IMPORTANTE: Os
cenários não
refletem o que desejo, mas o que julgo factível, à luz das
análises
Duas informações foram vazadas
antecipadamente pela
Lava Jato: os R$ 10 milhões em dinheiro vivo para Michel
Temer; os R$ 25
milhões para José Serra através de conta no exterior. Há
informações seguras de
pelo menos um depósito na conta de sua filha Verônica Serra.
Se quebrar o
sigilo das contas de Verônica, não sobrará pedra sobre pedra.
Já se sabia que executivos da
Odebrecht e da OAS
implicariam Aécio Neves, Michel Temer e José Serra, entre
outros. Não haveria
como varrer para baixo do tapete.
A comprovação da parcialidade ou
isenção da Lava
Jato dependerá das providências que forem tomadas pelo
Procurador Geral da
República Rodrigo Janot.
Hoje em dia, não se tem a menor
ideia sobre o
desenrolar das ações contra Aécio Neves e outros próceres
tucanos. Todos os
processos são mantidos sob severo sigilo. Só vaza aquilo que
se interessa que
vaze.
À luz de tudo o que se sabe sobre
a Lava Jato e
sobre o comportamento dos principais atores, é possível montar
algumas
hipóteses de trabalho.
Peça 1 - a divisão entre os
vitoriosos
Há dois grupos nítidos na
efetivação do golpe: um
deles pode ser denominado genericamente de mercado, que
representa o poder de
fato; o outro, a camarilha dos 6 - Michel Temer, Eliseu
Padilha, Geddel Viera
Lima, Roberto Jucá, Moreira Franco e o finado Eduardo Cunha -
que representa a
maioria ocasional no parlamento.
O poder mercado é composto pelo
mercado
propriamente dito, grandes grupos, a mídia e autoridades
brasilienses, além do
apoio constante dos Estados Unidos. Ele tem uma agenda clara.
Não faz questão
da presidência, mas do controle da Fazenda e do Banco Central
e de implantar as
seguintes medidas:
1. Acabar com o Estado de
bem-estar social previsto
na Constituição de 1988, através do limite nominal para
gastos.
2. Manter o trinômio juros altos,
ajuste fiscal
rigoroso e livre fluxo de capitais, a chamada trindade
impossível, só possível
em países de opinião pública subdesenvolvida.
Os sinais dessa divisão são
claros. O Ministro Luís
Roberto Barroso, do STF, por exemplo, do círculo de influência
da Globo, já
explicitou que a banda do PMDB é inadmissível, mas que a
equipe econômica é de
primeira. E o senador Cristovam Buarque, dono de notável
discernimento,
chegou a dizer que votaria contra o impeachment se Dilma
Rousseff
se comprometesse a bancar Henrique Meirelles.
É um coral enorme. Praticamente
cada comentarista
da Globo e dos demais grupos repete pelo menos uma vez por dia
o bordão.
Peça 2- quem representará o
mercado
A ideia de que o PSDB era o
mercado sempre foi
falsa. No Plano Real, o partido serviu apenas como cavalo de
Troia para os
economistas de mercado - Pérsio, Bacha, André, Gustavo, Malan,
Mendonça de
Barros, Armínio entre outros. Em todo o processo do Real, a
economia foi
conduzida exclusivamente por esse grupo.
Dentro do PSDB, apenas Fernando
Henrique Cardoso
tinha o endosso e endossava o grupo. Depois, parte do grupo se
aproximou de
Aécio Neves, parte de Marina Silva. Sempre houve enorme
resistência ao nome de
Serra devido ao seu voluntarismo.
Quando os economistas do Real
deixaram o PSDB, o
partido não conseguiu mais desenvolver um discurso próprio.
Portanto, quem tem a ideologia, o
discurso e as
alianças legitimadoras é o mercado. Em 2010, suportaram Serra
de nariz virado.
E Temer só interessa se cumprir o mandato de erradicar a
Constituição de 1988,
mesmo não tendo um voto.
E aí entram as denúncias contra
Temer e Serra.
Peça 3- o fator Gilmar Mendes
No final de semana, na condição de
presidente do
TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o Ministro Gilmar Mendes
mandou analisar a
possibilidade de cassação do PT. Trata-se de um dos factoides
periódicos que
ele tira de sua maleta mágica, visando desviar o fogo da mídia
quando ameaça
seus aliados. Provavelmente foi para desviar a cobertura da
mídia das denúncias
contra Serra.
Lembre-se:
O grampo do STF - no auge das investidas da
Satiagraha contra
Daniel Dantas, Gilmar protagonizou a história do grampo sem
áudio, e do grampo
no STF, cuja materialidade jamais foi comprovada. Nessa época,
um de seus
principais assessores era Jairo Martins, o principal araponga
de Carlinhos
Cachoeira. O carnaval permitiu instaurar a CPI do Grampo
visando esvaziar a
Satiagraha.
A conversa com Lula - no
auge do julgamento do
"mensalão", criou a versão para a conversa com Lula, que foi
cabalmente desmentida pela única testemunha presente: Nelson
Jobim.
A vaquinha de Dirceu -
quando explodiram versões de
seus contatos com o ex-senador Demóstenes Torres, Gilmar criou
a história de
que a vaquinha para pagar a multa de Dirceu no mensalão era
fruto de milhares
de laranjas.
A ofensiva contra o PT visa apenas
isso: criar um
fato que possa se contrapor às denúncias contra Temer e,
especialmente, contra
Serra.
Peça 4 - o fator Temer
O interino se equilibra entre
mercado e sua turma.
A cada dia que passa se comporta cada vez mais como dono do
poder. E, a cada
movimento, denota propósitos continuístas.
Tem produzido um aumento
substancial no déficit e
na dívida pública em troca da promessa futura dos limites
nominais para os
gastos orçamentários. Com a baixíssima popularidade junto à
opinião pública, as
sucessivas denúncias contra ele - culminando com a
denúncia-bomba da Odebrecht
- em circunstâncias normais, cairia.
Mas não se vive tempos normais.
Há três cenários possíveis.
Cenário do pacto sem Temer
Haveria algum espaço para que seu
afastamento
pudesse resultar em pacto nacional visando uma trégua até as
eleições de 2018,
algo no qual os presidentes do Senado e da Câmara abrissem mão
da sucessão
permitindo que fosse conduzido pelo presidente do STF Ricardo
Lewandowski,
É uma possibilidade, mas um tanto
complexa para ser
aceita, mas que poderá se tornar viável dependendo do
desenrolar da crise.
Por exemplo, se o PGR decidir
atuar firmemente
contra Aécio, Temer e Serra, ganhará pontos para radicalizar a
caçada à Lula. O
jogo seria zerado fortalecendo a ideia de pacto sem
vencedores.
De qualquer modo, significaria
manter no posto a
atual equipe econômica.
Probabilidade baixa,
principalmente porque haveria
forte resistência no Congresso.
Cenário da guerra com o
Congresso
O Procurador Geral da República
decide pedir
autorização para investigar o presidente interino e outras
figuras de destaque
denunciadas pela Odebrecht e OAS. Imediatamente estouraria uma
guerra, com a
camarilha se valendo de seu poder legal no Congresso para
represálias contra o
PGR e o MPF.
O bravo Dr. Janot sabe que uma
coisa é manter a
independência sem risco em relação ao ex-Ministro José Eduardo
Cardoso e Dilma
Rousseff; outra é tratar com profissionais, entrincheirados
no Congresso
e ameaçando explodir o paiol se o inimigo se aproximar.
Probabilidade baixa
Cenário da contemporização
A atuação do PGR não se mede pelas
ações que
propõem, mas pela maneira como trabalha cada processo. Basta
colocar mais
recursos em um e retirar de outro para ditar o ritmo de ambos.
Foi assim que
até agora Aécio Neves se mantém incólume.
Com Temer deverá ocorrer o mesmo -
mas aí por
razões de Estado. Certamente a esta altura devem estar
conversando em Brasília
membros do STF, o PGR e seu grupo, visando encontrar maneiras
de parecer que
foram tomadas providências sem comprometer a governabilidade.
Quem pariu Mateus, que o embale.
Se o PGR parte
para o enfrentamento, deflagra uma crise política. Se
contemporiza, rasga a
fantasia.
Poupar Temer pode se justificar em
nome da
governabilidade. Mas não há nenhum motivo para esquecer Serra.
Como se diz em Minas, quem monta
em cavalo grande,
arrisca a levar um tombo maior.
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