Clemente
Ganz Lúcio [1]
A história
mostra que as lutas dos
trabalhadores são longas e difíceis. O processo civilizatório
que eleva o
padrão de vida da sociedade como um todo conta com a
participação determinante
dos trabalhadores. Eles inovaram, por meio dos sindicatos, em
bandeiras de
interesse geral, como a democracia, a liberdade, a igualdade, os
direitos
sociais em geral, criaram partidos e contribuíram para a
construção do Estado
moderno. Fizeram muito.
Para os
trabalhadores, lutar é a
condição para viver. Por isso, criam os sindicatos, um solidário
instrumento de
luta. Reduzir a jornada de trabalho é uma dessas lutas que nos
acompanha desde
a origem do sindicalismo. Exemplos não faltam. Entre 1850 e
1870, a jornada
média na Alemanha era de 75 horas (se uma pessoa trabalha 60 e
outra, 90 horas,
a média dá 75). A média encobre muitas desigualdades! Na
Inglaterra, foi o
Factory Act que, em 1844, reduziu a jornada feminina de mais de
18 para 12
horas diárias.
Um anúncio
publicado em 1813 por um
fabricante de algodão nos Estados Unidos dizia: “Cotton Factory
procura algumas
famílias sóbrias e industriosas, que tenham pelo menos cinco
filhos maiores de
oito anos”. Estima-se que, em 1900, havia 1,7 milhão de crianças
com menos de
16 anos trabalhando nos Estados Unidos, mais do que a totalidade
dos membros da
AFL (American Federation of Labour), o maior sindicato do país.
Na Suécia,
podia-se empregar meninos a partir de cinco anos, procedimento
generalizado nos
países da Europa no século XIX. Os exemplos e fatos se
multiplicam e estão
documentados por inúmeros cientistas sociais, economistas e
historiadores.
A luta é
longa! Foi somente no
início do século XX que a jornada de 8 horas diárias ou 48 horas
por semana
começou a ser instituída onde, hoje, os países são
desenvolvidos.
Educação,
qualificação e tecnologia,
reunidas nas indústrias nas cidades nascentes, fizeram a
produtividade do
trabalho crescer espetacularmente. No último século, a
produtividade cresceu
enquanto a jornada de trabalho era reduzida!
Mas as
máquinas passaram a queimar
os postos de trabalho e a luta para que todos tenham emprego
ganhou vigor,
renovando ainda mais as ações pela redução da jornada de
trabalho. Trabalhar
menos para que todos tenham empregos. Trabalhar menos para
ganhar qualidade de
vida, para conviver com a família e os amigos, estudar, praticar
esportes, ver
um filme, ir ao teatro, cantar, dançar, brincar ou,
simplesmente, não fazer
nada, ganhou centralidade na vida sindical e na luta dos
trabalhadores.
O recente
ato falho do presidente da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), propondo jornada de 80
horas
semanais, em uma reunião que tratava de inovação, atropela a
história e
achincalha a utopia de uma sociedade justa. Mas, de maneira
dialética, nos faz
relembrar nossa história e nos provoca e convoca a protagonizar
novos avanços.
Inovar hoje
é promover um tipo de
dinâmica econômica na qual todos tenham empregos de qualidade e
bons salários,
para produzir o que a sociedade precisa para ter bem-estar e
qualidade de vida.
Inovar hoje
é distribuir o produto
social, promovendo igualdade de oportunidades e condições.
Inovar hoje
é reduzir a jornada de
trabalho para 40 horas.
Os
trabalhadores veem longe e lutam
sempre. Está na hora de tentar novamente!
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