do Tijolaço , texto de Fernando Brito:
Ideal é que não ocorressem mas, com ou sem Lava-Jato, teria de haver corte no plano de investimentos da Petrobras.
Com
o dinheiro mais caro no mundo – e vai ficar mais – e o agravamento da
redução de seu rating pelas tais agências de classificação de risco,o
crédito necessário à manutenção do ritmo seria pesadíssimo.
Mas
há outras razões a ponderar, tanto para não considerar tão grande o
corte como, em sentido contrário, ver que ele carrega em si notícias
ruins e uma notícia tranquilizadora.
A razão de relativizar o
tamanho do corte é simples e pode ser alcançada por qualquer pessoa,
sem grande esforço: uma companhia que tem petróleo e seus derivados como
produto ( e lógico, receita) tem de investir em função do preço que
espera receber, tal como seria com bananas ou laranjas.
Embora não represente um cálculo exato, há nisso uma proporção que nos ajuda a raciocinar.
Ano
passado, quando se lançou o plano de investimentos, mesmo considerando
com valor os 15 milhões em projetos não confirmados – que elevou de 206
para pouco mais de 220 bilhões de dólares o valor total, o preço do
petróleo Brent era de 110 dólares por barril.
Logo, os
investimentos “valiam” o mesmo que 2 bilhões de barris em cinco anos, o
equivalente investir, a cada dia, 1,09 milhão de barris de petróleo.
Agora,
com barril do Brent a 62 dólares, os US$ 130 bilhões previstos para
investimento até 2020 equivalem a 2,1 bilhões de barris. Ou que a
empresa investirá, a cada dia, 1,14 milhão de barris do óleo que
produzir.
Claro que este não é o exato retrato, porque não foram
considerado, nos dois cálculos, o incremento de produção, o que
favoreceria mais o plano anterior do que o atual. Nem o fato de que se
espera uma alta nos preços do óleo, enquanto, no ano passado, ao
contrário, estimava-se uma pequena queda de valor, que aconteceu antes e
em maior escala que qualquer previsão. E, ainda, porque a receita não
reproduz, com exatidão, o volume de produção.
Mas ajuda a raciocinar.
E
há algo muito grave, que dá ideia do impacto criado pela paralisação do
setor produtivo criada pela caça às bruxas da Operação Lava Jato.
Esperava-se
um corte nas metas de produção de curto prazo, em razão do rebaixamento
dos preços do petróleo, que implicariam ganhos menores com sua
exportação em bruto, que se justificaria, por sua vez, como fonte de
financiamento da ampliação de nosso parque de refino e da indústria
petroquímica em geral.
Mas não na escala que ocorreu.
Pretendia-se dobrar a produção de petróleo no Brasil até 2020 (de 2,1 mil barris/dia para 4,2 mil).
Agora,
era certo que este número iria cair, mas menos do que se prevê-se
agora: um aumento de 40%, para 2,8 mil barris diários.
E parte
expressiva desta queda deve-se à dificuldade dos fornecedores da
Petrobras de entregar a tempo instalações e equipamentos.
Grosso
modo, é possível dizer que a Lava Jato atrasou em mais de dois anos a
exploração de petróleo no Brasil. Um prejuízo centenas ou milhares de
vezes maior do que tudo o que, porventura, os ladrões da empresa possam
ter desviado.
Não por falta de petróleo, e nem tanto por falta de
recursos para investir, mas pela dificuldade de completar a tempo os
projetos em curso e a prudente postergação de outros. Todas as áreas que
deveriam entrar em produção, entrarão, mas com volume menor do que o
previsto.
Esta é a boa notícia: embora se vá adiar a
operação ou mesmo vender áreas menos promissoras ou de menor rendimento
da extração, a essência do potencial petrolífero brasileiro, o pré-sal,
está preservada.
Do investimento da Petrobras, 83% ( US$ 108
milhões) ficarão da área de Exploração e Produção, aquela que o
inesquecível Severino Cavalcanti chamava “diretoria que fura poço”.
Destes, US$ 64,4 bilhões, 60%, em novos sistemas de produção no Brasil,
dos quais 91% no pré-sal.
Segundo o comunicado da empresa à
Comissão de Valores Mobiliários, o foco será cumprir os programas
exploratórios mínimos. Ou seja, não devolver áreas.
A redução dos
investimentos da Petrobras seria um argumento muito forte para os
defensores de que a brasileira não tem fôlego para investir na
exploração de nosso petróleo. Balela. Exijam que se divulgue o que as
petroleiras estrangeiras investiram no Brasil, exceto para comprar
blocos ou para pagar a parte que possuem em blocos explorados pela
Petrobras – e não vão divulgar – e veremos que não dá para “tapar o
buraco da cárie”.
Neste momento de baixa do petróleo, então, até obriga-las a cumprir os compromissos já assumidos será uma luta.
O negócio, agora e quase sempre, é comprar, fazer o fato consumado e garantir que o petróleo será deles.
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