domingo, 10 de abril de 2016

A proteção dos salários é a melhor saída para a crise



                                                   
 *José Álvaro de Lima Cardoso
         A economia brasileira atravessa uma quadra bastante difícil, conforme indicam a maioria dos dados econômicos. O Produto Interno Bruto (PIB) teve retração de 3,8% em 2015 na comparação com o ano anterior e os investimentos reduziram-se em 14,1%. Segundo a Pesquisa Industrial Mensal, do IBGE, a produção industrial brasileira caiu 8,3% em 2015, voltando ao nível da produção de janeiro de 2009, em plena fase aguda da crise internacional; as vendas no varejo ampliado (que inclui comércio de automotores e material de construção) encolheram 8,6%; o volume de serviços diminuiu 3,6%; o DIEESE apontou alta da taxa de desemprego nas regiões metropolitanas pesquisadas, tanto no indicador de dezembro de 2015 em relação ao de 2014 quanto na comparação das médias dos anos. Além disso, a inflação anual acelerou: o INPC, que capta a inflação de famílias de renda menor é referência para as negociações coletivas, variou 11,28% (contra 6,23% em 2014).
        Este quadro negativo da economia afetou, como esperado, a arrecadação pública. Todos os entes públicos (da união aos municípios) viram sua arrecadação de impostos desacelerar e, em muitos casos, reduzir em termos reais. Em um processo recessivo como o atual, no qual a produção de riqueza geral encolhe, há uma perda de renda generalizada na sociedade. Porém, os prejuízos não são equânimes. Frente a um processo recessivo (no caso brasileiro, somado à inflação alta), os trabalhadores, que só tem a sua força de trabalho para vender, são sempre os maiores prejudicados.
        Na atual conjuntura brasileira tudo que é público, e representa algum benefício social, está sob ameaça. Com a recessão ficou mais difícil destinar uma fração desse montante aos trabalhadores e mais pobres sem afetar o lucro dos colocados no topo da pirâmide social. A orientação dos “de cima” é transferir os prejuízos para os “de baixo”, acabando com programas sociais, diminuindo salários, reduzindo benefícios da Previdência Social e liquidando direitos trabalhistas, duramente conquistados ao longo de décadas.
        Neste quadro o que se observa nos principais municípios catarinenses é uma piora significativa da arrecadação nos últimos tempos e, por consequência, uma redução da capacidade destes entes públicos reajustarem os salários dos trabalhadores, assim como honrarem os demais encargos decorrentes de conquistas históricas dos servidores, como plano de cargos e salários, fundamentais para a valorização do servidor. Em decorrência, estamos assistindo a processos de negociação bastante mais duros e difíceis em relação aos observados nos últimos anos. Com o cobertor da arrecadação mais curto, os prefeitos tentam cristalizar perdas salariais, verificadas especialmente no último ano, em que a inflação acumula 10% ou mais, dependendo da data-base.  
        Apesar das dificuldades, é fundamental considerar que os trabalhadores municipais, em sua maioria, estão reivindicando basicamente a inflação verificada em 12 meses, pleito absolutamente justo, visto que os salários já foram corroídos pela alta de preços. Os servidores estão reivindicando a recomposição de poder de compra de seus salários para voltar a adquirir a mesma quantidade de pão, leite, o feijão e o arroz, que compravam há um ano atrás. A esmagadora maioria dos servidores de carreira não recebe salários altos, na média os salários são bastante modestos.
        A reposição salarial dos servidores, além de garantir o indispensável atendimento das necessidades básicas dos trabalhadores e suas famílias, é vital também para a movimentação da economia e da própria arrecadação municipal. Uma parte da massa salarial paga aos servidores retorna aos cofres dos municípios na forma de arrecadação de impostos. Neste momento em que a inflação se encontra em patamar elevado (ainda que em queda gradativa), e o crescimento é baixo, nada é tão fundamental quanto garantir o poder de compra dos salários, inclusive como política de preparação para a retomada do crescimento em 2017.
                      *Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.

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