sexta-feira, 15 de abril de 2016

Estaremos diante da era Cunha?

Por Flavio Aguiar, na Rede Brasil Atual. Transcrito do blog do Miro
Estamos correndo o risco de ter, em vez de a era FHC ou da era Lula, a era Cunha no Brasil.

Chamar um futuro "governo Temer" com este nome é uma piada.

Em primeiro lugar, porque se o golpe triunfar - e é bom lembrar que para isto não basta ganhar na Câmara no domingo, tem que ganhar depois em duas votações no Senado também e talvez em uma no STF, no meio do caminho - a direita vai partir para o massacre. Massacre de quem e do quê? Da esquerda, e de todos os programas sociais que puseram o Brasil num novo patamar histórico nos últimos anos.

Vai haver a tentativa de fazer o país regredir aos tempos da República Velha, quando a questão social era questão de polícia. Até aí, inclusive, não haveria surpresas, uma vez que a República Velha, quando a política pairava acima das massas e os candidatos à presidência lançavam seu programa em recinto fechado ao povo, sempre foi o ideal de FHC e de boa parte do PSDB.

O aspecto "novo" – que na verdade não tem nada de novo – será o de que este conluio da direita introduzirá o país numa era de corrupção desenfreada. Num artigo ("Dilma versus Temer, a origem") publicado no Jornal GGN, do Luis Nassif, Sergio Medeiros mostra que a desavença entre Cunha e Dilma começou quatro anos atrás, quando esta teve a coragem de começar a limpeza na diretoria de Furnas e também na Petrobras, livrando-as do aparelhamento partidário.

Gente ligada a Cunha foi defenestrada, o que o deixou insatisfeito e açulou seu espírito vingativo. A partir daí foi uma questão de tempo e de oportunidade, que veio com a ameaça de cassação – até prisão – de Cunha a partir da decisão do Conselho de Ética. Se Cunha for cassado, ele perde qualquer foro privilegiado.

Acreditar que Temer, se chegar à presidência, vai destituir o general que, comandando a tropa mais sem vergonha na cara que já pisou no Congresso Nacional – pelo menos desde aquela que declarou a presidência "vaga" em abril de 1964 – abriu o caminho para sua ascensão.

O mais certo é que haja algum acordo para que Cunha se safe. Mas Cunha não é alguém que vai se satisfazer com um mero "se safar". Para ele é indispensável continuar na cabeça do império que montou no Congresso e arredores. A turma que navega com ele vai exigir também o pagamento de sua "lealdade" em comissões, prebendas e sinecuras.

Ou seja, ao contrário do que prega a mídia e o empresariado golpistas e a parte babaca da classe média engole, a eventual queda da presidenta corajosa que combateu a corrupção vai abrir a porteira para a camarilha se locupletar como nunca se viu.

Estará, assim, inaugurada a era Cunha.

Outras consequências virão: uma repressão digna dos tempos da ditadura para conter e desarticular os movimentos sociais; uma perseguição implacável da esquerda, nas ruas, pela horda que incensa o Bolsonaro, e nos tribunais, pela caterva que incensa o juiz Moro; o saque do pré-sal e dos fundos públicos destinados à saúde e educação; o esbulho dos direitos trabalhistas, sob a égide uma "passagem para o futuro".

Um neo-obscurantismo tomará conta das asnos governamentais no campo da cultura. E para completar, periga terminarmos com Janaína Paschoal no Supremo.

Diante de um quadro destes, só restaria, além de uma resistência encarniçada, algo como pedir asilo ao Vaticano, onde há um governo progressista que está, também, combatendo a corrupção.

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