim,
que o empobrecimento das famílias alimente e prolongue o processo recessivo. A
manutenção da distribuição de renda via aumento dos salários garante que a
recuperação econômica seja antecipada, impedindo um ciclo vicioso de aumento do
desemprego, queda nos salários reais e queda na demanda efetiva.
Sabe-se que as empresas já
vêm ajustando seus custos com mão de obra, via redução do quadro
de pessoal e também através rebaixamento salarial através
da rotatividade, que é enorme no Brasil. Em períodos de crise, inclusive,
aumenta o hiato entre a média dos salários de contratação e de demissão. Sendo
assim, o achatamento do salário real, através da
não concessão de aumentos reais, pode agravar ainda
mais a situação da economia, na medida em que deve contribuir para
um desaquecimento maior do mercado interno. Em um cenário em que a
economia não cresce e o governo vem reduzindo os seus gastos, se o salário não
tiver ganho real é provável que haja uma redução ainda mais forte no consumo,
levando a economia a uma espiral negativa, puxada pela redução da demanda
agregada.
*Economista
e supervisor técnico do DIEESE.
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