Glenn Greenwald - The Intercept, Transcrito na Carta Maior.
Desde o começo, ficou evidente
que o processo de impeachment da presidente eleita, Dilma Rousseff,
tinha como objetivo principal o fortalecimento dos verdadeiros ladrões
de Brasília, permitindo assim que impeçam, obstruam e ponham fim às
investigações da Operação Lava Jato (além de imporem uma agenda neoliberal de privatizações e austeridade extrema).
Apenas 20 dias após assumir o poder, provas irrefutáveis do
envolvimento do Presidente interino Michel Temer em escândalos de
corrupção vieram à tona. Dois ministros interinos de seu gabinete composto apenas de homens brancos, incluindo o Ministro da Transparência, foram forçados a abandonar seus cargos
depois do aparecimento de gravações secretas em que conspiram visando
obstruir as investigações nas quais se encontram envolvidos, assim como
1/3 dos ministros do gabinete interino.
Mas
os alarmantes níveis de corrupção de seus ministros têm por vezes
servido para encobrir o envolvimento do próprio Temer. O interino também
se encontra envolvido em diversas investigações de corrupção. Agora condenado formalmente por violações de leis eleitorais, encontra-se por oito anos impedido de se candidatar a qualquer cargo público. Ontem, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, estado do presidente interino, publicou uma certidão formal
que o declara culpado e impedido de se candidatar a qualquer cargo
público por ter se tornado um candidato “ficha suja”. Temer foi
condenado por doações acima do limite de campanha permitido por lei.
Em
meio a intrigas, corrupção e irregularidades no governo “interino”, as
violações da lei não são a mais grave transgressão de Temer. Mas ainda
assim revelam de forma evidente a fraude antidemocrática que a elite
brasileira tenta perpetrar no país. Em nome da corrupção, a presidenta
eleita democraticamente foi afastada e substituída por alguém que,
apesar de não estar impedido por lei de assumir cargos públicos,
encontra-se por oito anos impedido de se candidatar ao cargo que exerce
no momento.
Apenas
algumas semanas atrás, o impeachment de Dilma parecia inevitável. Até
então, toda a atenção da mídia oligárquica brasileira era dirigida
exclusivamente à presidenta. Mas gradualmente as atenções se voltaram
para quem estava organizando o processo de impeachment, para quem se
fortaleceria e para seus motivos reais.
Então, tudo mudou. Agora, o impeachment de Dilma, embora ainda seja provável, não parece mais ser completamente inevitável. O Globo, informouna
semana passada que dois senadores anteriormente favoráveis ao
afastamento da presidenta, já admitem rever seus votos por conta das
gravações recentemente publicadas dos ministros de Temer. Além disso, aFolha de S.P. ontem também noticiou
que diversos senadores estudam a mudança de seus votos. É importante
observar que os meios de comunicação brasileiros pararam de publicar
pesquisas de opinião sobre a popularidade de Temer e sobre o impeachment
de Dilma.
Enquanto isso, a hostilidade a esse ataque à democracia cresce tanto no Brasil, quanto no exterior. Os protestos contra Temer têm crescido e se intensificado. Mais de vinte deputados britânicos revelaram queconsideram o impeachment um golpe. Mais de trinta deputados do Parlamento europeureivindicaram o fim das negociações comerciais com o governo “interino” brasileiro por considerá-lo ilegítimo. O grupo anticorrupção Transparência Internacional anunciou que interromperia os diálogos com o novo governoaté que a corrupção fosse eliminada dos novos ministérios. Em umareportagem sobre a demissão do Ministro da Transparência nesta semana, oNew York Times descreveu-a
como “mais uma derrota para um governo que parece se atrapalhar em
sucessivos escândalos poucas semanas depois de Temer substituir Dilma
Rousseff.”
* * * * *
Ontem, em um evento no Rio de Janeiro com David Miranda e Nathalie Drumond, fui perguntado – como sempre sou nestes eventos – sobre o possível envolvimento dos Estados Unidos na mudança do governo. Abaixo, um vídeo com 4 minutos de minha resposta:
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