domingo, 6 de março de 2016

Globo e Moro não desistirão do golpe

Por Flavio Aguiar, da Cidade México, na Rede Brasil Atual. Transcrito do Blog do Miro.
 
Interrompo momentaneamente minhas séries de outros comentários, diante da estripulia que foi a operação de 4 de março contra o ex-presidente Lula, seus familiares e auxiliares. Dá para perceber um roteiro na ação projetada e em sua falha.

O roteiro começa, a longo prazo, com aquilo que Eric Nepomuceno definiu muito bem: já temos o criminoso, agora precisamos encontrar o crime, coisa que cabe muito bem nas tradições inquisitórias, nazistas, estalinistas, macartistas, pinochetistas etc.

Mas teve condimentos adicionados recentemente.

Primeiro, a ameaça representada pelo pedido de Lula para que o STF se pronuncie sobre o primado de jurisprudência nas acusações que lhe são feitas. O juiz Moro e a corte de procuradores e policiais federais que o acompanham sentiram acender a luz amarela: tudo pode escapar de nossas mãos… É preciso agir rápido para garantir as manchetes e o noticiário, de que fomos nós que “prendemos” Lula.

Segundo, a mudança no Ministério da Justiça. Isso poderia significar o fim da impunidade garantida pela inação (para mim inexplicável) do ex-ministro José Eduardo Cardozo, talvez a substituição do comando da PF… sabe-se lá. O mandado de segurança impetrado pelo DEM contra a nomeação do novo ministro enquadra-se nesta alínea da conspirata.

A partir daí, os acontecimentos, ou melhor, seus agentes, se precipitaram. A volúpia de ter o comando da ação que, a serviço dos interesses que exigem a neutralização de Lula não só em 2018, mas para sempre, e sobretudo do seu passado de melhor presidente do Brasil, tomou conta de seus protagonistas.

O juiz Moro autorizou uma ação da PF. Os agentes da PF optaram pela “condução coercitiva”, ou seja lá que nome se dê. No bom tempo era “voz de prisão”. Montaram o espetáculo megalomaníaco: 200 agentes, detenções (este é o nome) simultâneas, invasões de domicílio (ilegais, porque não autorizadas pelo juiz, ou, quem sabe, ele recuou depois), espetáculo faraônico, e conduziram o ex-presidente para Congonhas.

Estranho, não? Congonhas? A PF tem sede em São Paulo. Que eu saiba, não fica em Congonhas. Houve aí um duplo objetivo: primeiro, como Congonhas é um ambiente dominado por “coxinhas” e “coches”, é um ambiente propício a cenas constrangedoras contra o ex-presidente, como aconteceram. Segundo, se tudo corresse como previsto, o ex-presidente tomaria o avião, preso, para a República de Curitiba, sob aplauso da caterva, ou melhor, da manada do coxinhas lá presentes. Um sucesso midiático!

Fora das quatro linhas, na arquibancada, o senador Aécio Neves – um Eduardo Gomes dos anos 50, mas desfibrado – e Eliane Cantanhêde – uma candidata a Lacerda, mas descorada – comemoravam o fim de Lula e do PT.

Mas…

Faltou combinar com o resto do país. O PT e adjacências andam meio adormecidos, mas o povo pró-Lula acordou. Acorreu ao aeroporto de Congonhas. Um amigo meu me escreveu, lembrando o brado coxinha de antanho: “Ficou parecendo uma rodoviária...” Reações na mídia se multiplicaram, inclusive de tucanos sérios e respeitáveis, como José Gregori, denunciando a arbitrariedade da situação. O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, condenou a ação de Moro. Governadores se pronunciaram. Manifestações se programaram. Haveria confrontos.

Enfim, o esquema recuou. Não deu certo, pelo menos desta vez.

Lula saiu reforçado do evento, inclusive por seu magistral depoimento transmitido ao vivo. A Globo, Moro, esses membros da PF foram derrotados. Desta vez. Não vão desistir.

Uma das hipóteses é que isso tenha sido um balão de ensaio. Como a primeira tentativa de golpe no Chile, em 1973. Para observar a reação das forças legalistas. Pode ser.

Mas há duas coisas certas: eles vão tentar de novo; e não contavam com a pronta reação que houve.

Que fazer?

Manter a calma. Não desembarcar da luta. Não cair em provocações. Manter uma enorme quantidade de informação circulando, fora das linhas da velha mídia inteiramente comprometida com o golpe. Deixar de lado quezílias e manter firme a defesa das liberdades democráticas e da legitimidade constitucional.

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