Finalmente, depois
de meses de pressão desumana, gestapiana, sobre o empresário Marcelo
Odebrecht, o juiz Sérgio Moro levou-o a julgamento, condenando-o –
baseado não em provas de sua participação direta, mas na suposição
condicional de que um empresário que comanda uma holding com mais de 180
mil funcionários e que opera em mais de 20 países tem a obrigação de
saber de tudo que ocorre nas dezenas de empresas que a compõem – a 19
anos e quatro meses de prisão.
Não satisfeito com a pena, e com a
chantagem, que prossegue – já que o objetivo é quebrar o exemplo do réu
–, um dos poucos que não se dobraram à prepotência e ao arbítrio – com o
aceno ao preso da possibilidade de "fazer delação premiada a qualquer
momento", o juiz Moro, na impossibilidade de provar propinas e desvios,
ou a existência de superfaturamento da ordem dos bilhões de reais
alardeados aos quatro ventos desde o princípio dessa operação, pretende
impor ao grupo Odebrecht uma estratosférica multa "civil" que pode
chegar a R$ 7 bilhões – mais de 12 vezes o lucro da empresa em 2014 –
que, pela sua magnitude, se cobrada for, deverá levá-lo à falência, ou à
paralisação destrutiva, leia-se sucateamento, de dezenas de obras e de
projetos, a maior parte deles essenciais, estratégicos, para o futuro do
Brasil nos próximos anos.
Com a imposição dessa multa,
absolutamente desproporcional, da ordem de 30 vezes as quantias que a
sentença afirma terem sido pagas em propina pela Odebrecht, por meio de
subsidiárias situadas no exterior, a corruptos da Petrobras que já
estão, paradoxalmente, soltos, o juiz Sérgio Moro – e seus colegas do
Ministério Público de uma operação que deveria se chamar "Destrói a
Jato" – prova que não lhe importam, em nefasto efeito cascata, nem as
dezenas de milhares de empregos que ainda serão eliminados pelo grupo
Odebrecht, no Brasil e no exterior, nem a quebra de milhares de
acionistas e fornecedores do grupo, nem a paralisação das obras com que a
empresa se encontra envolvida neste momento, nem o futuro, por exemplo,
de projetos de extrema importância para a defesa nacional, como os
submarinos convencionais e o submarino nuclear brasileiro que estão
sendo fabricados pela Odebrecht em parceria com a DCNS francesa, ou o
míssil ar-ar A-Darter, que está sendo construído por sua controlada
Mectron, em conjunto com a Denel sul-africana, além de outros produtos
como softwares seguros de comunicação estratégica, radares aéreos para
os caças AMX e produtos espaciais.
Considerando-se que se trata
de uma decisão meramente punitiva, ao fazer isso o juiz Moro age, no
comando da Operação Lava Jato, como agiria o líder de uma tropa de
sabotadores estrangeiros que colocasse, diretamente, com essa sanção – e
uma tremenda carga de irresponsabilidade estratégica e social –
centenas de quilos de explosivos plásticos no casco desses submarinos,
ou nos laboratórios onde ficam os protótipos desse míssil, sem o qual
ficarão inermes os 36 aviões caça Gripen NG-BR que estão sendo
desenvolvidos pelo Brasil com a Saab sueca.
Que não tenha ele a
ilusão de que essa sua sanha destrutiva esteja agradando às centenas de
técnicos envolvidos com esses projetos, ou aos almirantes da Marinha e
brigadeiros da Aeronáutica que, depois de esperar décadas pela aprovação
desses programas, estão vendo-os sofrer a ameaça de serem destruídos
técnica e financeiramente de um dia para o outro.
Como um
inútil, estúpido, sacrifício, um absurdo e estéril tributo da Nação –
chantageada e manipulada por uma parte antinacional da mídia, que não
tem o menor compromisso com o futuro do país – a ser realizado no altar
da vaidade de quem parece pretender colocar toda a República de joelhos,
até que alguém assuma a responsabilidade de impor, com determinação,
bom senso e respeito à Lei e à Constituição Federal, limites à sua
atuação e à implacável, imparável, destruição, de alguns dos principais
projetos e empresas nacionais.
Enquanto isso, para ridículo do
país e divertimento de nossos concorrentes externos, nos congressos, nos
governos, na área de inteligência, nas forças armadas de outros países,
milhares de tupiniquins vibram, nos bares, na conversinha fiada do
escritório, nos comentários que agridem e insultam a inteligência nas
redes sociais, com a destruição de um dos principais grupos empresariais
do Brasil, deleitando-se com a perda de negócios e empregos, e com a
sabotagem e incompreensível inviabilização de algumas de nossas maiores
obras de engenharia e de defesa, mergulhados em uma orgia de
desinformação, hipocrisia, manipulação e mediocridade.
Mesmo que
Marcelo Odebrecht venha a aceitar, eventualmente, fazer um acordo de
delação premiada, nenhum jurista do mundo reconheceria, moralmente, a
sua legitimidade.
Não se pode pressionar ninguém, a fazer
acordos com a Justiça, para fazer afirmações que dependerão da produção
de provas futuras. Assim como não se pode confundir o combate à
corrupção – se houver corruptos que sejam julgados com amplo direito de
defesa e encaminhados exemplarmente à cadeia, estamos cheios de gente
com contas na Suíça solta e sem contas na Suíça atrás das grades – com a
onipotente destruição do país e de milhares de empregos e bilhões de
reais em investimentos.
A pergunta que não quer calar é a
seguinte: se a situação fosse contrária, e um juiz norte-americano
formado no Brasil e "treinado" por autoridades brasileiras, a quem
propôs, por mais de uma vez, sua "cooperação", estivesse processando um
almirante envolvido com o programa nuclear norte-americano, e influindo
no destino de todo um programa de submarinos, da construção de um novo
submarino atômico, e do desenvolvimento de um míssil ar-ar para a US Air
Force, a ponto de a empresa norte-americana responsável por ele ter de
ser provavelmente vendida a estrangeiros, ele teria chegado, à posição
em que chegou, em nosso país, o juiz Sérgio Moro?
Ou já não
teria sido denunciado por pelo menos parte da imprensa dos Estados
Unidos, e chamado à razão, em nome da segurança e dos interesses
nacionais, por autoridades – especialmente as judiciais – dos Estados
Unidos? O único consolo que resta, nesta nação tomada pela loucura –
lembramos por meio destas palavras, que quem sabe venham a ser
transportadas, em bits, para o amanhã – é que, sob o olhar do tempo, que
para todos passará, inexorável, a História, magistrada definitiva e
atenciosa, criteriosa e implacável, vigia, registra e julga.
E cobrará caro no futuro.
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