por Vitor Nuzzi, da RBA publicado 28/04/2015 21:13, última modificação 29/04/2015 11:25
Ricardo Stuckert/Instituto Lula
São Bernardo do Campo (SP) – Ao abrir, na noite de
hoje (28), simpósio sobre negociações coletivas e a fase das greves na
região, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva considerou o Projeto de Lei
4.330, da terceirização, aprovado na Câmara dos Deputados, e agora no
Senado, uma volta ao período pré-varguista. "É um retrocesso a
antes do governo Getúlio Vargas. Estamos voltando a 1930. Eles estão
tentando estabelecer uma relação de trabalho com um só vencedor, que é o
patrão, e milhões de perdedores. Com essa lei, eles querem voltar a um
passado em que a classe trabalhadora era tratada da forma mais perversa
possível", disse Lula.
Minutos após o encerramento do ato de abertura, em rápida conversa com jornalistas, Lula disse ter certeza de que a presidenta vetará o projeto, caso o texto também passe no Senado. "Tranquilamente a companheira Dilma vai vetar", afirmou.
Minutos após o encerramento do ato de abertura, em rápida conversa com jornalistas, Lula disse ter certeza de que a presidenta vetará o projeto, caso o texto também passe no Senado. "Tranquilamente a companheira Dilma vai vetar", afirmou.
Se é verdade que o mundo do trabalhou mudou
bastante desde 1943, ano de criação da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), não se pode, "em nome dessas mudanças, pegar a CLT e jogar
fora", acrescentou o ex-presidente, para quem a livre negociação é um
bom recurso para que tem sindicatos fortes.
Para ele, o desafio é conseguir estabelecer
contratos coletivos de trabalho que mantenham conquistas e contenham
inovações, respeitando a realidade de cada categoria. "Eu nasci na vida
sindical sendo contra a estrutura sindical do Getúlio Vargas. Agora, a
verdade é a seguinte: se a gente quiser mudar, é para algo melhor. E o
projeto da terceirização é pior."
Durante pouco mais de uma hora de discurso,
para uma plateia de procuradores, advogados e sindicalistas, entre eles
antigos companheiros de seu tempo de dirigente metalúrgico, Lula falou
detalhadamente não só sobre a greve de 41 dias no ABC, em 1980, mas das
paralisações que a antecederam, a partir de 1978, ainda durante a
ditadura. "Este sindicato é responsável por quase tudo que aconteceu de
mudança nas relações de trabalho nos últimos 35 anos."
Presidente do então Sindicato dos Metalúrgicos
de São Bernardo do Campo e Diadema de 1975 a 1981, Lula mostrou
preocupação com a formação de novos dirigentes na categoria e criticou
sindicalistas que se perpetuam no cargo – ressalvando que, no caso dos
metalúrgicos do ABC, foi estabelecido um limite de dois mandatos por
presidentes. "Hoje é mais difícil porque a luta sindical exige que eles
não façam só discurso. Eles têm de propor coisas. Têm de estudar muito
mais e serem propositivos."
O secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre,
ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, também fez críticas
ao PL 4.330, estabelecendo uma relação com o período das greves de 1978 a
1980. "A maioria dos trabalhadores (atuais) não viveu aquela época.
Conhecendo a história, a gente valoriza as nossas conquistas. Se quiser
preservar e criar direitos, não tem jeito. E isso é muito atual."
Segundo ele, o projeto da terceirização poderá criar empresas sem
trabalhadores, ao transferir toda a produção para prestadores de
serviços.
Diretor do Centro de Estudos Sindicais e de
Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas
(Cesit-Unicamp), José Dari Krein vê no recente protesto das centrais
contra a terceirização o mais importante ato sindical dos últimos 15
anos. "O ato não foi de grande importância para a imprensa, foi até
escondido", afirmou o professor.
O procurador-geral do Trabalho, Luís Antônio
Camargo de Melo, acredita que o resultado será diferente no Senado.
"Creio que a discussão estará fundada em outras premissas."
O simpósio "Ação Coletiva, Democracia, Trabalho
e Transformação Social", que termina hoje (29), é organizado pelo
Sindicato dos Metalúrgicos, pela Escola Superior do Ministério Público
da União e pelo Ministério Público do Trabalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário